Mais Um Dia

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Anastasia

— Annie você precisa sair um pouco precisa relaxar amiga – de novo Kate vem me encher com essa história. Estamos batendo nossos cartões, prestes a ir embora. Ela não entende que eu não sou mais uma jovem inconsequente que está disposta ater seu coração quebrado por qualquer um.
— Kate eu já te disse, eu estou bem assim, sem contar que eu tenho uma filha pra criar não tenho tempo para pensar em mais nada – bufo exasperada, meu plantão hoje foi exaustivo.
— Anastasia não fique usando a Lauren como desculpa, você já está sozinha a cerca de quatro anos e precisa encontrar alguém – ergue a sobrancelha, vamos iniciar mais uma discussão.
— Primeiro me chame de Annie, por favor, detesto que me chamem de Anastasia – semicerro os olhos pois ela sabe disso — Segundo – ergo a sobrancelha e faço um biquinho — Para de ficar insistindo, você sabe muito bem que, eu não quero mais homem na minha vida - explico pela duodécima vez.
— Ana ninguém é feliz sozinho – ela murmura as palavras, meu coração me diz que sim, afinal eu estou ótima assim — Não sei do que você tem medo – Kate afirma me encarando com seus lindos olhos verdes.

Eu fecho a cara e prefiro não responder ela sabe muito bem sobre meus medos.
Kate é a minha melhor amiga desde sempre, nós duas trabalhamos no Hospital Central de Seattle. Somos enfermeiras e amamos nosso trabalho. Porém nem sempre foi assim, foi muito difícil chegar aonde eu cheguei, mesmo tendo em meu caminho vários obstáculos.
Se tem uma coisa que eu não quero mais saber em minha vida e de homem. Victor me ensinou muito bem como não confiar nunca mais meu coração a um homem.

— Tá bom não precisa fechar a cara, me desculpa — Kate pede chateada, vindo em minha direção me abraça — Eu só quero que você seja feliz!
- Tudo bem, te desculpo, mas só porque você é minha melhor amiga – reclamo devolvendo o abraço apertado — Agora vamos, estou exausta, e morrendo de saudades da minha pequena – sorrio não consigo ficar brigada com a Kate por muito tempo, ela é a irmã que eu não tive.
— Vamos – concorda quando desfazemos nosso abraço.

Mais um dia, minha vida tem se resumido a isso... Não trabalho todos os dias, e só não o faço por causa da minha pequena, os plantões de doze horas vem a calhar, pois assim tenho mais tempo com a minha filha, apesar do amor a profissão o cansaço as vezes bate forte, chego em casa morta, porém com o sentimento de dever cumprido, ajudar ao próximo me faz bem.

Estaciono o carro em frente nossa casa — Finalmente lar doce lar – murmuro para mim mesma.
Abro a porta, e não tenho tempo nem de entrar em casa, um furacão loiro corre em minha direção.
— Mamãe você chegou – Lauren vem correndo me abraçar.
— Minha pequena linda da mamãe - a envolvo em meus braços, quando ajoelho a sua frente — Mamãe te ama sábia? - inalo  seu doce cheirinho de Tutti Frutti.
— Eu também te amo mamãe, eu tava com saudade – reclama baixinho.
— Eu também meu amor, mas agora mamãe chegou tá bom? – ela balança a cabeça positivamente.
Entro no cômodo da sala, nossa casa é pequena mais tem o tamanho ideal para nossa família. Somos eu, mamãe, Lauren e Benjamim.
— Cadê a vovó? – procuro saber.
— Tá na cozinha fazendo o almoço – Lauren sempre troca a ordem das refeições. Sorrio como é bom ser criança.
— Ela tá preparando a janta pequena - explico.
— É acho que é isso – Lauren se solta dos meus braços, correndo de volta para suas bonecas espalhadas pelo chão da sala.
— Cheguei – anúncio quando entro na cozinha.
— Oi filha – mamãe me olha de cima abaixo — Dia puxado hoje? – pergunta saindo de perto das panelas dispostas sobre o fogão.
Chego mais perto para dar um beijinho em sua testa.
— Sim, um dia daqueles – reclamo baixinho roubando um pedaço de legume da panela. Mamãe ri quando eu queimo o dedo e depois fico soprando.
— Então vá tomar um banho e descansar um pouco, te chamo quando o jantar estiver servido – mamãe sorri voltando para sua panelas, o cheiro está maravilhoso, meu estômago ronca. Eu estou cansada e faminta.
— E meu irmão? – indago pois esse horário geralmente ele já está em casa.
— Não chegou ainda, provavelmente dia puxado também – mamãe sorri com o canto da boca.
— Esta bem – saio seguindo as ordens da minha mãe, sigo para o meu quarto, Lauren e eu compartilhamos o mesmo quarto. Fica um tanto apertado, mais não me importo. Durante meu banho agradeço mentalmente a Deus por ter uma mãe tão maravilhosa quanto a minha, se não fosse por ela e meu irmão não sei onde eu poderia estar hoje. Meu coração dói todas as vezes em que eu me lembro de como Victor me machucou, a gota d'água foi ter me agredido na presença do meu irmão. Eu como sempre achando que um dia ele iria mudar e nada disso aconteceu. Cada vez era pior e pior, mas eu estava apaixonada e não percebia que tudo isso era ruim para mim e Lauren, até o dia em que eu cheguei em casa tarde da noite vindo da faculdade, estava tão cansada nesse dia, que pedi ao meu irmão para trazer Lauren pra casa, e quando ele chegou presenciou tudo, Victor me espancando por que segundo ele, eu estava com algum macho por aí enquanto minha mãe curviteira ficava com minha filha. Me jogou na parede, enquanto gritava alto e eu pedindo pelo amor que ele parasse, porém não havia jeito ele gritava mais alto me chamando de vadia, seu bafo de bebida não negava, ele estava alcoolizado. Me senti e pior mulher do mundo, quando meu corpo se chocou contra a parede e caiu no chão, ele me agrediu mais e mais - eu não merecia isso - cada tapa era como uma facada rasgando meu coração. Sempre fui uma mulher dedicada, trabalhava de dia e estudava a noite, tudo para que tivéssemos um futuro brilhante, entretanto ele nunca viu isso. Quando engravidei da Lauren, ele se transformou, na verdade ele já dava sinais de quem ele era, eu é quem nunca tinha encarado os fatos de frente, pois era perdidamente apaixonada por esse homem.
Jamais vou esquecer a cena... Ben deixando meu pacotinho no sofá do outro lado da sala, e partindo pra cima do Victor que seguia gritando ofensas a mim e desferindo vários tapas na minha cara, enquanto eu tentava me esquivar, porém tudo fica difícil quando você tem um corpo pequeno e franzino.

Flash Back

— Você nunca mais vai encostar um dedo seu na minha irmã seu vagabundo – Ben partiu pra cima dele com tudo. Dando um soco no seu queixo. Enquanto tudo o que eu fazia era chorar.
— Quem você pensa que é seu merdinha — Victor limpa o canto da boca que começou a sangrar.
— Eu sou um homem de verdade não um projeto — Ben parte pra cima dele desferindo vários golpes na cara de Victor, chutes e pontapés. Eu choro tentando voltar a mim, para fazer alguma coisa, toda via não consigo me mover, meu corpo não obedecia, até eu olhar para o sofá e ver minha bebê la quietinha.
Pego ela no colo e corro pra fora de casa pedindo ajuda para meus vizinhos, Ben vai matar o Victor.
Os vizinhos correm para separar a briga e me ajudar quando vêem que eu estou toda machucada, chamam a polícia pra ele.

— Senhora eu sugiro que já que vocês chegaram a esse ponto, é melhor cada um ir para o seu lado – o policial sugere soltando uma lufada de ar. Uma dura realidade cai sobre mim, eu não posso mais levar isso adiante. Minha filha não merece crescer em um lar assim.
— Pode deixar, ela não fica nem mais um minuto aqui nessa casa – Ben me encara sério, sua voz alterada me diz que ele não vai ser contrariado – Vá pegar as suas coisas e as coisas da bebê, nós estamos indo embora para casa – sua voz firme me traz a tona uma frustração, eu nunca fui feliz. Aceno positivamente e corro para pegar minhas roupas do corpo e as de Lauren. Enquanto os policiais mantém Victor lá fora.

— Você não pode ir embora assim - Victor tentou me convencer com sua voz de cordeiro – não posso e não vou mais cair nesse ciclo vicioso de novo. — Eu amo você, você está destruindo nossa família – é sempre assim, ele joga com meu psicológico, me fazendo me sentir culpada.
— Acabou Victor você nunca mais vai encostar um dedo seu em mim novamente – cuspo as palavras, cheia de raiva e ódio. Sua mandíbula se aperta em raiva.
— Se você sair de casa não tem mais volta – afirmou com convicção, tentando me intimidar.
— Não se preocupe eu não vou voltar — olhei bem dentro dos seus olhos uma última vez, antes de virar as costas e deixa tudo para trás.

...

Desde então minha vida nunca foi a mesma, se é que eu tinha uma vida com ele, na verdade era sempre vivendo mais um dia, eu ficava feliz quando passávamos um dia sem brigas e confusões, mais era só uma ilusão. Hoje tenho vivido para minha filha e minha família.

Minha mãe me questionou sobre o por que de eu sofrer calada durante tanto tempo.
Eu não soube responder. Apenas disse que tinha esperança de ter meu felizes para sempre.
Ela não me julgou apenas me abraçou e garantiu que eu ainda o teria meu felizes para sempre, toda via eu não me iludi, todos eles são iguais dizem te amar quando na verdade tem prazer em te ver sofrer.
Uma coisa, eu garanto, jamais um homem vai colocar suas mãos sobre mim de novo.

Eu fiz de tudo pra viver bem, porém eu não podia fazer isso sozinha. Meu maior erro foi ter me entregado de corpo e alma para um cara que nunca me amou de verdade, a decepção me ensinou tudo o que eu precisava saber sobre os homens.

Surpreendida Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora