Promise

I love you

Senti um enorme desespero quando vi meu quarto vazio e ainda pior ao ver que meu banheiro estava na mesma situação. Quase morri ao notar a faca que Natalie tirou de debaixo do travesseiro caída no chão e suja de sangue. Pedi para coletarem o sangue da faca que, felizmente, não era o de Natalie.

Melhor ainda, Hotch me disse que há uma semana mandou homens vasculharem o local em que ela foi encontrada, e demorou. Demorou muito, mas o chefe me disse que um dos grupos encontrou uma casa no meio do nada. Se ele ainda estiver lá, é um idiota, e eu não poderia ficar mais agradecido se fosse o caso.

Hotch, Prentiss e Rossi vão em um carro, e JJ, Morgan e eu vamos no outro. Mas chegaremos atrasados porque está um engarrafamento do cão. Batuco, impaciente, os dedos no painel do carro. Então JJ se incomoda e põe a mão em meu ombro.

- Dá pra se acalmar?

- É muito difícil, JJ! Natalie está lá com aquele monstro e nem sei se ela ainda está viva...

- Sei que é difícil, mas é melhor colocar a cabeça no lugar. - diz apertando de leve meu ombro - Espero que ela esteja bem.

- Eu também. - respondo baixinho

Lembro de como Natalie conversou com Morgan há apenas dois dias, quando ele foi lá em casa, e por burrice minha, descobriu que nós dois transamos, e ela contou que realmente gostava de mim, não apenas porque eu tentei "juntar os cacos". Lembro da primeira vez que a vi dançando na cozinha, de short jeans e blusa azul, cantando tudo embolado.

Preciso parar de pensar nela, então viro o rosto para a janela, tentando me distrair, e percebo que o trânsito começou a fluir, mesmo que devagar.

Chegamos lá depois de duas horas. Depois que Morgan estaciona, saltamos do carro, colocamos nossos coletes e eles checam suas armas. Não me deixaram ficar com a minha porque eu "pareço estar muito envolvido com a vítima". Hotch e Morgan vão para a parte de trás da casa, guiados por um policial. Rossi e Prentiss com Andrew na mira pela janela, enquanto JJ negocia a rendição dele, e eu fiquei mais atrás.

Quando Parker disse que tinha uma refém, é óbvio que fiquei preocupado. Ele pegou Natalie, mas Nicole ainda estava desaparecida. É pouco provável que ela ainda esteja viva, mas ainda sim possível. Ou ele está com a minha Natalie e, na verdade, sua irmã já está morta, só não encontramos o corpo ainda?

Finalmente, ele concorda em se render. Rossi faz sinal para abrir a porta. Caminho até lá o mais rápido possível, mas com cuidado para não assustar o Andrew, para que ele não machuque a refém. Um policial me entrega uma arma.

Com a arma apontada para o chão, abro a porta e, para o meu alívio, vejo que a refém, que está ajoelhada, é a minha Natalie. Percebo que ela está toda machucada; o desgraçado bateu nela. Mas mesmo machucada e com uma arma na cabeça, ela fica aliviada ao me ver.

Me aproximo, vendo pelo canto do olho, Hotch e Morgan fazendo o mesmo com suas armas apontadas para o suspeito. Ele sorri e engatilha a arma. Vejo Natalie arregalar os olhos e olhar pra mim. Um tiro... Não!

... e ela cai. Não,não, não, não! Desesperado, corro até minha menina, a abraçando e percebo meus olhos embaçados pelas lágrimas. Deixo que elas escorram.

- Natalie, amor, por favor, não... - ouço minha voz embargada. Sinto um bolo na garganta, me impedindo de falar, mas mesmo assim continuo, na esperança de que ela fique comigo, que ela fique viva. Por favor...

Embalo seu corpo sem vida e choro desolado. Ouço Andrew sendo preso e passar por mim rindo do meu desespero e por ter assassinado Natalie. Minha Natalie...

Estou soluçando quando sinto uma mão no meu ombro. Olho para cima e vejo Hotch me observando com seus olhos tristes. Ele está lembrando de sua falecida esposa. Com muito esforço, levanto, deixando o corpo inerte de Natalie no chão. Lágrimas ainda escorrem pelo meu rosto e estou fungando, mas passo de cabeça abaixada por todos que me encaram e saio daquela casa.

- Ela está morta, Spencer. Ele a matou. - ao ouvir essas palavras, tão cruéis, encaro Morgan - Andrew matou as irmãs Williams. - ele respira fundo e continua - Os policiais acharam uma porta que dá para o porão. O cômodo estava cheio de sangue. Nele, tinha uma roda enorme com um corpo amarrado a ela, Nicole.

Não consigo mais aguentar isso. Natalie viu sua irmã sendo torturada e morta, apenas para morrer em seguida, bem na minha frente.

Morgan me leva pra casa e se oferece pra ficar comigo. Recuso, quero ficar sozinho. Tento afastar a lembrança do exato momento em que os olhos de Natalie perderam o brilho e encararam o vazio, ou a imagem dela com um buraco de bala na cabeça. Não consigo afastar tais lembranças, que me rasgam tão violentamente por dentro.

Assim que ele vai embora, tranco a porta, me escoro nela e logo sinto meu corpo escorregando até o chão, onde me sento e me debulho em lágrimas. Choro até não aguentar mais, até dormir ali mesmo, no chão duro e gelado. Porque esse é o problema da dor: ela precisa ser sentida.