Inesquecível [Romance Lésbico]

03 - Clarisse

POV. Clarisse

Minhas mãos tremeram e eu me senti novamente aquela adolescente apaixonada, bem apaixonada eu ainda era, mas agora eu era uma mulher, uma mulher que jurava que havia conseguido deixar o passado no passado, mas não foi assim que aconteceu e eu só descobri isso dois dias antes do casamento, enquanto eu lia um jornal brasileiro online, mesmo morando em Londres eu gostava de saber o que acontecia no meu amado país, navegando entre as lastimáveis notícias sobre política e violência estremeci quando li a notícia que me abalou profundamente, em letras garrafais estava escrito em negrito:

"CONTO DE FADAS: ULTIMO HERDEIRO SOLTEIRO DO MAGNATA PAULO CARUSO, CAIO CARUSO, VAI SE CASAR COM A JOVEM CHEF DO  BRASILIS, MIRELA ANDRADE."

Meu coração falhou a batida uma, duas, três vezes e naquele momento se não fosse os exercícios frequentes que eu fazia e a alimentação saudável, talvez eu tivesse infartado.

Li a matéria com lágrimas nos olhos, eu esperei sinceramente, mesmo achando que a tinha esquecido, ao menos tentado, não tanto, mas tentado na hora da mágoa e depois afundando em trabalho pra conseguir mantê-la em um lugar escondido em minha mente, eu acreditei que um dia meu telefone tocaria e seria ela do outro lado da linha falando que me amava, que havia recobrando a memória, me pedindo pra voltar, mas nestes anos todos isso obviamente nunca aconteceu. Mônica sua irmã sempre me ligava fingindo que era pra saber como eu estava, mas no fundo era pra me dar notícias de Mirela, mas essa notícia ela não havia me dado, talvez fosse esse o motivo de ela não ter me ligado nos últimos seis meses, eu sabia que Mirela estava de namoro com o Caio, ele sempre gostou dela, éramos amigos e ele nunca passou dos limites, até o dia em que ela acordou numa cama de hospital, a família dela me odiava, mas aturaram minha presença, porém quando ela abriu os olhos não reconheci ninguém além da família e dele que por ventura era amigo de infância dela.

Como eu me senti?

Bem, sem chão.

Sem ar.

Sem vida.

Tentei diversas me aproximar dela, mas nunca consegui de verdade, todas as vezes fui afastada e rejeitada por ela, nunca contei quem eu era de verdade, não pessoalmente, escrevi uma carta que nunca enviei e aceitei a proposta de ir morar em Paris, de ter meu sonho, nosso sonho realizado. Nosso sonho de ser chef, de ter nosso próprio restaurante cinco estrelas, foi a única forma que encontrei de mantê-la viva em meu coração. E por ventura em meus pensamentos também.

Por mais que eu tentasse eu jamais a esqueceria.

Eu cancelei todos os meus compromissos para a próxima semana e peguei o primeiro vôo para o Brasil, nada era mais importante que ela, nada jamais foi.

Depois de chegar em solo brasileiro descobrir onde seria o casamento, o horário e tudo que envolvia aquele evento foi fácil descobrir, mas antes de tomar qualquer atitude procurei a Mônica.

Marcamos em um restaurante fora da cidade, assim que entrei logo avistei os cabelos ruivos perto de uma janela, meu coração acelerou e por um instante eu desejei que aquela fosse Mirela.

Mônica se levantou animada e correu pra me abraçar assim que me aproximei dela.

---Não finja que está feliz em me ver.

Eu resmunguei apertando-a em meu abraço.

---Não finja que não estava com saudades de mim!

Ela devolveu rindo.

Nos separamos e nos sentamos.

---Por que não me disse que ela ia se casar?

Perguntei sem rodeios.