Junk of the Heart

Arriba, Abajo, Al centro y Adentro

Notas Iniciais

Oien

Nesse capítulo tem uma música. Para quem quiser ouvi-la durante a cena, aqui está o link:
https://www.youtube.com/watch?v=bpOSxM0rNPM

*

Abri o armário e comecei a olhar as possibilidades. Para variar, eu já estava atrasado. Meu cabelo que estava um pouco abaixo dos ombros ainda pingava e eu olhava o armário e tudo o que eu via era um grande mar de nada. Mandei algumas fotos para Mila e esperei a resposta enquanto olhava pela janela.

O meu quarto era praticamente de frente para o do Otabek e me surpreendi um pouco quando ele passou, também recém-saído do banho, com a toalha amarrada na cintura e os cabelos desgrenhados. Ele podia ser um babaca, mas que era um babaca extremamente gostoso eu não tinha dúvidas. Os ombros largos, as costas definidas, o vão no quadril... Eu juro que adoraria passar a minha língua por ali se ele não fosse o Otabek.

Perdi tantos segundos observando meu vizinho, que entrei em caos quando percebi que ele estava me encarando com uma expressão curiosa no rosto. Eu comecei a corar e virei de costas na cadeira giratória abruptamente. Eu juro que consegui ouvi-lo gargalhar do quarto dele. Virei de frente, ele ainda olhava. Escrevi numa folha de papel em letras garrafais "Vai se foder, otário :D ". Olhei pra ele, que ainda estava na minha direção, sorri amigavelmente e mostrei o bilhete enquanto acenava. A expressão de Otabek se fechou. Ele deu de ombros e eu fechei a cortina e chequei o celular.

Mila sugeriu a minha calça vinho justa, uma camiseta preta com detalhe de tigre na gola e os coturnos que eu praticamente não tirava dos pés. Vesti rapidamente, passei o perfume, o lápis preto e a Mila chegou. Dei um beijo da minha mãe que me pediu pra não beber muito.

O celular não parava de apitar com as mensagens de Pitchit. Era alguma espécie de encontro anual de youtubers e blogueiros que ele estava acompanhando de casa e achava que aquilo poderia dar um significado novo às nossas vidas. O coloquei no silencioso e entramos no bar. Mila estava maravilhosa com um short preto, uma camisa transparente preta, com sutiã de renda por baixo. Eu não sei quais eram as verdadeiras intenções dela, mas ela também estava atrás de alguém aquela noite e não me contou quem era.

Chegamos e o pub estava razoavelmente ocupado. O lugar era bem espaçoso, com piso de madeira e paredes escuras. Os shows de rock de vários gêneros eram comuns e por isso eles mantinham um palco montado, onde os frequentadores ficavam amontoados ao redor na expectativa de uma experiência musical nova ou de reviver momentos nas noites de cover. O palco ficava do sentido oposto ao bar.

Assim que entramos, procurei por JJ, que já estava em seu posto, jogando as garrafas para o alto enquanto conversava animadamente com Otabek, que em breve deveria começar a tocar. Mila fez uma careta pra mim, debochando da situação e sentamos numa mesinha. Pedimos duas doses de tequila e duas cuba libres. A noite ia ser quente.

- Preparado? - Perguntou Mila quando a tequila chegou. Acenei com a cabeça, coloquei o sal na mão e bradamos juntos:

- Arriba, abajo, al centro y adentro!

A tequila desceu queimando. Coloquei o limão na boca com vontade pra evitar aquela sensação. Mila sorria e tinha o olhar atento no arredor. Bebi um gole da cuba libre.

- Quando você vai me contar quem você veio encontrar ?

- Yuri, cê ta viajando... Não vim encontrar nenhum homem não! Você sabe que eu não minto pra você...

- É uma mulher então? Quem? Você já viu como você está hoje? Mila não me enrola...

- O nome dela é Sala. A gente se conheceu em um grupo sobre porquinhos da índia no facebook, e ela disse que vinha aqui hoje.