A visita(Camren)

A visita.

      35 notificações, 10 pedidos de amizade, e 20 mensagens. Era por essas e outras que Lauren odiava o Facebook. E quinze dias numa viagem para Cuzco, no Peru, lhe rendeu a isto. Como ela sentia falta dos quinze dias em que ninguém lhe infernizava. Estava muito grata pelo negócio de paisagismo estar dando certo, porém estava exausta daquilo tudo. E a viagem foi apenas um aperitivo para que ela implorasse por férias.

      Uma de suas vantagens de ter o próprio negócio é a ausência de um chefe chato. Mas o sucesso não deixava Lauren tirar férias naquele momento. Precisava seguir em frente, pois seu sonho estava sendo realizado, e agora ela era o orgulho de Michael e Clara Jauregui.

     “Olha só quem está de volta...” - Zyan amigo de tempo de colégio a chamou no chat, assim que viu a morena online.

      Lauren revirou os olhos.

      “O que foi, Zyan?” – digitou.

      “Nada, linda. Ainda está nessa cidade com nome de santo?”

      “Sim, Zyan. Estou.”

     “Perguntaram por você no velório do Austin. Achei que fosse enviar alguma carta para o Harry ou Camila, mandando suas condolências.”

      A última mensagem deixou Lauren intacta. Austin... morto? Que brincadeira de mal gosto era aquela?

     “Eu não sabia dessa” – apenas conseguiu digitar uma frase. Não sabia o que dizer. Não era próxima de Camila, ou de Austin. Tampouco de Harry. O que eles faziam era problema exclusivamente deles, e ponto final. Essa seria a lógica se Lauren Jauregui fosse a amiga malvada. A Lauren Jauregui de agora só conseguia pensar como estava sendo difícil para Camila e Harry enfrentarem a vida dali para frente.

      Abriu um novo bate papo com Harry, queria mostrar que tinha seu apoio, embora não fossem próximos. Mas Harry tinha sido mais rápido. A mensagem deixada por ele se tratava de Camila. Escrita com uma enorme preocupação, ele explicava como se preocupava com a ideia da morena de morar longe dele e de todos que poderiam lhe dar o devido apoio. A apreensão dele acabou passando para Lauren, que mesmo depois de todas as brincadeiras e bullyng com Camila, as humilhações e empurrões, se preocupava com ela. Não estavam mais no ensino médio. O tempo tinha feito eles amadurecerem.Até os corações mais protegidos, como o de Lauren e Dinah.

     Então, sem hesitar, Lauren disse sim a Harry, e prometeu fazer o possível para manter a cantora fora da zona de depressão. Ninguém era obrigado a ficar feliz de uma hora pra outra depois do que aconteceu com Austin. Mas a vida seguia. Não podem parar por isso. Anotou o endereço da morena. Já sabia qual seria sua próxima cliente. Talvez o jardim da Camila precisasse de um trato. Pelo dia em que a mensagem fora mandada, à essa altura do campeonato, Camila Cabello já deve estar na “cidade com nome de santo”.

      Lauren não tardou, e, pegou sua jaqueta e a chave do carro, uma picape laranja e usada.

      O casarão não era bem um casarão. Quer dizer, Lauren imaginou uma mansão enorme, algo quase surreal em São Francisco. Mas ao invés disso, ela se deparou com uma casa de três andares, mas nada enorme. Não ficava afastada da cidade, e dividia o espaço com mais vinte casas, típico de classe média, no Tocoloma Ave.

      Talvez harry tenha exagerado na descrição.

     Talvez Camila Cabello tenha mal gosto para casas. A casa tão bem descrita era branca, com a pintura acabada, e o que era mais próximo a um jardim era um cantinho com margaridas mortas.
Lauren tocou a campainha, que quase quebrou ao colocar o dedo. Bem diferente do que a Lauren pensava, Camila não atendeu a porta, e sim uma mulher com meio século nas costas, ruiva e com a cara amarrada.

      – Pois não? – a voz da mulher era quase um urro. Lauren queria sair correndo, ou então dizer que havia errado o endereço.

      – É que eu estava procurando uma...

     – Camila Cabello? – a mulher interrompeu.

      – Isso.

      A mulher analisou Lauren de cabo a rabo, não satisfeita com a presença da morena, que parecia ser uma paparazzi, ou então apenas mais uma fã doente.

      – Ela está ocupada. – finalmente respondeu, dando de ombros, já fechando a porta.
Lauren ficou petrificada. Não sabia se batia novamente na porta, ou se ligava para Harry, ou então tentasse voltar outro dia. A mulher que lhe atendeu estava tão convicta de que Camila não queria receber visitas, que Lauren se preocupou ainda mais com ela. Imaginou a morena diante da televisão, se acabando em sorvete, enquanto suas lágrimas desciam.

      Mas antes que pudesse voltar à picape, a porta se abriu novamente, e a mulher continuava insatisfeita. Porém, deixou que Lauren entrasse, indicando as escadas. Camila estava no segundo andar. Primeira porta.

      A cena era bizarra. Camila estava num caixão aberto, viva, é claro. Velas por todo o lado, e a mulher insatisfeita parecia não se importar com nada daquilo. Parecia que ela simplesmente achava aquilo normal. Mas não era. Todo mundo conhecia Camila Cabello, e o estado em que ela se encontrava. Era negligência vê-la daquele jeito, e não fazer absolutamente nada.

     – Lauren Jauregui. – Camila quebrou o silêncio aniquilador. – Veio ver minha derrota?

    Lauren tentou balbuciar. Mas nada saiu. Nada lhe parecia certo. Não tinha nada a dizer à respeito daquela cena doentia. Harry não tinha lhe dito o quão sério a situação era.

     – Camila... Sai daí Camila. Vamos, tem uma vida linda lá fora. – ela quase disse isso. Mas seu nervosismo fez com que, na realidade, Lauren dissesse que o jardim precisava de um trato. Ofereceu seu serviço.

     Camila se levantou, ficando sentada. Ponderou sobre a oferta, e confessou a si mesma que aquilo que Lauren chamou de jardim era realmente uma droga. Pediu ajuda para a sra. McGregor, sua governanta ruiva, para que conseguisse sair daquele caixão barato e cheio de farpas. Aproximou-se de Lauren, ficando menos que meio metro de distância, e só quando sentiu a respiração da morena lhe atingir, respondeu:

      – Você começa amanhã... E... eu não sabia desse seu gosto por plantas.

     “Não sou botânica, e sim paisagista” Lauren pensou.