Yin yang

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Kadam marcou um encontro com alguém do gabinete do Dalai-Lama para dali a três dias. Enquanto esperávamos, fazíamos turismo e jogávamos. Nas 18 horas em que eu precisava ficar como tigre, eu comia (Kadam sempre providenciava comida adequada para tigre) e dormia.

Era um pouco entediante, já que como tigre, eu gostava de correr e caçar, mas tinha que ficar confinado dentro do quarto. Isto aumentou minha empatia por Ren. Ele viveu durante séculos preso em jaulas de circo, e agora fora novamente capturado e provavelmente estava enjaulado novamente. Desta vez, eu faria de tudo para encontrá-lo e libertá-lo, não só por ele, mas por Kelsey também.

Nós aproveitamos o tempo também para treinar com nossas armas novas. Kadam nos levou a um lugar afastado, longe dos limites da cidade.

O chakran era uma arma incrível. Eu costumava treinar com uma arma desta havia muitos séculos, então não demorou para que eu me adaptasse ao disco dourado de Durga. Mas esta arma era especial, mágica. Por mais longe que eu a lançasse, ela sempre voltava para mim, e parecia desacelerar quando chegava perto. Além disso, tanto o chakran quanto o arco de Kelsey eram armas relativamente leves para nós dois, mas Kadam tinha dificuldades em manuseá-los, por lhe parecerem muito pesadas. Por este motivo, eu ajudei Kelsey a treinar com o arco.

— Por que as flechas são tão pequenas?

— O comprimento das flechas é determinado pelo tamanho do arqueiro. É o comprimento da puxada e o seu é bem pequeno. Portanto, estas flechas devem lhe servir perfeitamente. O comprimento do arco também é determinado por sua altura. Um arqueiro não pode ter um arco que seja difícil de manejar.


Depois de explicar a ela sobre o funcionamento da arma e como manuseá-la, eu demonstrei como usá-la. Em seguida, ela tentou imitar meus movimentos, mas tremia um pouco. Me posicionei atrás dela, ajudando-a a puxar a corda. Eu a fiz repetir o movimento até que estivesse acertando os alvos, o que não demorou para acontecer. Nós observamos maravilhados que as flechas nunca acabavam e que elas desapareciam do alvo, como se voltassem magicamente para a aljava.

Depois de treinarmos o suficiente, voltamos para o hotel e jogamos Pachisi. Kelsey não conhecia, então ensinamos a ela e explicamos que minha família costumava joga-lo. Lembramo-nos da última vez em que jogamos e como Kadam havia vencido naquela ocasião.

Mesmo sendo sua primeira vez, Kelsey jogou bem e derrotou Kadam facilmente. Ela estava feliz e animada, então eu fingi distração e deixei de fazer uma jogada que poderia ter me feito vencer o jogo. Assim, ela saiu vitoriosa, mas percebeu que eu perdi de propósito. Enquanto guardávamos o jogo, Kelsey insistiu:

— Vamos lá, confesse. Por que entregou o jogo? Você não é bom de blefe, sabia? Pude ler sua expressão. Você viu que podia acabar comigo e deliberadamente me deixou passar. O que aconteceu com aquela história de fazer o que fosse preciso para ganhar?

— Ainda faço o que for preciso para ganhar. Talvez, ao perder o jogo, eu tenha ganhado algo melhor.

— Ah, é? O que acha que ganhou?


Eu afastei o jogo para segurar a mão dela.

— O que ganhei foi ver você feliz, como costumava ser. Quero ver seu sorriso voltar. Você sorri e dá risada, mas isso não chega aos seus olhos. Não a vi feliz de verdade nesses últimos meses.

O resgate do tigre - POV dos tigresOnde histórias criam vida. Descubra agora