Capítulo 26

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Nicolas Narrando

A Manu me fez subir para o quarto dela para conversarmos. Eu nunca conversei com ninguém sobre isso que vamos conversar.

Eu acabei trancando isso em mim. Mas eu preciso colocar pra fora. Pode-se dizer que esse trauma de infância me sufoca às vezes.

Entramos no quarto e ela já foi sentando na cama, e eu acabei deitando no colo dela.

- Eu sei que você precisa desabafar - falou me dando um beijo na testa

- Por isso que eu te amo - falei

Eu sou perdidamente apaixonado por essa garota. Ela me faz tão bem.

- Vou contar então - falei

- O sonho dos meus pais sempre foi ter dois filhos, mas depois que eu nasci, o médico da minha mãe disse que ela não poderia engravidar de novo, por um problema no útero. Meu pai ficou bem chateado, ele sempre quis um casal de filhos. Minha mãe sempre me falava que ele amou quando eu nasci, mas ele se afastou por querer trabalhar mais e dar uma vida cada vez melhor para a esposa e o filho.

- E quando eu tinha 9 pra 10 anos, minha mãe conseguiu engravidar. A felicidade lá em casa era tão grande, eu pirei, eu iria ter um irmão ou uma irmãzinha. Eu sempre quis alguém pra cuidar e brincar, eu cresci meio solitário. E quando minha mãe descobriu que era uma menina, parecia surreal. Nessa época, meu pai e eu nos aproximamos muito, ele vivia comigo, e eu estava amando isso.

- Eu acho até que lá em casa ainda tem uma foto nossa nessa época - falei, a Manu parecia bem atenta a história

- Eu nunca reparei - falou triste, ela parecia saber o rumo da história

- Enfim, nós três que montamos o quarto da Melissa, o sonho da minha mãe era ter uma filha com essa nome. Aí tudo desabou, eu cheguei da escola um dia e fui correndo dar um beijo na minha mãe e na minha irmãzinha, e a cena que eu vi foi a minha mãe sangrando no banheiro, ela estava com a mão na barriga chorando e falando o nome da minha irmã várias vezes. Ela estava sozinha em casa, a minha babá, a Joana, tinha saído para fazer compras.

- Ei calma - a Manu falou depois de ver algumas lágrimas rolando por meu rosto - Se não quiser..

- Não tudo bem - falei

- Eu corri para ligar pro meu pai, ele veio correndo pra casa e levamos ela pro hospital. Mas ela teve um aborto espontâneo e logo depois precisou fazer a retirada do útero - falei já chorando lembrando daquele dia

Eu vi uma lágrima escorrer pelo rosto da Manu, ela me tirou do colo dela e me abraçou. Deixei algumas lágrimas escorrerem.

- Não terminou - falei e ela assentiu

- Meus pais quase entraram em depressão, os dois. Eu tentava dar todo apoio para a minha mãe, mas o pai se afastou, ele ficou mais sério, eu quase não o via mais sorrir. Parecia que ele tinha perdido os dois filhos, mas eu estava la. Minha mãe dizia para eu não ficar chateado, mas anos se passaram e ele continuou o mesmo pai seco. Aí eu comecei a fazer tudo que irritava ele, eu dava festas quando eles não estavam, tirava nota baixa, eu sempre estava levando advertência.

- Eu queria afetar ao meu pai, mas eu acabava afetando a minha mãe. E é assim até hoje, bom, eu melhorei, depois que você esbarrou em mim. - terminei sorrindo para ela

- Nick, eu não sei o que falar. Você nunca tentou conversar com ele? - perguntou e eu neguei

- As vezes parece que ele quer desmanchar tudo o que eu quero - falei

- Ele é o seu pai, ele não faria isso - falou passando a mão no meu rosto

- Ele não sabe ser pai - falei - Eu quero sair daquela casa, Manu

Bem Mais Que Uma Simples Mudança.Onde histórias criam vida. Descubra agora