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- Ramona, o que você tá fazendo? Você não está escutando o que eu tô falando! - minha mãe reclamou, enquanto eu escrevia em meu caderno a minha rotina diária pra que eu pudesse seguir à risca.

- Foi mal, mãe - suspirei e fechei o caderno, olhando pra ela. - O que foi?

- Ouviu que eu vou passar o final de semana fora? Trabalhando? - ela perguntou com a sobrancelha arqueada.

Pra ser sincera, não ouvi nada do que ela tinha dito porque precisava me concentrar na minha rotina. Preciso anotar tudo, sem esquecer nenhum detalhe, se não... bem, as coisas ficam feias.

- Claro, mãe. E o que tem? - perguntei, dando um sorrisinho.

Ela revirou os olhos e minha irmã deu uma risada, do outro lado da mesa.

- Vamos ficar sozinhas, idiota! Afinal, mãe, como é que vamos comer? - Alexa quis saber.

- Bom, eu não me importo, enquanto tiver macarrão instantâneo, podemos viver. - falei, dando de ombros.

- Vocês podem aprender a cozinhar, quero dizer, Alexa você pode. Ramona pode queimar a casa inteira. - minha mãe disse.

- Ah, então você se preocupa com a casa mas não com a minha integridade física? - questionei, dramaticamente. - Super mãe!

Ela riu, revirando os olhos e começou com o discurso de que tínhamos de cuidar uma da outra, ter cuidado e etc... tudo o que eu já sei.

Minha irmã é só dois anos mais nova que eu e somos o oposto uma da outra. Ela também tem seus problemas, mas é muito mais forte que eu... ela já passou por mais coisa do que eu e sei que ela tá tentando ficar bem com todas as forças e às vezes, gostaria de encarar as coisas como ela encara.

Ela parecia animada para o tempo que íamos passar sozinhas, mas conhecendo Alexa como conheço, ela não está empolgada para passar três dias sozinha comigo, ela está pensando em alguma coisa.

- Entenderam? É importante que essa casa e vocês estejam inteiras quando eu voltar. - mamãe disse.

- Mãe, relaxa, vai dar tudo certo! Ramona e eu não temos muito o que fazer... vai ficar tudo bem. - Alexa sorriu.

- É, acho que vai. O máximo de loucura que vou fazer é dormir dois dias seguidos, mãe, nada a se preocupar. - falei e mamãe deu de ombros, já que não me leva a sério mesmo.

- Ok, vocês precisam ir pra escola. - ela disse e eu e Alexa nos levantamos. - Boa aula, meninas, amo vocês.

- Valeu. Te amo. - Alexa deu um abraço rápido nela e saiu correndo pela porta.

- Posso ficar em casa hoje? - aproveitei que estávamos sozinhas. - Por favor! Não tem nada de importante hoje.

- Ramona, é o seu último ano! Você precisa se esforçar e dar exemplo à sua irmã, - revirei os olhos assim que ela disse isso. Como se Alexa precisasse de um exemplo. - E não faça essa cara!

- Tá, tchau, te amo! - falei e fui embora, chateada.

Ir pra escola se tornou uma das coisas mais difíceis que preciso fazer nos últimos anos e eu amava estar em um ambiente cheio de pessoas da minha idade antigamente. Hoje em dia é torturante.

Acho que com o passar do tempo, sempre fui crescendo mais do que devia. Com 10 anos, eu sentia que tinha 15 e agora, não sei, talvez 30 anos? Não sei, mas estar rodeada de adolescentes da minha idade me deixa apavorada. Acho que a adolescência é a fase mais cruel da vida de um ser humano, principalmente se você for uma garota. São tantas cobranças, expectativas e hormônios... é difícil. E eu não consigo interagir com as pessoas muito bem porque não sinto como se fizesse parte daquilo, sabe?  Sou diferente e muitas vezes, o diferente é estranho pras pessoas e eu não quero mudar, mas também odeio desagradar as pessoas.

Quero muito agradar todo mundo, mas não quero ter de mudar o que eu sou, sabe? Eu ainda nem sei o que eu sou direito...

Mas, como nem sempre tudo é tão ruim, conheço pessoas que me entendem.

Grace, Steve e Oliver são as melhores pessoas que conheço, provavelmente, é tudo muito simples e bom quando eu tô com eles. São pessoas que me entendem e sabe, me aceitam. É claro que eles também tem os problemas deles e tudo o mais, mas temos uns aos outros e eu acho que é o que importa.

- Olha só se não é o amor da minha vida por aqui! - Steve disse, sorrindo assim que me viu entrar na escola e me deu um abraço.

- Oi, Steve. - dei uma risadinha. - O que eu perdi?

- Não muita coisa, - ele deu de ombros. - Só estou surpreso que você chegou cedo.

Antes que eu pudesse responder, meu amigo, Oliver, chegou com uma cara de que não tinha dormido muito bem.

- Ok, agora eu tô chocada, - dei uma risadinha e abracei Oliver rapidamente. - Nem acredito que você tá aqui mais cedo!

- Garota, por favor, - Oliver suspirou, massageando as têmporas. - Passei a noite acordado assistindo os filmes que faltavam na minha lista e eu tô acabado. Será que vai ter problema se eu dormir na aula de matemática?

Antes que qualquer um de nós pudesse responder, o sinal tocou e eu dei de ombros.

- Vamos descobrir agora. - falei.

Oliver praguejou um pouquinho, enquanto Steve contava uma piadinha pra tentar animá-lo.

Nos sentamos no fundo da sala e logo Grace chegou, se unindo à nós. Ela parecia exausta também, mas acho que o último ano do ensino médio faz isso com as pessoas. Umas disfarçam melhor que as outras.

O professor chegou e tinha um sorrisinho no rosto, logo vi que coisa boa não viria dali. Suspirei e meus amigos fizeram um mesmo, murmurando entre si "forças ícone" aleatoriamente.

Então, um garoto entrou logo atrás do professor e não parecia muito feliz por estar ali, mas posso afirmar que ninguém fica feliz nas segundas-feiras por aqui. Era um garoto novo, sabia disso porque eu nunca tinha o visto antes. Usava roupas escuras e tudo nele era escuro, me lembrava os contos do Edgar Allan Poe. Olhos, cabelo... tudo muito escuro.

- Olha só, Ramona, um irmão gêmeo... - Oliver sussurrou pra mim e eu revirei os olhos.

- Calado. - o belisquei rapidamente e ele riu.

- Bom dia, alunos. - o professor sorriu e todos murmuraram um bom dia desanimado, exceto por mim. Eu nem me dou ao trabalho. - Esse aqui é Apollo, ele veio de outra escola por... - o professor lançou um olhar pro garoto, que revirou os olhos. - Por problemas acadêmicos e será muito bem vindo à nossa escola, certo? Certo. Pode se sentar, Apollo.

Sem olhar para ninguém na turma, Apollo se sentou à minha frente.

Olhei pra Oliver, que sibilou um silencioso: bonitinho, mas estou com medo.

Dei uma risadinha e tentei prestar atenção na aula, mas fiquei pensando em muitas coisas, entre elas, o garoto novo.

O nome dele é Apollo, o nome do deus do sol, na mitologia grega, mas olhando para Apollo agora, enquanto pude ter visão de que ele rabiscava desenhos estranhos no caderno, eu soube que ele não tinha nada a ver com o sol. Completamente o oposto.

E como sempre, quando você não conhece algo, isso o deixa curioso. E foi o que aconteceu.

Apollo me deixou curiosa.

sorry.Onde histórias criam vida. Descubra agora