Até mais, bom garoto

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"Nós estamos sempre reclamando sobre estarmos passando na vida sem sermos notados por ninguém, mas vocês já pararam para pensar que nós também não estamos notando os outros? Talvez estejamos cobrando demais dos outros, sem dar nada em troca, talvez sejamos ingratos demais.

Eu me perguntei várias vezes o motivo de não ter notado o que estava acontecendo com ele, se nós estávamos tão perto, se nós éramos amigos, por que eu não notei o que estava prestes a acontecer com ele? Se tivesse notado, eu seria capaz de impedir? Ou talvez eu simplesmente diria o que todo mundo diz, repetiria que ia ficar tudo bem e seguiria minha vida, pensando apenas nos meus próprios problemas.

Na maioria das vezes, não precisamos de alguém que fique nos repetindo sobre como a vida é boa e por isso não podemos desistir, nem de alguém que tente competir para saber quem tem a vida mais triste. Algumas vezes, só queremos alguém que concorde conosco sobre tudo ser uma droga, alguém que possa te dizer 'eu também me sinto um lixo, eu sei como você se sente'. Nós precisamos ser entendidos, sem que sejamos julgados e condenados.

Não sei o porquê de estar pensando nisso só agora, talvez seja para evitar meus futuros erros, apesar de não saber se serei capaz. De qualquer forma, eu não quero perder mais ninguém que amo, mesmo achando que já perdi ele, pois quando eu comecei a pensar sobre tudo isso, já era tarde demais.

Até mais, bom garoto."

Eu era muito novo pra lembrar daquilo, mas a mãe de Hoseok conta que não nos dávamos bem no começo, eu e ele, porque eu queria que Hobi conversasse comigo, achava que ele era chato e me ignorava, então perdia a paciência e ia brincar sozinho. Naquela época, eu ainda era muito novo pra entender as coisas e pra lembrar de tudo isso agora.

Ainda tenho lembranças dos meus três anos pra cá, apenas momentos vagos, talvez importantes demais pra que eu esqueça algum dia, tem coisas que não posso mesmo esquecer, por mais que queira muito. Por exemplo, eu ainda lembro da minha mãe indo me buscar no jardim de infância, enquanto carregava Hoseok em seus braços.

Às vezes, eu tinha ciúmes da minha mãe com ele, mal sabia eu que depois ela iria embora, invertendo assim nossos papeis, fazendo com que fosse eu a ganhar uma nova mãe.

Quando meus pais se mudaram pra mesma rua que os Jung, eu ainda não tinha nascido, escolheram a casa mais barata pra alugar, o que fez com que minha mãe acabasse ficando próxima de Hyerin. Quando nasci, a mãe do Hobi me visitava todos os dias, então Hoseok nasceu, e eu e minha mãe o visitávamos todos os dias também.

Hyerin precisava voltar a trabalhar, meus pais precisavam de dinheiro, então minha mãe acabou virando babá do Hoseok, é por isso que nos tornamos tão próximos, desde que eu tenho lembranças.

Hoseok era novo demais, não lembra da minha mãe, não sentiu a mesma falta que eu senti, não chorou como eu chorei. Nas primeiras noites, depois que ela foi embora, meu pai passava dias fora, então eu ficava sempre na casa dos Jung, eu chorava sentindo falta dela, esperando que voltasse. Com quase três anos, Hobi ia até minha cama, um tanto desajeitado, e segurava minha mão, enquanto sorria. Eu tenho vagas lembranças sobre isso, não consigo esquecer, não posso esquecer.

Com o tempo, o vazio que eu sentia pela separação com a minha mãe foi passando, eu fui substituindo ela pelo carinho dos Jung, não foi fácil, eu era uma criança, eu estava confuso e triste, mas acabou sendo o melhor, não me arrependo de nada.

Se não fosse pelo meu pai, eu teria tido a melhor infância de todas, ao lado dos Jung, ah, se eu fosse mesmo o filho deles, tudo teria sido tão melhor. De qualquer forma, eu tive os melhores dias ao lado de Hoseok, eu tive os melhores dias tentando ser seu irmão de verdade.

Manual de como (não) se suicidarOnde histórias criam vida. Descubra agora