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Rodeado de memórias e momentos dispostos na forma de um caleidoscópio, o seu corpo flutua no vazio da sua mente, sem âncora para se firmar. Durante algum tempo, é como se o mundo não existisse e ele também não. À falta de melhor palavra para descrever o que sente, sente-se separado. Do mundo e de si mesmo. A sensação não é de todo nova para ele, mas há alturas em que parece ficar mais intensa.

Na sua mão está a caixa de madeira com a tampa aberta. Lá dentro não estão pedaços de lã, mas sim um novelo intacto. A curiosidade vence o medo e ele agarra no novelo. O novelo explode num caos de filamentos vermelhos que o envolvem e o arrastam e o cospem de volta para a livraria.

Onde o vermelho continua a envolvê-lo, mas apenas ao seus pés.

A senhora já não está lá. Não sabe para onde ela foi, mas sabe que esse desaparecimento não foi a única alteração que aquele pedaço do mundo sofreu desde que ele perdeu os sentidos.

A realidade da situação alerta-o para o perigo de continuar ali. Mas não pode ir sem encontrar o que precisa, ou pelo menos sem encontrar uma maneira de reduzir o campo de busca.

Abandona o vermelho, contorna o balcão e começa a abrir as gavetas, ou a tentar, pois as gavetas estão fechadas e a senhora, para onde quer que tenha ido, levou as chaves consigo. Com tempo talvez consiga arrombá-las. Com tempo e com um pé de cabra. Infelizmente, não tem nem uma coisa nem outra.

Olha em volta, procurando sem saber o que procura. A sua atenção é atraída por um pequeno livro colocado ao lado da caixa registadora. Sem olhar para o seu conteúdo, enfia o livro no outro bolso do casaco e abandona a livraria antes que mais alguém entre.

INTERSECÇÕES - Fragmentos 0.7: O HOMEM DE FATOOnde histórias criam vida. Descubra agora