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Pitter

Cheguei em casa com uma enorme dor no abdômen, agradeci por Luísa já ter colocado a Bárbara pra dormir e não ter que fazer perguntas.

Mais ainda assim encontro com Luísa na cozinha.

- Senhor, aconteceu alguma coisa? - Pergunta arregalando os olhos.

- Não foi nada... Pega água pra mim, por favor Luísa.

- Como assim não foi nada senhor, você está todo machucado. - Fala assim que me entrega o copo com água. - Vou pegar um remédio pra você.

Tento dizer à ela que não precisa, mas realmente estou sentindo dores por todo meu corpo.
Subo as escadas um degrau de cada vez parecendo uma tortura.

Acordo na segunda com a dor quase nula. Ótimo.

- Papai, você não vai me deixar hoje na escola?

- Não meu amor, vou pro escritório mais cedo, mas Luísa vai levar você.

Fico esperando elas saírem pra mim voltar pro quarto e me deitar.
Ligo pro Bob pra assumir a empresa pra mim, já que minha disposição não está pra nada.

Bob é o meu secretário e logo depois da morte da Melissa, ele assumiu a empresa por mim por um longo tempo.

Acordo com Bárbara do meu lado me chamando. Quê? Já é meio dia... Droga!

- Papai, papai...

- Oi Bárbara... - Digo ainda entre sonhos.

- Papai não foi trabalhar?

- Não meu amor, papai dormiu demais.

- Então a gente pode ir na sorveteria agora?

- Vamos sim, deixa só papai tomar um banho.

***

- Quero de morango. - Diz Bárbara pra atendente.

- Hum, quero um de Baunilha por favor. - Sim, ainda prefiro o mesmo sabor desde quando vinha com a Melissa.
Ela adorava sorvete de Baunilha. E isso me faz lembrar dela.
Procuro nunca esquecer os seus mínimos detalhes. Pra mim, ela só está fazendo uma longa viajem...

***

- Minha florzinha vem aqui dá um beijo no papai... - Grito enquanto estou prestes à sair para o trabalho.

Sim, irei pela parte da tarde.
Bob me ligou avisando que tinha uns contratos pra assinar urgentes e somente eu poderia fazer isso.

Chego na empresa, e claro, sou recebido com vários sorrisos e acenos, todos querem passar uma boa impressão pro chefe.

Trabalho... Pra mim parece diversão, ficar atrás de uma mesa só assinando papéis...
Mais claro, o meu outro trabalho é bem mais divertido.

Depois do ocorrido, Bárbara foi passar um tempo com os avós, logo quando eles tiveram que mudar de cidade ela voltou, eles até queriam levar ela, mas ela preferiu ficar comigo.
Tive que contratar Luísa como babá.

***

1 semana depois...

Voltando pra casa depois de um dia de trabalho cansativo, pois tive algumas reuniões.
Paro na faixa, esperando logo que o sinal abra.
Olhando distraidamente vejo passando ao lado do meu carro a menina da boate, Júlia. Mas ela não tem nem como me ver, os vidros do carro não ajudam.
Então como se adivinhasse ela para. Mas não por saber que aquele era o meu carro, seria coincidência demais entre tantos ela saber justamente o meu.
Ela para por conta que um cara chega ao lado dela e fala alguma coisa apontando pra uma direção.
A sua feição muda e torna-se de curiosidade à pânico. Então ela começa a chorar.

O sinal abre, e os carros furiosos atrás businando pra mim ir logo.
Sigo o caminho, mas dou a volta no quarteirão e paro numa rua que dá pra ver Júlia andando do lado do cara e agora o rosto vermelho de tanto chorar.
O que será que aconteceu?
Como a curiosidade fala mais alto, vou seguindo eles devagarinho até pararem na frente do prédio abandonado em que ela mora.
Vejo ela adentrar correndo. Só então desço do carro e percebo uns caras comentando sobre algo que aconteceu.
Eles falam muito rápido e um deles põe a mão na cabeça dizendo que foi culpa dele.

Passo por eles e entro na construção, caminho indo direto ao lugar que encontrei Júlia pela última vez.

Quando chego no local ouço ela chorar e chamar alto o nome de Felipe, que pelo que me lembro é irmão dela.
Então vejo seu irmão caído no chão com as roupas cheias de sangue e Júlia com a cabeça dele em suas pernas chorando e implorando pra ele não deixá-la.

Olho pra feição dele e percebo que ele já não pode mais ouvi-la, ele já nem está mais respirando, ele se foi.
Júlia grita pelo seu nome e num ato de descrença cai ao seu lado.

***

Fico imaginando tudo que passou pela cabeça dela ao ver seu irmão caído no chão todo ensanguentado, será que foi a mesma sensação que eu tive quando encontrei Melissa?

E agora pelo que pude perceber ela ficou sozinha no mundo.
Seu único laço acabou de partir.

Acabei por levar ela à um hospital, aposto que quando ela acordar e recordar de tudo vai acabar por pensar que foi um sonho.

Percebo ela se remexendo na cama e enfim abre os olhos, tentando decifrar onde está.
Enfim ela me vê na poltrona ao lado.

- O que aconteceu?

- Você desmaiou. - Digo já olhando nos seus olhos e sabendo que ela já está se recordando.

- Meu irmão... - Pronuncia já começando a chorar e colocando as mãos no rosto.

- Júlia eu... Sinto muito, sinto muito mesmo...

Ela, como qualquer pessoa que perde alguém que ama, fica em estado de choque e desespero.

Após ela ter alta e sair do hospital fomos até o local onde tudo aconteceu.
Um amigo deles tinha se encarregado de recolher o corpo do necrotério e fazer todo o resto.

Chegamos lá, e no lugar onde ele tinha morrido, só tinha marcas de água e nem parecia que ali a poucas horas tinha alguém morto.

Olhando pra ela naquele estado, sem ninguém pra ampará-la. Sem nenhuma pessoa pra abraça-la e dizer que ia ficar tudo bem. Fiquei imaginando como seria a vida dela agora que ela já não tem mais ninguém.
Nesse instante eu percebi que podia sim fazer algo. Poderia haver sim uma pessoa com quem ela contar.

Eu...

- Pega o que você tem aí e vem comigo.

No Passo Da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora