Contra Os Monstros da Vizinhança

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O Leão de Neméia
A Hidra de Lerna
O Javali de Erimanto

Para começar, o rei o mandou à Neméia, uma região vizinha de Tirinto, havia ali, dizia-se, um leão sanguinário que devastava o lugar, massacrando os homens e dizimando os rebanhos. Ninguém ousava enfrentá-lo. Quando Héracles se dirigia para o covil da fera, teve a idéia de se munir de uma nova arma para combatê-la, seu primo o prevenira contra a espessura excepcional da pele do bicho: nenhuma arma podia furá-la. Avistando no caminho um tronco de madeira densa, o herói o usou para fazer uma maça tão grande e tão larga que só ele era capaz de Manejá-la.

Subia uma encosta rochosa quando um terrível rugido ecoou ali perto. O chão estremeceu, e subitamente um enorme leão surgiu entre os Rochedos.

Héracles armou o arco e atirou uma flecha que teria varado uma árvore... Mas, no couro espesso da fera, a flecha apenas ricocheteou. Quando o leão chegou junto dele, o herói puxou a espada. A lâmina escorregou como se a pele do bicho fosse uma pedra e mal o arranhou. Só restava a maça. Héracles quase não teve tempo de agarrá-la com ambas as mãos para vibrar um golpe formidável no monstro, que pulava de novo em cima dele. O animal vacilou e voltou para seu covil.

O herói não lhe deu oportunidade para se recuperar. Decidido a matá-lo com as próprias mãos, penetrou no antro escuro em busca do bicho. Sentiu de repente o hálito a fera muito perto dele. Pulou e lhe prendeu o pescoço com seu braço vigoroso. O leão se debatia violentamente, mas Héracles não o largava. Um derradeiro sobressalto, um derradeiro estalo das mandíbulas, depois mais nada, o monstro morrera estrangulado.

Héracles tratou então de arrancar a pele do animal para levá-la como troféu, procurava um jeito de
cortá-la, quando lhe ocorreu que poderia usar para isso uma das
garras do próprio animal, com essa ferramenta, conseguiu esfolá-lo. Terminado o trabalho, cobriu-se com a pele do leão, cujas patas lhe pendiam sobre o peito.

Logo que voltou a Tirinto para anunciar o êxito na primeira prova, foi mandado para Lerna, não longe dali. Informado de que um bicho horrendo espalhava o pânico nos
arredores, Euristeu pediu a Héracles que o livrasse da fera.

Próximo a um pântano sinistro, a Deusa Hera havia criado um monstro de aspecto repugnante para testar a bravura de Héracles. A criatura tinha corpo de serpente e nove

cabeças aterrorizantes. Cada uma das suas bocas espumosas exalava, entre dentes enormes, um hálito mortal para quem o respirasse.
A Hidra - assim se chamava o

monstro - rastejava sorrateiramente entre os caniços e moia o corpo das vítimas com seu abraço fatídico.

Acompanhado do sobrinho Iolau, Héracles foi de carruagem para o local onde o horrível ser costumava atacar. Quando se aproximaram, os dois viram os caniços se agitarem... De repente, um assobio agudo cortou o ar fétido. Nove cabeças se ergueram acima do pântano, lançando um olhar feroz para os dois homens. Atravessando as águas lodosas, o monstro ia direto para cima deles. Héracles pulou fora do carro e mandou o sobrinho ficar longe.

Enfrentou o bicho, empunhando a espada com o braço esticado para alcançar as cabeças. Cortou uma, depois outra, e ambas caíram pesadamente perto dele. Mas mal cortava uma, crescia outra no pescoço sangrento. Ele se perguntava como conseguiria aniquilar aquele monstro imortal.

Quando começava a se cansar de tanto cortar cabeças, pediu ajuda a Iolau. Seu sobrinho ateou fogo nas árvores de uma floresta vizinha. Héracles cortava, e em seguida

Iolau aplicava os galhos calcinados nos cortes para cauterizá-los.

A carne queimada se fechava, impedindo o nascimento de outra cabeça. Mas a última, a do meio, era imortal. Mesmo depois de ser cortada e cair no chão, continuava perigosa. Héracles a enterrou bem fundo e rolou um rochedo colossal para cima do buraco. Após isso, os dois subiram no carro e saíram a toda daquele pântano infecto. Só reduziram a velocidade nos arredores de Tirinto, para entrar na cidade como Vencedores.

A valentia de Héracles impressionou Euristeu. No entanto, ele recebeu o herói com frieza.

"Pois bem, você venceu as duas primeiras provas. Mas isso é só o começo, porque outros trabalhos mais difíceis o esperam. Não há tempo a perder! Um javali enorme se refugiou no monte Erimanto.
Vá tirá-lo de lá e o traga vivo!"

A caminho, Héracles se perguntava como iria fazer para neutralizar o javali sem matá-lo, os aldeões o tinham avisado: as defesas dele eram tão afiadas, que podiam lhe arrancar o braço com uma só dentada. Não correria o risco de ser estripado se tentasse dominá-lo como ao leão de Neméia?

Enquanto procurava um modo de surpreendê-lo, descobriu as primeiras pegadas do bicho à margem de um riacho. Seu peso devia ser considerável, porque os cascos tinham penetrado profundamente na lama. Observando os arredores, viu outros sinais da

passagem recente do animal.
Os troncos das árvores estavam lacerados por suas temíveis defesas. Atento aos menores indícios, o herói continuou caminhando, até o momento em que as pegadas cessaram, à beira de um campo coberto de neve. O javali tomara o

cuidado de não se aventurar por ali, temendo não conseguir sair.

Um grunhido surdo se fez ouvir atrás de um rochedo. Com infinitas precauções, como um caçador de tocaia, o herói contornou a pedra. Escondido debaixo das samambaias, avistou a alguns metros a massa sombria. Havia encontrado o bicho, mas este parecia não ter percebido sua presença. Aproveitando o efeito surpresa, Héracles surgiu das folhagens dando gritos formidáveis e agitando as armas. O javali saiu em

disparada e se precipitou na neve espessa. Alguns metros bastaram para cansá-lo; a neve logo chegou à altura do seu pescoço, e ele ficou imóvel. Héracles não teve a menor

dificuldade para se aproximar. Amarrou-o, botou-o nos ombros e voltou para Tirinto.

Ao vê-lo chegar, Euristeu, assustado, pulou dentro de um grande vaso, que era mantido perto do seu trono para que ele se escondesse em caso de perigo. Tinha tanto medo do animal como do herói, cuja força derrotava os piores monstros. Preferiu então
afastá-lo por algum tempo e o mandou atrás da corça de Cerínia.

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