𝐁𝐄𝐓𝐖𝐄𝐄𝐍 𝐖𝐀𝐋𝐋𝐒-𝑈𝑁𝐷𝐸𝑅 𝑆𝐴𝑁𝐷𝑆 (𝚂𝙴𝙽𝙳𝙾 𝚁𝙴𝙴𝚂𝙲𝚁𝙸𝚃𝙰)

𝟎𝟑

Gabriela

Um suspiro vago e frio deixou meus lábios, estava opaca, meus olhos fixados sobre as paredes de concreto, paredes as quais haviam engolido e tomado Thomas para si sem piedade. Um murmurinho cresceu gradualmente à minha volta, mas era tudo que ouvia, um murmúrio. Não palavras, não nomes, apenas um murmúrio abafado e constante. Não havia expressão, ou reação qual pudesse demonstrar. Ao menos um pensamento, apenas, o murmúrio abafado. Me questionei se ele estaria à minha volta, ou se manifestando dentro de mim espalhando o pânico lentamente por minhas veias para que enfim arrancasse a mínima reação. Sentia, sentia a adrenalina me consumindo de dentro para fora, as questões, o tremor de minhas mãos e o suor frio que escorregava pelas minhas palmas, mas ainda estava opaca. A ansiedade agonizando em meus ouvidos, puxando, consumindo e lutando pela mínima reação. Mas a ficha ainda estaria pendurada por um fino fio, aguardando o momento certo para se arrebentar e me esmagar. Me esforcei para recordar, do exato tom de sua voz, do castanho dos olhos e das suas expressões. E se me esquecesse? Teria ao menos uma memória para assinar meu luto? Estaria de luto afinal? Essa, agonia, ansiedade e tremor, eram por luto ou apenas culpa? Culpa de não o ter impedido? Medo? Medo de o ter perdido? Medo de acabar como ele? Medo da solidão?
-Gabriela?-Um dos milhares de murmúrios se manifestou, claro e consciente. Como o pequeno clique de uma chave sendo virada em sua fechadura, pude puxar o máximo de ar por minhas narinas. Senti o peso de meu corpo sobre minhas pernas relutantes para sustenta-lo. Piscando poucas vezes sentindo o anterior marejar de meus olhos rolar sobre meu rosto. Acordada. Tornei meu corpo a voz, e minhas iris encontraram o par de íris castanhas escuras e profundas. Palavras me foram roubadas da garganta, como o ar de minhas narinas. Respirava fundo, intensamente, lutando para me manter. Engoli em seco ainda a encarar Newt nos olhos, senti assim o toque de uma mão em meus ombros, por um segundo, pensei que pudesse ser o toque do garoto de cabelos loiros, clamava, necessitava de ser recolhida. Porém, ao encarar pelo lado de meu rosto o murmúrio finalmente cessou, se tornando apenas em um zumbido agonizante por meu ouvido direito.
-Ela está sã?-A voz cínica do garoto de sobrancelhas arqueadas soou, enquanto sua palma suja se mantinha firme a meu ombro. Reação. Raiva. Desprezo. Movi meu ombro rapidamente para cima dispensando seu toque de forma ríspida.
-Não encosta em mim.-Afirmei encarando o par de olhos verdes.
-Gabriela.-A voz mais reconhecida e doce agora atrás de mim me pediu. Porém, não a queria ouvir, não entendia o por que, o fundamento.
-Vocês os deixaram morrer. Estavam bem a nossa frente, e não moveram-se. Os empurrou para a morte.-Newt umidesseu os lábios, senti um calor em meu peito.
-Seu amigo mértila desrespeitou as regras, cometeu suicídio, por escolha própria.-Gally rebateu a minhas costas, me tornei a ele cerrando meus punhos.
-Como pode alguém ser tão ignorante? Vocês, pregam o fato de todos seremos uma família, abençoado seja o companheiro! Não é? Mas quando um deles, um não! Dois! Estão se arrastando, para a morte, pedindo socorro...-Movi alguns passos mais próxima de Gally.-...Nem se atrevem a colocar a bunda de vocês a risco para salva-los.-Disse entre-dentes descendo olhos por Gally.
-Quero que suas regras se fodam.-Afirmei.-Deveria ter sido você, não ele.-Observei diante de meus olhos o rosto do garoto ficar vermelho, seu lábio tremia e os pulsos estavam cerrados. Uma parte de mim quis, quis continuar a empurra-lo até o limite, para ver até onde era capaz. Mas, estava exausta. Me afastei, tornando meu corpo a Newt. Ele entreabriu os lábios, porém já estava longe. Meus passos se moviam de forma constante e rítmica, enquanto o silêncio ardia minha cabeça. Caminhei até não ver muitos sinais da claridade da clareira, para o meio das árvores, e no meio das folhas secas havia uma manta meio amassada e dobrada com pressa. Alguém já esteve aqui, frequentemente. Suspirei uma última vez, antes de me sentar sobre a grama e após mais alguns minutos não contados, deitei-me.