Capitulo VII - Hope(less)

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Curiosamente, o envelope tem a letra da Hanabi, que escreveu "Com amor para os amores da minha vida!" em seu verso, me deixando curioso. O peguei e deixei sobre o móvel enquanto fui preparar a mamadeira da Hope, que é bem comilona, por sinal, comeu bem rápido.

— Você quer dormir ou quer brincar, princesa? - bem, não dá pra se esperar que um bebê durma sempre, certo? Por isso, antes de qualquer coisa, eu tive que deixá-la confortável, apesar dela resmungar bastante, talvez por querer outro colo, esse mais especial. - Você também sente saudade da mamãe, não é? - lhe mostrei uma das minhas muitas fotos com a Hanabi, mesmo sem entender muita coisa, ela riu e eu suspirei na tentativa de conter as lágrimas que querem mais uma vez correr por meu rosto. Eu nunca imaginei que ia sentir tanta saudade na vida. - A mamãe te amava muito, Hope, você era a menina linda dela! - beijei a cabeça de minha filha, acariciando seu rosto. - Você se parece muito com ela, vai ser tão linda quanto ela era... - ah, Hanabi, quanta falta você me faz! Eu demorei tanto tempo pra me apaixonar e esse amor terminou da forma mais trágica possível, mas... - Pelo menos ela me deixou você! - beijei o pulso da minha bebê, que, depois de uma hora de pura energia, leite tomado e fralda trocada, já quer dormir mais uma vez, espero ter pique pra essa rotina! Levei-a para o berço, ela precisa descansar mais e eu preciso ler o que tem naquele envelope. - Dorme bem, minha anjinha! - já disse que ela é uma fofinha? Linda como a Hanabi imaginava que ela seria! - O papai já volta pra ver você dormir, pequena, mas agora ele precisa saber o que é aquilo que a mamãe deixou! - a cobri e então deixei seu quarto, não sem antes pegar o envelope sobre a cômoda. Sentei no sofá, olhando um pouco nervoso, desconfiado e curioso para o papel em minha mão, trêmulo e até mesmo emocionado em saber que, ao menos, tenho a chance de ter palavras da mulher que mais amei como um certo consolo para sua ausência, apenas preciso me controlar parando acabar rasgando tudo com tamanha euforia. Respirei fundo, limpei o suor frio de minhas mãos e, com todo o cuidado e carinho do mundo, abri a carta. Não pude deixar de sorrir ao ver fotos nossas no mais romântico dos climas, tal como imagens das ultrassonografias que fizemos ao longo de sua gravidez, mas também havia um papel bem dobrado, uma carta, toda escrita à mão, atrás de uma das fotos mais bonitas que tiramos juntos, olhando nos olhos um do outro, sorrindo enquanto eu acariciava sua barriga, comigo podendo ver o quão feliz era seu olhar, ao mesmo posso ter essa paz de espírito. Respirei fundo, meu coração acelera com tais recordações e me controlo para que as lágrimas que insistem em se formar em meus olhos não destruam o que pode ser a última recordação da minha esposa, enquanto começo a ler. - "Ao homem da minha vida..." - sorri, imaginando no que ela pensava pra julgar que eu era de fato o amor de sua vida. - Kono, se você está lendo isso é porque eu morri! - c-como ela sabia? - Não se assuste, essa carta é uma despedida, mas também um pedido de perdão! - respirei fundo, confuso, sem entender o que ela quis dizer com isso... Bem, vou continuar a ler tudo, depois vejo o que pensar!

"Quando eu te conheci, naquela boate, eu não imaginava o quão importante você seria pra mim, não imaginava que você ia conseguir ver o que eu era além da garota com a boca em tom de vinho e com os olhos exóticos, que você ia querer mais de mim do que uma noite em uma cama. Só de pensar em tudo o que a gente viveu eu sinto o meu coração leve, quentinho com cada lembrança boa, mas também tenho algumas aflições e é por elas que eu te escrevo essa carta. Como eu sabia que ia morrer? Bem, há meses eu fiz vários exames, entre eles o que nos revelou a Hope, mas eu também recebi outros... Quando eu descobri estar grávida, eu também descobri um tumor maligno no útero, um tumor que seria facilmente retirado se eu aceitasse a cirurgia de remoção, mas eu não aceitei, mesmo sabendo que custaria a minha vida, eu não consegui abrir mão da nossa filha..."

Precisei pausar a leitura, trêmulo e choroso. Ela tinha um câncer? Ela tinha um câncer e não me disse nada? Agora eu entendo os muitos enjoos, os cabelos que caiam aos montes, as torturas...

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