Inesquecível [Romance Lésbico]

32 - The End

Mirela estava de pé olhando pela janela do quarto do hospital, se sentia muito bem aquela manhã, apesar de ter discutido com Clarisse e a mesma não ter voltado desde o dia anterior, Mirela se sentia estranhamente bem, sentia -se em paz.

Devagar alcançou seu caderno de capa preta de couro e o abriu em uma folha ainda em branco e a encarou por um longo tempo pensando no que escrever, na verdade tentava recordar de coisas de seu passado, mas com o passar dos dias estava ainda mais difícil, não havia revelado o fato pra mais ninguém, mas aos poucos estava perdendo sua memória, por isso escrevia tudo que pudesse lembrar, como um diário dedicado a Clarisse, com os momentos mais importantes pra ela na vida das duas, escrevia também sobre suas angústias e sentimentos em sua ausência, havia confessado segredos e falado abertamente sobre suas dores, falava principalmente sobre seus dias no hospital... Mas naquele momento não havia nada, estava tudo em branco e Mirela acabou senti do sua paz ser substituída pelo vazio completo.

-Mirela?

A voz de Clarisse a tirou de seu vazio e se virou devagar porém encarar a figura abatida a sua frente, pode reconhecer os traços cheios de culpa.

Esperou a morena falar, mas ela permanecia calada parada perto da porta com os olhos baixos parecia travar uma guerra dentro de si.

-Eu não mereço isso.

Ela disse em fim jogando a ficha verde que significava e simbolizava tanto a sua sobriedade no chão.

Mirela observou o gesto entendendo o que aquilo significava deu um passo na direção de Clarisse, mas ela a impediu com um gesto da mão.

-Não, não se aproxime de mim também, eu não quero perder você, não quero ver você morrer, não quero ter que enterrar você, não quero outro amor na minha vida, eu não vou aceitar isso, mas se é isso que você quer eu não posso te impedir, só não me peça pra ficar aqui de braços cruzados te vendo morrer porque eu não vou fazer isso.

Mirela deu mais um passo na direção de Clarisse.

-Quem disse que eu quero morrer? Muito pelo contrário eu quero viver, mas não em um hospital, lutando contra vários câncer, não cheia de agulhas e medicamentos, não vendo a mulher que eu amo cada dia mais cansada e sem esperança, ou você acha que eu no noto isso? Ou você acha que eu sou burra ou cega pra não ver o amor da minha vida sofrendo a meu lado?

Clarisse levantou os olhos pra encarar Mirela.

-Eu...

-Não! Ontem a noite conversei com o médico sobre a minha decisão de ir pra casa ele me disse que eu posso ir, mas precisarei de um acompanhamento médico, preciso fazer mais alguns exames antes disso e testar alguns medicamentos, eu não vou deixar essa porra de doença acabar com a minha vida, eu vou pra casa, adotar um cachorro, uma criança, ainda não sei, não sei se você quer dividir isso comigo, ou se quer se embebedar e me usar como desculpa, ou se quer ir embora, eu não sei, mas eu quero você do meu lado, na verdade eu preciso de você do meu lado. O médico disse que com o tratamento certo eu posso viver mais alguns anos, que eu posso ter uma qualidade de vida relativamente boa, agora só me resta saber se você quer viver isso comigo ou você ficar se lamentando por ter bebido... Então dona Clarisse o que vai ser?

Clarisse ficou completamente sem palavras parada olhando pra mulher que tanto amava, sabia que Mirela aguardava sua resposta, mas demorou demais e antes que pudesse responder um enfermeiro entrou no quarto com uma cadeira de rodas para levar Mirela pra fazer os últimos exames quando passava por Clarisse pediu para o enfermeiro parar, então olhou pra sua esposa.

-Minha decisão está tomada, vá pra casa, tome um banho e durma um pouco volte aqui quando decidir o que vai fazer, e não se esqueça querida que eu te amo, que é você, sempre foi você,  mesmo quando eu não me lembrava, mesmo quando estávamos distantes eu nunca deixei de te amar um minuto de quer e nunca vou deixar.