A caixa de Pandora

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Para o desprazer da professora, o diretor era uma das pessoas mais gentis que eu já conheci. Ele conversou comigo sobre diversas coisas e divertiu-se com o ocorrido da sala de aula. Ele elogiou meu texto e disse que eu tinha jeito para a ficção, que era algo digno de cinema. Agradeci o lisonjeio e pedi autorização para ir pra casa. Ele ficou um pouco indeciso, mas nada que um pouco de dicção e argumentação não façam, e logo me liberou.

Chego em casa e ignoro a existência da minha mãe, que está na cozinha ouvindo músicas brasileiras cujo o significado me faz desacreditar da humanidade. Vou direto para a biblioteca, pegar as anotações do meu avô. Desde sua morte, não consegui abrir a caixa que ele deixou para mim de herança. Ficava horas a fio a observando, derramando algumas lágrimas secas que sequer mudavam minha expressão facial.

Estar em Quebec piorava tudo isso. Tudo nessa cidade lembrava ele, e eu odiava aquela cidade. Eu queria voltar para Vancouver e ter minha vida normal, mas depois de ler as anotações de meu avô eu sei que nada voltaria a ser como antes. Meu avô era um neurocirurgião aposentado, e depois de largar o ofício, decidiu abandonar a vida em Vancouver e se mudar para Quebec. Essa decisão mudou tudo, pois foi na mesma época que ele descobriu o câncer no cérebro. Graças a isso, nossa família mudou-se para Quebec imediatamente. Foi horrível andar pelas ruas e se sentir em outro país, isso sem contar com o preconceito por não saber falar francês. Mas em contrapartida, foram os melhores meses da minha vida por estar do lado do meu avô.

Quando ele estava no seu leito de morte, meu avô disse algo que mudou minha vida:

- Filho, você sabe de minha condição e sabe também que o tempo está cobrando seu preço. Eu queria poder lhe dar algo concreto para deixar de lembrança, mas encontrei algo melhor ainda: O conhecimento. Pegue aquelas duas caixas que estão em cima do guarda-roupa. - Levantei-me e fiz o que meu avô pediu. Ele continuou logo em seguida:

- Nessas caixas, estão os legados da minha vida. A que está com o número 1 você pode abrir após minha morte. A dois, você só poderá abrir quando você entender o objetivo de eu ter lhe dado a primeira caixa. Te amo, meu filho. - Nesse momento ele sorri e fecha lentamente os olhos.

E essas foram as ultimas palavras do meu avô. Ele teve uma morte tranquila, com a luz da varanda de seu quarto iluminando tudo, como se os céus requisitassem sua presença. Aquele dia acabou naquele exato momento para mim.

Não preciso dizer o quanto eu sofri com tudo aquilo. No mesmo dia, minha mãe herdou a casa e nós nos mudamos para ela, de acordo com o ultimo desejo em testamento de meu avô. Naquela noite, enquanto chorava e soluçava, olhei para a caixa em cima do criado-mudo. Saí da cama, peguei a caixa, fui em direção a escrivaninha e comecei a criar coragem para abri-la. Quando abri, havia uma série de textos e três livros com capa de couro. Todas as anotações e dois livros estavam em francês (para minha tristeza), com exceção do maior volume, que estava em uma língua que eu não conhecia.

Quando concluímos a mudança para a nova casa, eu comecei meus estudos. Graças ao vovô, consegui ficar fluente em francês em três meses. Passei dias trancado na biblioteca dele, com centenas de dicionários e gramáticas de francês. Os documentos separados falavam de um projeto chamado MK-GIGA - Controle Mental Beladona. O projeto tem registros desde 1947. Foi a partir daí que comecei a me interessar realmente pela coisa toda. O primeiro livro era um livro de neurologia. O segundo era sobre psicologia e psicanálise. Os dois livros foram escritos a mão por meu avô. Li e reli tudo em busca relacionado ao Projeto Beladona, mas os livros não tinham informações muito relevantes, já que todo aquele estudo eu poderia encontrar na internet. Mas decidi analisar as informações mais afundo. Comecei a estudar cifragem e criptografia, mas nada disso me ajudava em muita coisa, porque mesmo quebrando o padrão da cifragem do livro, eu não conseguia compreender o sentido das palavras, pois existia a mistura de várias palavras do inglês, do francês e outra língua desconhecida.

Estava prestes a desistir de tudo quando fui agraciado com uma queda de energia na minha casa. Tive que ler os documentos à luz de velas, que me fez perceber que a maior parte dos documentos possuíam marcas d'água. Com isso, finalmente consegui decifrar tudo. Em síntese, as anotações do livro criptografado eram referentes ao Projeto Beladona na sua aplicação prática. Cada palavra do livro estava em um padrão de línguas, que variavam de página pra página. Tive que aprender esperanto, o que não foi um desafio, mas foi essencial para decifrar o mistério. Quando percebi, o ano já estava quase na metade e eu já tinha um método infalível de controlar a mente de qualquer pessoa através desse conhecimento. Obrigado, vovô.


Mind Killer: O assassino da sanidadeWhere stories live. Discover now