Palavras sobre mim: Meus passos

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Você já analisou seus passos?

Seus passos são pesados?
Ou voam como pássaros?
Ou um meio-termo?

Meus passos ainda são pesados.
Não flutuam no chão.
Nem sobrevoam nos céus.
Calçam extensas reminiscências.
Que trazem dores em minhas pernas. Memórias pesadas e grudadas como sanguessugas, ficam ali a sugar meu sangue, vagarosamente, diariamente.
Impedindo meu brilho de viver.
Não são memórias dos grandes feitos de um sábio ancião ou de um mártir endeusado ou de um ex-herói de guerra aposentado.
Ou de um ser humano bem-sucedido a vangloriar-se por tal merecimento.
Meus passos tem retidão.
E tem um peso de emoção sufocada.
E de uma auto-culpa há muito impregnada.
Meus passos não sabiam percorrer os galhos de minha árvore, os ramos de minha haste.
Veja que a haste é flexível e dela saem os ramos ( em determinadas plantas).
Talvez isso seja parte do florescer.
É um navegar com seus ramos, flutuar e voar, sem nada mais a te perturbar.
Aconteceu que eu quis cortar minhas ramificações e enquanto isso, minhas emoções me sugavam de forma sufocante, como se eu me afogasse nelas.
Tanto as negativas como as positivas. Você fica meio que "parado", absorto na emoção.
Dessa forma as emoções devoravam-me e meus galhos não se expandiam.
Permaneciam em meu tronco reto, inflexível e com espinhos velhos e novos, cada vez mais pregados no meu tronco ou haste, que seja.
Essas emoções me paralisavam, agiam como se fossem donas de mim e me davam ordens para eu não nadar nas curvas de meu rio, e nem me mexer para olhar e enxergar suavemente e serenamente, meus próprios ramos.
Uma espécie de auto-prisão não desejada.
Por fim, diante de tal mutilação da essência de meu ser, acabei por morrer assim, um tronco reto e sozinho.
Dizem que temos que nos perdoar também.
Mas, às vezes é difícil.
Às vezes, não consigo.

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