Da abstração a prática

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O dia seguinte foi terrível. Passei o dia inteiro escrevendo várias coisas no caderno para mostrar ao tal de Bismark, mas nada parecia ser viável. Pensei em perguntar ao Finn, mas ele fez o favor faltar naquele dia. Minha única opção era consultar o vovô. Dediquei o dia a ler os últimos capítulos do livro sobre psicologia do vovô. O final do livro falava sobre hipnose e suas mais sortidas aplicações. Então comecei a bolar um plano me baseando nisso. Fiz todas as anotações para o plano, e assim que cheguei em casa, digitei tudo para poder mandar ao Bismark. Mas antes de mandá-lo, comecei a pesquisar feito um louco sobre esse cara.

Ulrick Bismark era noivo de Ravena Grimaldi. Era de família rica e seu casamento foi arranjado para aumentar seu patrimônio e sua influência na região de Mônaco. Mas o conto de fadas foi para o espaço quando Ulrick foi largado no altar por Ravena durante a cerimônia. A confusão foi tão grande que ele teve que se mudar para a Alemanha.

Depois de estudar tudo sobre ele e ver suas reais motivações, mandei o documento para o site particular que ele me passou na noite passada. Não obtive resposta imediata, então parti do pressuposto de que estava me comunicando com alguém. No dia seguinte, antes de ir para a escola, dei uma olhada no site para ver se obtive alguma resposta. Estava a seguinte mensagem na tela:

" - Parece promissor, e é algo bastante interessante. Mas você acha que consegue fazer isso?"

Me senti desafiado com aquilo. Então usei do artifício do blefe na mensagem seguinte:

" Provavelmente. Só preciso de tempo para concluir minhas pesquisas e programar a melhor forma de por o plano em prática. "

Desliguei o computador e fui para a escola.

Comecei então a desenvolver o método da minha pesquisa. Passei todo o período da manhã estudando as formas que eu poderia aplicar isso até que finalmente cheguei a conclusão. Quando cheguei no período da tarde, precisava urgentemente ver se a teoria se aplicava na prática. Para minha felicidade, Finn estava na escola, e ele seria o alvo perfeito - um cobaia, melhor dizendo - para praticar. Ele estava na biblioteca, como de costume, lendo um jornal velho e fingindo interesse nas notícias. Sento-me ao seu lado e o cumprimento:

- Olá Finn! Está tudo bem com você? Percebi que você não veio ontem...

- Sim, tudo ótimo. Posso ajuda-lo com algo - ele responde em um tom sério, o que me deixa levemente desempaciente. Depois daquela resposta seca, decido parar com rodeios e começar o meu plano.

- Só queira saber o que você acha desse som. Escute com atenção e veja se o acha familiar. - Começo reproduzir o som. Um estalar de dedos, três batidas na coxa... O som monótono e repetitivo, tal qual as batidas de um relógio. Finn fecha o jornal e me observa com curiosidade. Começo então a segunda etapa. Solto um bocejo e digo:

- Aah, que sono. Você também não está ficando sonolento?

- Não tanto. - Responde Finn bocejando com uma voz lenta.

- Feche os olhos e escute o som. - Eu fecho os olhos em seguida por cerca de 15 segundos. Ao abrir os olhos, vejo que Finn havia seguido minha sujestão. Nesse momento dou minha cartada final. Bato palmas com força e grito:

- Durma!!!

Finn cai então em um sono profundo sobre minhas pernas. Eu fico sem ação, em estado de total descrença por ter dado certo. Agora eu precisava terminar o que eu havia começado.

- Muito bom. Quero que você imagine algum lugar muito bonito e me diga o nome.

- Cataratas do Niágara. - Responde ele em um tom quase inaudível.

- Ótimo. Você está em um sonho agora, nas Cataratas do Niágara. Eu sou você, sou a voz da sua consciência. Tenho a voz da pessoa que você mais confia: você mesmo. Você deve sempre me ouvir e me obedecer independente das circustâncias. Você concorda?

- Sim.

- Excelente. Agora, darei sua primeira ordem. Será nosso meio de comunicação. Toda vez que eu precisar falar com você, será através do seu amigo Ryan. Quando Ryan bater palmas três vezes, você voltará a dormir e conseguirá ouvir minha voz. Você entendeu?

- Sim.

- Muito bem. Quando você poderá se comunicar comigo?

- Quando Ryan bater palmas três vezes. - Disse o Finn dorminhoco.

Eu estava prestes a dar mais comandos ao Finn, quando ouvi as passadas da bibliotecária. Institivamente, mandei Finn acordar. Finn acordou um pouco sonolento, sem lebrar do que acontecera. Ele voltou a ler o jornal e eu me despedi dele. Não consegui disfarçar minha expressão de descrença, e antes de sair, ele me pergunta:

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. Só vou pedir para ir pra casa porque estou um pouco mal.

E assim eu fiz. Conversei com o diretor e fui para casa. Cheguei em casa e minha mãe estava na sala. Ela perguntou:

- Você está bem meu querido? Sua pele está tão pálida.

- Estou um pouco tonto. Preciso descançar.

Corri para meu quarto em direção ao banheiro. Vomitei e passei alguns minutos me encarando de frente ao espelho pensando em que atrocidade eu poderia ter feito com o Finn. Minha melancolia foi interrompida pela vibração do meu celular em meu bolso. Abri e vi a seguinte mensagem:

"Precisamos nos encontrar pessoalmente hoje. Me encotre as 20:00hs no chez Jules, e se identifique ao garçom como William. Ulrich."

Agora tinha que decidir. Será que eu devo ir a esse encontro?

Mind Killer: O assassino da sanidadeWhere stories live. Discover now