O resgate do tigre - POV dos tigres

POV Kishan

Depois que Kelsey foi embora, as coisas ficaram estranhas em casa.

Nos primeiros dias, Ren passava o tempo todo como tigre. Ficava andando de um lado para o outro e rugia triste de tempos em tempos. Kadam tentava falar com ele, mas Ren fugia para a floresta todas as vezes.

Eu disse a Kadam para lhe dar algum tempo. Eu sabia o que Ren estava sentindo. Me senti da mesma forma quando perdi Yesubai.

Kadam começou a me ensinar muitas coisas. Eu estava reaprendendo a escrever e treinando a minha fala, tanto o hindi quanto o inglês. Também aprendi a usar o computador, a dirigir automóveis e algumas coisas sobre sobre os negócios da família. Descobri que Kadam ganhou muito dinheiro em todos esses anos e que nós éramos muito ricos. Nós também começamos a treinar nossas lutas durante algumas horas do dia.

Alguns dias depois de Kelsey ir embora, eu estava no escritório estudando com Kadam quando ela ligou. Não achei que precisasse sair da sala então fiquei e com minha audição de tigre, ouvi a conversa:

— Olá, Srta. Kelsey — disse Kadam alegremente. — Fico muito feliz em saber que chegou em casa em segurança. Está tudo em ordem e a seu contento?

— Eu não esperava nada disso. Acho que não mereço tanto. Me sinto mal...

— Nem pense nisso. Foi um prazer providenciar tudo para você.

Eles continuaram conversando, mas eu sai da sala e fui para o meu quarto. Ouvir a voz dela me fez sentir saudades. Eu tinha voltado por causa dela, mas depois que ela se foi, as coisas estavam meio sem graça.

Fiquei pensando em ir para os Estados Unidos. Comecei a pesquisar sobre o país da internet. Pensei em dar um tempo, aprender um pouco mais, depois eu arranjaria uma desculpa e iria pra lá, encontrar Kelsey.

Kadam me falou sobre ela e meu irmão. Disse que Ren a amava e aparentemente ela também gostava dele, mas não achava que os dois estivessem prontos para se comprometer, com o que Kadam concordava.

Eu imaginei que, talvez, estando longe, os sentimentos dela por Ren poderiam esfriar, e se eu chegasse na hora certa, poderia ter uma chance de ficar com ela.

Depois de algum tempo, Nilima chegou à índia. Foi a primeira vez em muitos dias que vi Ren na forma humana. Ele queria saber notícias de Kelsey, se ela tinha gostado da casa, do carro. Nilima contou a ele tudo pacientemente e Ren pareceu ficar um pouco mais aliviado.

A presença de Nilima acalmou a todos nós. Ela conseguiu convencer Ren a voltar a estudar e me ajudava com os meus estudos. Ren ainda estava melancólico mas começou a treinar comigo e Kadam. Nilima também treinava conosco às vezes e era bastante competente.

Ren e eu lutávamos como humanos e como tigres. Como homens, treinávamos técnicas de lutas e diversas armas. Como tigres, treinávamos com nossas garras e dentes. Em alguns dias, Ren era mais dedicado, em outros ele se entregava durante as lutas, como se quisesse que eu o machucasse. Treinávamos até estarmos cansados. Então nos alimentávamos e íamos dormir. Está foi a rotina da casa por muitos dias.

Ren estava cada vez mais triste e eu disse a Kadam que deveríamos convencê-lo a sair. Ele precisava testar a teoria de Kelsey e conhecer outras pessoas, falar com outras mulheres para ver se ele se interessaria por alguém, afinal, desde que nos tornamos homens novamente, Ren só esteve com Kelsey e com Nilima, mas esta era como uma irmã para nós. Eu, por outro lado, já estivera com uma ou outra moça desde que recebi minhas seis horas, então, eu sabia que meu interesse por Kelsey era genuíno.

Ren não gostou da ideia, mas Nilima ficou muito animada e disse que nos ensinaria a dançar como se faz hoje em dia. Kadam colocou música, e mesmo Ren se divertiu.

À noite fomos a uma boate, só Ren e eu. Era muito divertido e havia muitas pessoas. Convenci Ren a dançar com alguém. Ele parecia contrariado mas aceitou.

Nós até nos divertimos, mas quando voltamos para casa, Ren parecia ainda mais melancólico. Passava o tempo em seu quarto tocando e compondo músicas tristes, escrevendo poesias e se lamentando. Depois descia para a área de treino e lutávamos até nosso tempo acabar. Então lutávamos como tigres.

Quando Kelsey ligava, ele ficava ao lado de Kadam ouvindo a conversa. Às vezes eu também ficava, ou saia da sala fingindo desinteresse, mas ficava ouvindo atrás da porta. Em uma dessas ligações, meses depois de Kelsey ter nos deixado, eu a ouvi dizendo que estava saindo com alguém. Fiquei decepcionado.

"Kelsey estava namorando?"

Fui para o meu quarto irritado. Queria saber quem era o cara com quem ela estava. Ele com certeza não era bom o bastante. Queria ir aos EUA quebrar a cara dele. Eu estava com ciúmes. Ouvi um barulho vindo do quarto de Ren. Ele estava transtornado, quebrando coisas.

Depois de algum tempo, ele bateu à minha porta. Eu o atendi e ele disse que precisávamos treinar. Desci e começamos a lutar. Mas Ren estava passivo, não me atacava ou se defendia. Era como se ele quisesse que eu o machucasse. Parei a luta e comecei a andar ao redor dele. Ele parecia tão patético. Eu o olhei de cima a baixo com desprezo, e lhe dei um soco com toda a força que eu consegui, fazendo-o cair no chão. Então comecei a dizer que ele era um fraco, que não mereceu Yesubai no passado e não merecia Kelsey agora.

Joguei na cara dele que eu podia ter errado em relação a Yesubai, mas o fiz porque eu a amava e estava disposto a enfrentar o que fosse por meu amor. Disse que Kelsey estava certa em se afastar dele, pois um homem que se entrega ao invés de lutar pelo que acha certo não é digno.

Eu zombei dele dizendo que o poderoso Príncipe do Império Mujulaain, o Sumo Protetor do Povo, o campeão da Batalha dos Cem Cavalos, herdeiro do trono, fora abatido por uma garota. Gritei que não havia nada mais patético que um tigre covarde lambendo suas feridas.

Mas ele não se importou. Ficou me olhando como se eu não tivesse falando dele. Então eu lhe disse que nossos pais ficariam envergonhados, que eles haviam criado um covarde. Isso parece tê-lo feito despertar. Ele saiu da sala e eu não o vi mais naquele dia.