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- Como você faz isso? - perguntei, enquanto Apollo sorria e se gabava. Ele acabava de jogar pedras no lago, que quicaram várias vezes. Todas as pedras que eu tentei jogar afundaram.

- É um dom. - Apollo respondeu, dando um sorriso e se sentando perto de mim. - Que você claramente não possui.

- Não acho que seja um dom útil, então não estou magoada. - dei de ombros e Apollo riu. - Um dom útil de verdade é saber a verdade sem que elas precisem ser ditas.

- Então você aprendeu a ser enigmática. - Apollo disse e eu sorri.

- Tenho tido aulas com um professor muito bom. - falei e Apollo sorriu. - E não é enigma, eu realmente acho que esse é um dom verdadeiramente útil.

- Então, me diga, Ramones, - Apollo arqueou a sobrancelha. - Qual é a minha verdade que você decifrou com apenas um olhar?

- Eu não disse que tinha esse dom. - eu o olhei e dei um sorriso. - Mas, de todas as pessoas, sinto que você é o mais misterioso.

- Eu? Jura? - ele falou, usando um tom cínico e eu ri.

- É, - dei uma risada. - Você deve guardar coisas dentro do seu coração que só você sabe.

Apollo deu um suspiro e eu o olhei. Algo tinha mudado no semblante dele, como se ele estivesse cansado de fingir.

- Você tem razão, - Apollo se levantou. - Eu não sou o que você acha que eu sou, você não me conhece.

Me levantei em um salto e o segui. Ele parou na beira do lago e tinha algumas pedras na mão.

- O que eu penso não importa, Apollo. Vou gostar de você de qualquer forma. - falei.

Apollo olhou pra mim e eu olhei de volta.

- Não sou o que você pensa que eu sou também, Apollo. - falei.

- Tem razão. Você é mais do que eu penso, Ramona e não acho que exista um adjetivo próprio pra te descrever. - Apollo disse e eu olhei para o outro lado, para que ele não me visse corando. - E é uma pena que você não possa enxergar isso.

Não quis deixar transparecer que o que ele disse tinha um efeito maior em mim, então apenas dei de ombros e disse:

- Não creio que isso seja possível.

Apollo deve ter percebido, porque sorriu outra vez.

- É o que vamos ver. - ele respondeu.

Revirei os olhos, sorrindo.

- Não acredito em você. - falei.

- Não controlo suas crenças, Ramona. - ele deu de ombros e se aproximou. Eu me afastei instintivamente e ele riu.

Revirei os olhos outra vez.

- Não pode me dizer essas coisas depois de afirmar que não nos conhecemos, Apollo. - falei.

- Você quer me conhecer? - ele perguntou e eu assenti. - Entre no carro.

Eu obedeci.

Apollo dirigiu para o centro da cidade, o que me deixou confusa. O que o centro histórico teria a ver com ele?

- A menos que tenha fundado a cidade, não entendo porque me trouxe aqui. — falei e Apollo deu uma risada.

— Não diria que eu sou tão importante assim, Ramones. — ele disse e nós saímos do carro. — Mas você tá vendo aquela casa no final da rua?

Assenti. Ele apontava pra uma casa pequena, pintada de branca e os portões eram pretos, não parecia ser capaz de abrigar mais que três pessoas.

— Morei ali a minha vida inteira. Minha mãe trabalhava aqui perto, ela era garçonete em um bar e conheceu o meu pai lá. Eles namoraram e eu nasci, mas meu pai não queria uma família, então ele se mandou, — ele encostou no capô do carro, sem expressão nenhuma no rosto. — Minha mãe me criou sozinha e como teve o coração partido pelo meu pai, sempre teve vários namorados até conhecer John, o meu padrasto. Esse cara mudou a minha mãe, Ramona, você não tem ideia. — Apollo olhou pra baixo, suspirando. — Minha mãe passou a ser mais quieta, ele dava medo nela. Se ela não fizesse o que ele queria, ele surtava e eles brigavam. Ele começou a bater na minha mãe quando eu tinha 10 anos. Ela nunca deixou ele, nem mesmo quando nos mudamos pra outro bairro e ela perdeu o emprego.

— Eu sinto muito, Apollo. — coloquei a mão em seu braço e ele assentiu. — Mas essa não é a sua história.

— O que você quer dizer com isso? — ele franziu o cenho.

— Não é o que você, é, Apollo. Pode ter influenciado o jeito fechado que você tem, mas eu sei que você não é isso. — eu disse.

— Estou começando a achar que não entendo você. — ele deu uma risadinha.

— Tá tudo bem, nem eu me entendo, às vezes. Mas o que quero dizer é que você não é o que aconteceu com você. — falei.

Apollo sorriu e eu não entendi o porquê, mas não tinha problema. Gostava de quando ele sorria, porque quase nunca acontecia.

Oliver disse para mim que Apollo vive de cara feia, mas isso muda quando eu estou por perto. Eu respondi que Oliver estava imaginando coisa, mas agora a ideia não me parecia tão louca assim.

— Eu não sou bom, Ramona, já fiz coisas muito ruins. Por que você ainda está aqui? — ele perguntou.

Nunca vi Apollo desse jeito. Vulnerável. Ele estava se abrindo comigo, e eu decidi que deveria ser honesta com ele também.

— Porque não existe alguém que seja 100% maldade, Apollo, — dei um sorriso. — Você acha que eu sou boa? Ninguém é perfeito, Apollo, mas a gente pode escolher ser diferente.

Apollo sorriu para mim e se aproximou. Naquele momento, senti meu coração acelerar e minhas bochechas esquentarem.

Tentei fazer com que o meu corpo reagisse de outra forma, mas não fazia diferença nenhuma. Parecia que eu tinha perdido todo o controle. Apesar de estar nervosa, eu queria que ele se aproximasse ainda mais.

Apollo, então, fez algo que me surpreendeu ainda mais. Ele me beijou.

Era a primeira vez que alguém me beijava de verdade, então eu entrei em pânico. Não sabia o que fazer, mas decidi que corresponder o beijo era um começo.

Apollo parecia entender o meu nervosismo, porque o beijo foi delicado. Nada do que vemos em filmes, mas ainda assim, foi bom. Eu estava nas nuvens.

Apollo separou o beijo e deu um sorriso.

— Desculpa. — ele disse.

— Desculpa? Apollo, por favor. — eu ri, escondendo o rosto em minhas mãos. — Eu não te entendo!

— Não tem problema. — ele disse e beijou minha bochecha. — Vamos, vou levá-la pra casa. Está ficando tarde.

Eu assenti, rindo e entrei no carro.

Não tinha ideia do que tinha acabado de acontecer ou das consequências que isso me traria. Mas, naquele momento, eu não ligava.

sorry.Onde histórias criam vida. Descubra agora