Capítulo 03 - Obstáculos

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Valerie

Conversei muito com a Dasha ontem à noite. Nós precisamos do dinheiro. O salário que eu ganho no restaurante dá para nos manter e ainda guardar um pouco.

A única coisa que falta é deixar claro para o Jeremias que nosso relacionamento será só profissional. Eu preciso manter Benjamin seguro, e me envolver com ele impacta nisso. Além do mais, Remi não precisa se meter com algo que só traria problemas para sua vida.

Saio de casa, decidida e temerosa. Minha mente sabe o que tem que fazer, no entanto, se Jeremias tocar em mim, eu cederei. Não só pelo sexo, mas por tudo o que sinto.

Entro no Tritton e sou bem recebida por todos, permito-me sentir nostalgia por ser bem-vinda. Minha infância não foi lotada de elogios e carinho pela parte materna, muito pelo contrário, minha mãe fazia questão de frisar que eu era apenas a consequência de um casamento rotineiro. Sempre que chegava em algum lugar que ela estava, sua cara deixava claro que não me queria por perto. Graças a Deus que eu tinha meu pai. Tinha.

Aquela pontada de tristeza quer dar as caras, mas trato de mandá-la embora. Não posso permitir que o desânimo e a dor me consumam. Eu tenho uma família para proteger.

Depois de cumprimentar todos, Norton informa que Jeremias me espera no escritório. Sem mais delongas, sigo para lá.

Ele está sentado, todo cheio de si, na cadeira que mais parece uma poltrona. Cabelos jogados para o lado, com apenas uma mexa pendida displicentemente na testa. Olhos caramelos concentrados em um ponto fixo, enquanto as duas mãos apoiam o queixo. Esse homem é espetacular. Uma mistura de culto, doce e voraz.

— Jeremias... — Sua boca se abre um pouco quando me vê ali, mas logo pigarreia e diz meu nome. — Precisamos conversar — aviso.

— Tudo bem. Sente-se. — Indica o sofá.

Ele levanta e fecha o botão do terno, toma um gole da água que está em cima da mesa e vem se acomodar de frente para mim.

— Diga.

Apoio os cotovelos nos joelhos e passo a mão na nunca. Nervosismo. Isso me descreve.

— Eu aceito voltar a trabalhar aqui — vou direto ao ponto —, mas tenho uma condição.

— Estou ouvindo.

— Nós não podemos ter nenhum tipo de relação além de patrão e funcionária. — Jeremias se inclina para frente e coça a barba.

— Nós podemos. — Penso em retrucar. — Sim, nós podemos — reforça. — Porém, você não quer.

Percebo a decepção e a raiva no seu tom, mas, ao invés de dizer que eu quero loucamente aquilo, opto por fazer o certo.

— Exatamente. — Levanto-me e esfrego as mãos suadas na minha calça jeans. — Então, estamos entendidos. Vou me trocar e cuidar do meu trabalho. — Indico, meio sem jeito, a porta.

— Certo, senhorita Hayes. Pode se retirar.

Ele não está contente.

Eu não estou feliz.

Mas o importante é fazer o que tem que ser feito.

Jeremias

Tenho uma condição.

Todas as vezes que essas palavras deixam sua boca, eu tenho certeza deque não vou gostar, mas, como prometi não forçar, vou acatar sua decisão.

Valerie sai e me deixa ali, irritado. Não estou acostumado com a negação.

Para ocupar a cabeça, desço até a adega para conferir o estoque de vinho. Na hora do almoço, vou até o salão para ver como estão as coisas, converso com alguns clientes que viraram amigos e acerto o cardápio da próxima semana com Norton.

MEU PRESENTE É VOCÊ - LIVRO III (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora