Torture

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Sabia que isso aconteceria. Sabia que ele me pegaria. Não sei como ele conseguiu entrar na delegacia, mas quando a porta abriu atrás de mim, o ar pareceu ficar mais frio e eu soube que era ele. Não deu tempo de me virar, ele já estava atrás de mim. Antes que eu gritasse, ele pôs um pano na minha boca. Tinha um gosto estranho e não conseguia respirar.

- Isso vai te fazer dormir - e fez. Eu apaguei

Sabia que ele me odiava, mas contei à ela porque ele fez de novo. Ele prometeu. Não é certo prometer o que não se pode cumprir. A culpa era dele, mas não toda. Este foi meu erro: contar a ela o que ele fez. E o erro dela foi confrontá-lo. Agora nossos pais estão mortos, e ela, desaparecida. Parece que eu sou a próxima.

Quando acordei, ele estava sentado na minha frente, e entre nós, havia uma mesa. Uma mesa cheia de facas. Estava assustada, mas não demonstrei isso a ele.

- O que? Não gostou dos meus brinquedinhos? - quando não obteve resposta, continuou - Tenho um presentinho pra você.

- Vai mesmo ficar falando no diminutivo? Eu sou o quê? Uma criança?

- Tem dezesseis, então tecnicamente, sim, você é uma criança.

- Crianças são inocentes.

- E você não?

- Perdi minha inocência depois de vê-lo matando meus pais. Aliás, onde está minha irmã? O que fez com ela? Ela está viva ou você a matou também?

- Pra quem está perto de ser torturada, você fala demais.

- E qual o problema?

- Eu te trouxe aqui pra ouvir seus gritos, não suas perguntas.

- Se não vou sair daqui, qual o problema de me contar? - pergunto, tentando dar de ombros, mas falho miseravelmente por estar com as mãos muito bem amarradas - Me amarrou pra quê? Não sou rápida o bastante. Estamos embaixo da terra, talvez no meio do nada.

- Cala a boca! - diz se aproximando, e sussurra no meu ouvido - Farei com você pior do que com sua irmã - estremeço e ele sorri - Tá com medo agora, vadia? - ele vai até a mesa e pega uma faca, vindo em minha direção com o punho acima da cabeça - Você destruiu o meu relacionamento! - gritou, ao mesmo tempo que descia o punho e rasgava minha coxa. Grito de dor e ele gargalha, se afastando - Se arrepende de ter destruído meu relacionamento com sua irmã?

- Prefiro ela morta a vê-la com você!

- Faria tudo de novo? - pergunta enquanto pega outra faca

- Sim, faria - afirmo e grito em seguida.

Ele atacou a mesma coxa com uma faca maior, mas dessa vez a deixou lá. Eu via meu sangue jorrar, lembrando das vezes em que me machucava e minha mãe cuidava de mim. Ela limpava meus machucados e dava um beijo perto deles, dizendo que logo melhorariam. E quando era dia de vacina e eu chorava dizendo que eu ia morrer, ela me dava um tapa na cabeça e dizia que era pra parar de graça. Depois ela me dava sorvete ou pirulito. Mas, dessa vez , não vai ter beijinho nem tapa na cabeça, porque ela não está mais aqui, e a culpa é minha. Por isso, fiquei quieta. Fiz o possível pra não gritar, e isso o irritou mais do que quando fiz perguntas. Logo, as sete facas que estavam na mesa estavam fincadas em minhas coxas e tinha uma na minha mão. Depois ele as retirou devagar, voltando a fincá-las algumas vezes, mas tirou todas e foi embora.

Ele voltou dias depois, quando eu estava quase melhor. Minha mão tinha algumas cicatrizes, mas já estava boa. Tenho certeza que era de noite e que ele estava bêbado, talvez até drogado, e percebi o que aconteceria. Tudo bem que eu queria ser punida, mas ser estuprada não é algo que pensei que aconteceria. Mas não pude lutar, porque, antes de me desamarrar, ele injetou algo em mim. Então enquanto eu ficava tonta, ele tirava suas roupas. O mínimo conforto foi que ele colocou camisinha. Mas não durou muito, porque se não saísse dali viva e os policiais encontrassem meu corpo, não conseguiriam descobrir quem fez isso. Talvez pelas digitais, já que às vezes ele tirava as luvas. Mas, claro, se encontrassem meu corpo.

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