Contrato sem volta

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Claro que no meio tempo que eu pesquisava eu tinha outras coisas a fazer. Na escola, estudava o suficiente para passar de ano, já que ficar a madrugada inteira acordado me custava um pouco de energia para o dia seguinte. Amigos era uma coisa bem rara, mesmo depois que eu aprendi a falar francês. Isso acontecia por que o brutamontes da escola espalhou para todos sobre a doença do meu pai. Aquela maldita multidão de hipocondríacos me chamava de tubérculo, infecção ambulante, e diversos apelidos que eu poderia dedicar um capítulo apenas para listar tanta idiotice.

Mas haviam exceções. Era o caso de Finn. Ele era mais um daqueles garotos fantasma desprezado pela sociedade, que passava o dia na biblioteca para fugir das aulas que não eram de seu interesse. Mesmo com esse comportamento -  no mínimo exótico, se é que me entende - ele era genial. Lembro-me da primeira conversa que tivemos:

- Livro legal. - Disse Finn sentando-se ao meu lado na biblioteca e apontando para o livro do Projeto Beladona.

- Oh, olá. Tem algo que eu possa ajudá-lo? - Tento soar em um tom amigável, mas não consigo disfarçar meu desinteresse em conversar.

- Você tem dificuldades com francês não é? - Nesse momento, fico envergonhado, porque meu francês na época ainda era péssimo

- Sim. Mas é porque não sou exatamente do Canadá.

- E de onde você é?

- Eu nasci nos Estados Unidos enquanto meus pais estavam morando por lá. Eu cresci apenas com o inglês, e por vários motivos pessoais, acabei vindo parar aqui.

- Uhum. E de que se trata o livro?

- É exatamente isso que eu quero descobrir. - Digo em um tom mais sério, na tentativa de afastá-lo.

- Bom, já tentou na Deep Web?

- Não. Na verdade, não faço a mínima ideia do que seja. - Nesse momento, os olhos de Finn brilham de entusiasmo. Ele pergunta:

- Você quer que eu lhe mostre?

Aceitei a proposta, já que não tinha nada a perder e todo meu raciocínio havia sido quebrado. Ele pede educadamente para que a bibliotecária ceda o computador para uma pesquisa, e ela não se opõe. Ele começa a me explicar todo o conceito e o passo a passo para acessar a Deep Web. Nunca tive oportunidade de dizer isso a ele, mas eu sou eternamente grato por aquela conversa.

Passamos a tarde navegando na Deep Web e confesso que foi bastante divertido. Acho que foi o único dia que eu realmente gostei de ir para a escola. A aula acabou e, pela primeira vez, fui ao meu quarto depois da aula desde a morte do vovô. Comecei  a pesquisar loucamente sobre cifragem e códigos. Entrei em vários fóruns e conversei com pessoas de diversas partes do mundo. Até chegar em um fórum específico que buscava um mercenário para fazer um trabalho sujo não especificado. O trabalho não me interessava, mas como envolvia codificação, eu entrei.

O site tinha basicamente um enigma gigantesco. E embaixo do enigma, você podia dar sua sugestão para a solução do enigma. Caso a resposta fosse correta, você estava automaticamente contratado. Fiquei a noite inteira dedicado a isso, como um treino para ver o que eu havia aprendido. Consegui por volta de meia noite uma resposta, e para minha surpresa, eu acertei. Fique extremamente feliz, até chegar uma mensagem na tela do meu computador :

"Parabéns, mente brilhante. O seu serviço é destruir a vida de Ravena Grimaldi. Elabore algo até a meia noite de amanhã e lhe darei todos os recursos necessários. A única regra é: você não pode matá-la. O pagamento será em formato digital assim que você concluir o plano.

Ulrick Bismark."

Naquele momento, meu sangue congelou. Fiquei com tanto medo que passei a noite com minha pressão baixa. Sabia que estava vendendo minha alma para o diabo, mas estava ansioso para ver no que isso ia dar. E principalmente, para saber quem era Ulrick Bismark.

Mind Killer: O assassino da sanidadeWhere stories live. Discover now