Meu coração deixou de ser trouxa e foi ser mala
Mas daí, ninguém quis carregá-lo
Então, decidi que deixaria essa categoria
E na correria, o tornaria uma porteira
Só para mantê-lo fechado e longe de tudo que poderia feri-lo ou passá-lo.
Mas confesso que fiquei com medo de ficar tão ignorante quanto.
Decidi então que ele seria qualquer trem
Mas para eles, trem era tanta coisa
que perdido no meio de muitos
Acabei me sentindo só
Desisti e tornei meu coração uma bela nota dó
Mas ninguém soube se afinar em mim
Assim, abandonei essa classificação
E deixei que meu coração se tornasse um livro
Cheio de poemas escritos
Com palavras de amor e carinho
Mas todos quem dele liam
Não sabiam apreciar
Ainda por cima,
Insistiam em arrancar
bruscamente as folhas que falavam sobre nós
Cansado, decidi deixar meu coração ser um nó
Bem apertado
Para ninguém conseguir desamarrar
Foi então que percebi
Que as cordas estavam me sufocando
E eu precisei afrouxar
E para libertar meu coração
Deixei-o ser ar
Para que as pessoas pudessem dele respirar
Mas acabaram respirando tanto
Que me deixaram sem ar.
E cansado de tentar agradar,
desisti.
E fui procurar outra definição para o meu coração
E acabei decidindo que o deixara simplesmente ser
Ser no infinitivo
Sem tempo, sem flexão
Apenas um verbo, agindo na sua essencial
forma de existir, acima de tudo,
para ele mesmo.
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Para todos os nossos sempres
PoesíaQue todos os Para Sempre, sejam bons enquanto durar.