Ao abrir os olhos e se deparar com o teto completamente branco do seu quarto, o pensamento de que o dia anterior poderia não ter acontecido passa pela mente de Lica. Que tudo não passara de um sonho e que nenhum dos acontecimentos foram reais. Mas, quando se senta em sua cama e olha o caderno de desenho que estava em cima da mesa do computador, constata que tudo de fato aconteceu.
A garota joga a coberta para longe e praticamente pula da cama para observar melhor a capa do caderno.
"Isso não é azul." Pensa.
Lica pega o caderno com tanto cuidado, como se estivesse com medo do objeto voltar a ter a coloração acinzentada que possuía antes, e analisa com tanto apreço a nova cor. Não queria admitir, mas seu peito se aqueceu de uma maneira que não esperava por perceber que o que Tina disse realmente aconteceu com ela.
- Uma cor de cada vez. – Repete e, estranhamente para aquele horário da manhã, sorri.
Sem conseguir conter seu bom humor, a menina começa a se arrumar para ir à escola. Toma banho em praticamente seu recorde de tempo e, ao escolher uma roupa, decide por utilizar sua blusa xadrez que continha a nova cor vista pela menina.
Tanto Marta quanto Leide até estranharam o comportamento da garota, dizendo que nunca haviam visto tanto bom humor vindo dela quanto naquela manhã. Achavam até que estava doente, verificando várias vezes sua temperatura.
- Para, mãe! – Lica diz rindo enquanto tira as mãos de Marta de si. – Eu só acordei bem, não posso?
- Poder pode, meu amor, mas eu sempre achei mais fácil o mundo acabar do que você acordar disposta e feliz pra ir à aula. – Leide ri do comentário de Marta e Lica abre a boca como se estivesse surpresa pelas palavras da mais velha, mesmo sabendo que era verdade.
- Bom, depois dessa eu até já vou embora antes que vocês me atestem como maluca e me joguem em um hospício. – A garota começa a andar em direção à porta.
- Espera, Lica. – Marta se vira para a filha. – Não vai nem tomar um café?
Heloísa para no meio do caminho e volta a caminhar à mesa. Observa os alimentos dispostos e, quando seu olhar se encontra com uma cesta de frutas, ela agarra uma maçã e dá uma mordida nesta, sorrindo e andando novamente para a porta. Ao som das risadas de Marta e Leide, a menina sai de casa, mas não sem antes gritar um tchau.
Era verdade que o bom humor matinal não combinava em nada com Heloísa Gutierrez, mas mesmo assim, não era pra tanto.
Ao chegar no colégio, percebe que ainda havia tempo antes da primeira aula começar, então resolve ir à biblioteca. Sabia que tanto Ellen quanto Tina, que havia dormido novamente na casa da cunhada, não chegariam naquele horário, pois, por mais que sempre chegassem cedo, Lica ultrapassou naquela manhã os parâmetros de 'antes do horário' para qualquer um.
Entrando na biblioteca Heloísa percebe ser a única estudante lá e não se surpreende. Se não havia tantos alunos no pátio, imagina onde estava. Por isso se sente à vontade para procurar pelas estantes, com a plaquinha sinalizando o tema cor, algum livro que a chamasse a atenção. Acaba por pegar um com o nome de Policromia.
A menina se senta em uma das mesas e começa a folheá-lo, lendo algumas sentenças em voz alta:
- A cor é uma percepção visual provocada pela ação de um feixe de fótons sobre células especializadas da retina, que transmitem, através de informação pré-processada ao nervo óptico, impressões para o sistema nervoso.
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Cor de Marte
Fiksi PenggemarPra um mundo onde é apenas possível enxergar em cor quando se vê pela primeira vez alguém que lhe fará experimentar o amor verdadeiro, Lica e Samantha estão tendo bastante dificuldade para descobrir que se amam.