I Hate Youm Don't Leave Me

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                              "My eyes deceive me, but it's still the same, pretend it's ok"

Minha força se esgotava de acordo com o tempo que passava.Duas horas depois eu estava fraco demais até para me mexer.Também não tinha mais lágrimas para derramar,mas isso não importava,pois eu não sentia mais vontade de chorar.O momento de tristeza e sentimento de traição passara,agora eu só estava chocado.

Eu queria rir da situação.Queria fechar os olhos e acordar horas depois,sabendo que tudo não havia passado de um sonho – ou de uma alucinação,talvez – queria poder fazer piadas sobre isso...A principio,realmente fiz.Depois,comecei a ficar sem respostas.Qual o nome dos meus avós?Em que escola eu estudava?Do que eu costumava brincar quando era criança?Quem eram meus amigos?Eu não conseguia me lembrar nem da aparência da minha casa.Foi quando eu percebi que aquilo não era só uma mentira bem elaborada.Era verdade.

Eu sempre fazia meu máximo para fugir da verdade porque,eventualmente,ela me encontraria.Nunca fui o tipo de pessoa que simplesmente põe os sentimentos de lado para não ter que lidar com eles,mas naquele momento desejei ser.Eu queria simplesmente isolar todos esses pensamentos em um canto da minha mente,um lugar escuro e profundo que eu nunca fosse capaz de achá-los novamente.Eu os ignoraria,ignoraria a dor e continuaria a viver como se nada tivesse acontecido.Mas eu não conseguia.Algo dentro de mim tinha a necessidade de pensar e repensar sobre isso quantas vezes fosse preciso até achar uma resposta concreta e aceitável.Eu não queria passar por isso,mas também queria a verdade e sabia que essa verdade tinha um peso que eu teria que carregar.Talvez eu desse sorte e esse peso me esmagasse,assim eu não teria que sofrer com isso.

Apoiando nas paredes,forcei meus joelhos a se esticarem e levantarem meu corpo.Esfreguei os olhos pela ultima vez,sentindo uma pontada de dor na cabeça enquanto limpava as lágrimas.Eu queria voltar para o meu quarto,mas não fazia ideia de como.Coloquei um pé na frente do outro,caminhando lentamente.Depois de aproximadamente vinte minutos,reconheci a primeira porta pela qual passei.Um calafrio percorreu meu corpo quando toquei a maçaneta gelada.

Estremeci ao ver uma figura sentada na minha cama.

-Ah...Você ainda está aqui – eu disse com indiferença.

Louis me encarou com os olhos que costumavam ser azuis e vivos,mas agora estavam inchados e vermelhos.

-Estava esperando você voltar – ele disse,a voz um pouco fanha e trêmula por conta do choro – Está na hora do jantar.

Minha barriga roncou.

-Não estou com vontade de comer agora – disse,caminhando em direção à minha cama.

Louis fungou.Uma parte de mim sentia dó e queria abraça-lo e dizer que sinto muito por ter sido tão duro.A outra parte queria apenas virar as costas e nunca mais olhar para ele.

-Vai morrer de fome só porque está bravo comigo? – ele perguntou,rindo fraco – Vamos,Harry.

Eu poderia discutir e dizer que não estava com fome,mas isso seria só para ter o prazer de contrariá-lo.E eu realmente estava com fome.Afastei os lençóis e levantei da cama.Desejei saber o caminho até o refeitório,mas tive que esperar por Louis.

Seu andar era tenso e duro.Ele não me olhava,não falava comigo.As vezes eu o via reprimir um soluço ou secar uma lágrima,mas não demonstrei me importar,embora não fosse verdade.Eu me importava.Por mais que eu quisesse odiá-lo ou ser rude com ele de propósito,vê-lo daquele jeito quebrava meu coração.

E então eu lembrei.Eu gostava dele,eu queria o bem dele.Eu me importava com Louis,ele não se importava comigo.

Estava tão envolto em meus pensamentos que nem percebi quando Louis parou.Tive que voltar alguns passos,o que o deu tempo suficiente para abrir a porta e me deixar passar.

Meu queixo caiu.Não era um refeitório cheio de gente e sim uma sala elegante.Havia uma enorme mesa redonda no centro e apenas algumas cadeiras em volta.Um lustre magnífico iluminava todo o ambiente.

-Imaginei que,depois de meses comendo mingau e mistura,você fosse querer comer algo decente – Louis disse enquanto alguns garçons colocavam todo o tipo de comida na mesa.Não saberia dizer o nome da maioria daqueles alimentos,mas eu não me importava.Tudo parecia delicioso.

-Você preparou isso? – perguntei.Me aproximei e sentei em uma das cadeiras.

Louis deu de ombros.Ele se aproximou e sentou em uma cadeira em frente à minha.Com um aceno de mão,fez os garçons irem embora.

Tentei comer discretamente,mas era quase impossível.Eu estava morto de fome e era a primeira vez em meses que eu comia arroz,carne,ou qualquer outra coisa decente.

-Harry,eu queria que você soubesse...

-Não se atreva a pedir desculpas – interrompi.Louis me olhou assustado – O que aconteceu não pode ser desfeito,e essa ferida não pode ser curada com um simples “sinto muito” e um abraço.Essas palavras e gestos são para demonstrar o quão arrependido uma pessoa está,e eu sei que esse não é o seu caso.Então,por favor,não se atreva a pedir desculpas.

Louis me olhou estupefato,e eu simplesmente coloquei mais uma garfada de comida entre os lábios.

-Tem razão – ele disse – Essas palavras não são o suficiente para expressar o quanto eu estou arrependido.

Olhei para ele com desprezo.

-Por que você continua fazendo isso?

-Isso o que?

-Isso – movimentei o garfo em sua direção – Fingir que se importa.Por que ainda perde seu tempo com isso?

-Eu não estou fingindo,Harry...

-Está,sim – interrompi novamente – Você não se importou com a dor que isso me causaria quando escondeu coisas de mim.Não ligou para o fato de como isso me afetaria.Você nem se quer se deu ao trabalho de me perguntar como eu estou me sentindo com tudo isso – pisquei para afastar as lágrimas.Não podia chorar,não agora – Você não se importa,e por isso vai continuar mentindo.

Louis riu e afastou a cadeira com força.Foi até o centro da sala,um pouco afastado da mesa,e enterrou o rosto nas mãos.

-Um dia toda essa dor vai fazer sentido pra você – ele disse.

Uma risada se formou em minha garganta,mas eu não tive coragem de soltá-la.

-Espero que saiba o quão idiota isso soou – informei.

-Não me importo se soou idiota – ele disse – É a verdade.Um dia você vai entender o por quê de eu ter feito tudo isso e vai parar de me odiar.

Me levantei,lentamente,e me aproximei dele.Não muito,apenas o suficiente para poder ver a expressão em seus olhos.

-Eu não odeio você,eu odeio o fato de você ter se tornado tudo o que disse que nunca seria – admiti – Mentiroso,falso...Entre outras coisas.

-Eu não sou mentiroso...Apenas me importo de mais com você.

-Não precisa mais mentir,Louis.Nós dois sabemos que isso não é verdade.

Louis deu três passos e agarrou o objeto mais próximo – um abajur – e o jogou no chão,sem piedade.Arregalei os olhos,surpreso com o movimento repentino,enquanto o som do abajur se quebrando preenchia a sala.

-Por que é tão difícil falar com você ?! – Louis gritou – Tudo o que eu tento dizer sai errado e eu não preciso fazer força pra isso,eu só não sei como me comunicar,e eu sinto muito.Eu sinto muito.Eu me odeio e estou tentando mudar mas eu continuo estragando as coisas !

Louis se sentou no chão,escondendo o rosto,enquanto eu o olhava boquiaberto.Eu não sabia o que dizer nem o que pensar.Mal conseguia me mexer.

-Eu sei que nada do que eu disse vai mudar as coisas,e eu sinto muito por isso – ele continuou – Mas eu simplesmente não posso viver sabendo que você me odeia.

Eu estava prestes a dizer-lhe algo.Algo reconfortante ou amigável,mesmo que não quisesse.Me aproximei dele enquanto ambos perdíamos o equilíbrio e caíamos para o lado,apavorados.

Nada mais pareceu importar.

UtopiaWhere stories live. Discover now