Frenesi

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Mariana

Tudo aquilo era uma loucura, eu torcia para que se trata-se de algo com uma explicação lógica, como algum surto de raiva ou histeria coletiva, mas as pessoas estavam literalmente se alimentando umas das outras lá fora. Meu corpo estava carregado de adrenalina e eu não conseguia ficar parada por um minuto sequer, sentia que podia correr por quilômetros, até lembrar que provavelmente seria atacada e mordida por algum doente assim que pisasse fora do mercado.

Talvez fosse simplesmente sobre aquilo que se tratava, as pessoas estavam simplesmente doentes. Era o que eu repetia sem parar como um mantra na minha mente, a maioria das doenças tem uma cura, não?

Milhares de pensamentos borbulhavam na minha mente, minha mãe e meu pai não estavam no país, haviam viajado a negócios, talvez estivessem bem, melhores do que eu, mas como eu viria a encontrá-los de novo? Pensar que toda aquela situação podia tomar proporções gigantescas me fazia ter ânsia de vômito e falta de ar.

As pessoas pareciam tão perdidas e desnorteadas quanto eu estava, algumas estavam em família, e outras sozinhas, mas todas pareciam igualmente desesperadas. Ver Camila andando para lá e para cá pelos corredores do mercado, ansiosa e agitada tornava a situação um pouco mais leve, eu sentia um leve farfalhar no estômago quando via ela, e sentia uma vontade de rir, de todas as pessoas ali seria justamente nela em que eu mais poderia confiar, justamente Camila, eu me perguntava o que ela pensava quanto ao fato de estar ali, presa comigo. Ela provavelmente devia odiar e desejar que estivesse morta lá fora, eu quase podia imaginar ela se dobrando de rir se me visse lá fora.

Nós não nos odiamos desde sempre, houve até mesmo uma época onde só confiavamos uma na outra, eu ainda sinto a sensação quando a vejo, a forma como ela me fazia eu me sentir quando andávamos de bicicleta pela cidade, compravamos sorvete e passávamos a tarde inteira na praia. Era como se eu fosse o seu centro, a única coisa que importava para ela.

De onde estava Camila me lançou um rápido olhar irritado para mim, e eu desviei o olhar tão rápido quanto ele ao perceber que estava encarando ela.

Eu havia acabado com a nossa amizade, tinha me garantido de que acabaria e de que ela nunca mais iria querer se aproximar de mim outra vez.

Ao vê-la ali, meu coração se tranquilizava, ela me lembrava a minha rotina, e era a aquilo que eu tentava me agarrar.

Por diversas vezes procurei ligar para qualquer número, cheguei a ligar simplesmente para o número de uma pizzaria, mas era como se o mundo tivesse saído de órbita e nada mais do que era simples e normal, era fácil de se fazer.

Guardei meu celular, fechei meus olhos e me concentrei em ficar respirando fundo, tentando me tranquilizar, aquilo era algo passageiro, logo eu estaria em casa com os meus pais, e contaria sobre todo esse desespero pelo o qual passei, mas é claro, só depois de um longo banho frio para me livrar daquele calor desgraçado.

Abri meu olhos e a primeira coisa que vi foi uma senhorinha de cabelo grisalhos, sua camisa de cor branca estava ensopada de sangue que pingava de seu braço, ela olhava desnorteada para os lados, parecia estar em choque.

Ninguém mais ali tentava ajuda-la. Então me prontifiquei a ajudar ela, fui em outros corredores, procurando algum tipo de tecido para fazer pressão em seu braço. Cheguei a um corredor de utensílios domésticos e em uma das prateleiras encontrei um saco com panos, eram panoe de limpeza, mas teria que servir. Voltei correndo pelos corredores e parei ao lado da senhorinha.

Ao ver seu braço, senti vontade de vomitar, um pedaço de carne havia sido arrancado. Eu me sentei ao seu lado e mostrei o pano.

- Posso? - perguntei. Ela sorriu e esticou o braço, parecia não sentir dor.

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