Capítulo 02 - Opções

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Jeremias

Ontem, depois que saí da casa da Valerie, decidi que não iria forçar a barra. Eu a quero de volta sim, mas vou esperar que sua vontade seja a mesma que a minha, só que isso não significa me manter distante. Mesmo que ela não admita, sei que está precisando de ajuda. Meus olhos varreram o local onde eles moram. As condições são precárias e com certeza as dificuldades que passam vão além de não ter dinheiro para pagar um táxi.

Eu acordo cedo e decido ir até lá. Coloco uma roupa confortável e desço até a garagem.

Ou Valerie aceita minha ajuda ou volta a trabalhar no restaurante. Aquela birrenta precisa entender que dar o braço a torcer não é demonstrar fraqueza. Eu não posso dizer que sei o que é passar necessidade, minha família é muito rica. Meu avô foi um dos primeiros empresários que apostaram no ramo da tecnologia — e algo que começou pequeno, ganhou vários países. Atualmente, meu pai, único filho e herdeiro, comanda a New Age Enterprise. Como eu disse, nunca tive que me preocupar com dinheiro, mas posso afirmar que não sei o significado de se ter o essencial. Sempre tive o que quis, no entanto, nunca me deram o que é preciso, o que toda criança quer e não custa nada: atenção.

Minha mãe é o tipo de pessoa que valoriza a conta bancária, não as qualidades. Meu pai só sabe da minha existência porque não consegue aceitar o fato de que larguei o negócio da família para cozinhar. Minha decisão de abrir o restaurante gerou muitos conflitos. Porém, não me arrependo de nada. Hoje, o Tritton é um restaurante bem visto e extremamente conhecido. Tenho orgulho de falar que sou bem-sucedido por mérito próprio.

Paro o carro em frente ao prédio, subo até o terceiro andar e bato na porta do apartamento 12. Quem me recebe é Dasha. Ela avisa que Valerie foi até a farmácia, mas logo estará de volta. Entro e vou até a cozinha, a senhora maluca e muito simpática me faz sentar e me oferece uma xícara de café.

— Obrigada pela carona de ontem, Remi — Dou risada, Valerie me chama assim. Não faço ideia de onde veio esse apelido ridículo, só sei que gosto dele.

— À disposição, Dasha. — Encaro-a. Eu sei que Valerie tem muitos segredos e sei também que ela não está pronta para me contar quais são. Não vou pedir que revele nada, mas quero que me avise se precisarem de alguma coisa.

A mulher parece reluzir de contentamento.

— Eu sabia! Se a Lee não se render a você, eu me rendo — cantarola. Jogo a cabeça para trás e solto uma gargalhada. — Ué... estou em ótima forma.

— Claro que está! — falo, ainda rindo. — Não vou me esquecer disso.

— Mamãe! — Benjamin entra na cozinha, vestido em um pijama cinza com várias estrelas brancas. Seus cabelos estão bagunçados e as mãos coçam os olhos.

— Acordou, amorzinho? — Dasha vai até ele. — Venha aqui com a vovó. Mamãe foi comprar seu remédio, já ela volta.

— Remédio — repete, mas logo sua atenção muda de foco. — Tô com fome.

— Vamos comer, então. — Ela puxa uma cadeira e o coloca sentado.

Ben para de prestar atenção na caixa de cereais e me encara. Os olhos do menino são tão azuis que parecem transparentes, pele branca e rosto redondo, a única semelhança com a mãe é a cor negra dos cabelos.

— Oi — diz empolgado.

— Oi — respondo.

— Quer? — Ele oferece sua tigela.

— Não, mas obrigado. — Pisco.

Ele sorri e aguarda enquanto seu pote é preenchido com cereal e leite. Depois, ataca a comida.

MEU PRESENTE É VOCÊ - LIVRO III (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora