Usurpadora

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Camila

    Durante a madrugada após a briga com Mariana, com dor de cabeça e com o corte da mão latejando de dor. Procurei por Lucas que era o único que não iria me encher o saco.

    — Vocês brigaram é? — perguntou, limpando minha mão e bocejando, Lucas não se incomodou em me ajudar quando o acordei, e se estava incomodado não disse nada.

    Revirei os olhos.

    — Como se você e o mercado inteiro não tivessem ouvido. — resmunguei, me obrigando a não fazer nenhuma careta quando ele colocou álcool na minha ferida.

    — É. Foi um show e tanto — continuou, enquanto enfaixava minha mão

    — Você não acha que vai precisar dar pontos? — perguntei.

    — Você realmente acha que eu sei fazer isso? Eu não sei nem usar uma fraca pra cortar carne. Acredite, se eu tentar dar pontos você vai ser o novo Frankenstein.

    — Ah, perfeito. — brinquei.

    — Então quer dizer que você tomou o corredor de bebidas todinho só pra você? Que egoísmo.

    — É, depois disso eu vou inaugurar o grupo de alcoólicos anônimos na seção de bebidas.

    Nós dois rimos.

    — Bom. Eu vou voltar pro meu canto. — disse, me levantando. A última pessoa que eu queria ver agora era Mariana.

      Dizem que amor nunca termina ele apenas é substituído por um sentimento maior, talvez raiva ou talvez ódio. Eu não sei ao certo se seria essa a palavra que definiria meus sentimentos no momento, mas eu sabia que era algo bem parecido, nem de perto a raiva ao qual eu já senti pela Mariana a anos atrás se compara a agora, eu poderia esmurra-la sem sentir um sequer resquício de culpa ou pena, mas eu sabia que não seria capaz de tal coisa.

    Eu era fraca demais quando se tratava de Mariana.

    Não acredito que pude pensar que enfim ficaríamos bem, aliás nem sei por que me dei ao trabalho de salvar a vida dela quando aquela velha a atacou, se não o tivesse feito não teria que me estressar com todas aquelas bobagens.

    As pessoas começavam a reclamar sobre o racionamento de comida, eram ingratas demais para se tocar de que elas tinham privilégios, podíamos tomar banho — mesmo que fosse frio — e comer — mesmo que fosse pouco.

    Eu imaginava que logo aquilo tudo seria motivo de revolta, as pessoas iam enlouquecer e se voltar uns contra os outros, aquela ideia não me agradava em nada. Ficar presa com pessoas totalmente manipuláveis.

    Quinze pessoas tinham ido embora. Eramos trinta e oito agora. Aquilo nos dava uma margem de tempo maior, a comida poderia durar mais, se é que isso fazia diferença.

    Mayara falava cada vez mais sobre a ideia de escolhermos um líder, ninguém parecia enxergar que aquela mulher era uma cobra criada.

    Decidi procurar por Natália para falar sobre o racionamento de comida, agora que éramos menos pessoas devíamos poder pegar mais coisas, aliás, eu não duvidava nada de que as pessoas já estivessem pegando as coisas as escondidas.
   
   Quando passei por um corredor, eu ouvi a Mayara e Ana cochichando sobre a fraca luz de uma vela, andando lentamente, e como não havia nada para fazer além de lamentar minha existência resolvi segui-las, eu esperava do fundo da minha alma que elas estivessem aprontando algo pois estava louca para brigar com alguém.

    As duas seguiram para a sala onde estávamos guardando os alimentos mais importantes, e com isso já deduzi que iriam roubar comida, levando em consideração ao suquinho vagabundo e a bolacha água e sal que estavam nos oferecendo era óbvio que alguém logo iria querer roubar comida decente.

    Eu iria dar um belo susto nelas e uma bronca também, mas não sairia dali sem roubar comida também afinal o que elas poderiam fazer, me caguetar?

    Não fui eu quem tive a ideia de roubar.

    — Que coisa feia. É só as pessoas se distrairem e as duas ratazanas já saem pegando comida escondida! — Elas deram um pulo de susto me fazendo rir, Mayara já demonstrava seu olhar mortal em minha direção me fazendo a retribuir com muito vigor. Eu peguei o saco de pão das mãos da mosca morta da Ana que nem se deu ao trabalho de me impedir, e então comecei a come-lo e beber o refrigerante que elas haviam pego. — Eu espero que isto não se repita moças!

    Mayara bufava de ódio pelo meu atrevimento e eu me sentia repleta de felicidade em saber que ela não podia me controlar como fazia com todo o resto, porém ao me virar para poder ir embora eu escutei o barulho de uma arma sendo destravada.

      — Acha mesmo que vai controlar alguma coisa aqui? A partir de hoje eu mando neste lugar. — Quando consegui entender o que estava rolando eu me virei para ela sem demonstrar medo algum, até porque não era isso o que eu sentia naquele momento.

    Ana veio em minha direção e amarrou meus pulsos atrás de minhas costas, elas já haviam planejado aquilo a muito tempo porque tinham até a corda pronta para me prender. Talvez estivessem esperando me pegar sozinha.

    Ana era tão ridícula que seu medo pensando que eu poderia bater nela exalava de seu corpo.

    — Acho bom prender bem firme Aninha, porque se eu me soltar você será a primeira a morrer!

    — Vai. Começa a andar — disse ela encostando a arma nas minha costas. — Se você gritar eu vou atirar em você até acabar com as balas.

    Comecei a andar, escoltada por Ana e Mayara que riam de vez em quando e diziam o quanto eu era burra. Juntas me levaram até uma sala e mandaram que eu me sentasse em uma cadeira, depois amarraram meus pulsos e meus tornozelos na cadeira.

    Mayara desapareceu por alguns instantes e voltou com um rolo de silver tape, que usou para tapar minha boca.

    — Vamos Ana. — disse Mayara, travando a arma novamente e a colocando no cós da calça.

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