São Paulo é a maior metrópoles do brasil, e por conta disso ela não poderia deixar de ter também os maiores problemas sociais do país. Um dos mais graves e fáceis de observar na cidade são as pessoas em situação de rua. São pessoas que muito das vezes perderam tudo que tinham... (familia, casa, trabalho), e tiveram que ir morar nas ruas agitadas, inseguras e tumultuosas da cidade. A maior causa dessa situação é o vício em entorpecentes, o número de viciados na cidade é algo alarmante e um dos lugares mais conhecidos dessa realidade em São Paulo chama-se cracolandia.
São paulo, SP
Acordo meio aéreo sentindo um cheiro muito forte, abro os olhos aos poucos e tento procurar da onde vem, percebo que estou dentro de uma barraca minúscula que mal cabe uma pessoa dentro. Olho pra minha esquerda e vejo um amontoado de bitucas de cigarro no chão ao lado de várias garrafas de bebidas destiladas vazias, uma dela saiu rolando pelo chão e ficou pela metade.
Tento me levantar e não consigo ficar de pé dentro da barraca pois sou maior que ela, então fico agachado procurando as minhas roupas pois estou apenas de cueca. Olho na direita e encontro jogadas no chão o que parece ser duas calças jeans, uma dela esta suja e rasgada e a outra um pouco menos suja, imagino que a primeira seja a que Diego usou ontem. Olho do lado das calças e encontro três camisas, uma delas preta sem estampa com varios furos de pontas de cigarro, e as outras duas ja tão desgastadas que ja si é impossível saber o que tinham estampados. Após me vestir encontro uma garrafa de café e um pedaço de pão velho e duro, checo as memórias de Diego e vejo que essa é a única refeição que ele têm de manhã, e as vezes a única pelo dia inteiro. Tomo então o meu café da manhã e saio da barraca lentamente tentando acostumar meus olhos de ressaca a luminosidade da manhã ensolarada de São paulo. Olho pros lados e vejo uma infinidade de barracas iguais a minha instaladas pelo decorrer da rua
- bom dia mano, você pode me dizer que horas são?
- são 9:15 mano, vai um aí?
O rapaz de forma natural estende a mão e me oferece um cigarro de maconha, o corpo Diego praticamente implora pra que eu aceite o cigarro, mas uso toda minha forte de vontade e recuso
- não mano, valeu!
Então o rapaz põe o cigarro na boca acede e sai fumando. Checo as memórias de Diego e vejo que ele já está atrasado pra começar seu trabalho, que é catar latinhas e papelão, olho atrás da barraca e encontro uma carroça de ferro que é meu único instrumento de trabalho, pego ela e então saio puxando rua acima. Passo pelas barracas e observo que a maioria das pessoas ainda dormem, e as poucas que já estão acordadas batem papo entre si, enquanto fumam e tomam café. Mas á frente quase chegando ao final da rua vejo o que parece ser os traficantes de entorpecentes do lugar, são pessoas claramente bem melhor trajadas e de aparência melhor que a maioria dos moradores do local, estão aqui claramente apenas pra manipular e extorquir os mais viciados. Passo pro outro lado da rua para não chama atenção deles, e continuo meu trajeto. Quando finalmente saio daquela realidade dura de venda e consumo de drogas a céu aberto, chego a uma outra realidade não muito melhor de um trânsito totalmente caótico e intenso, e de milhares de pessoas passado pra lá e pra cá de forma desenfreada, algumas me olham com desprezo e descaso nos olhos, já outras simplesmente ignoram minha presença.
E assim começa mais um dia normal na vida de Diego, que como milhares de pessoas em São Paulo, é vítima de uma sociedade e um Estado cruel e negligente com as pessoas mais carentes e necessitadas.

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Sangue Novo
RomansaVocê já se imaginou num corpo de outra pessoa? Aposto que sim, né. Mas e se isso fosse algo natural na sua vida, e se virasse uma regra da qual você não pudesse fugir? E se isso acontecesse com você todos os dias independentemente da sua própria von...