Como Termina

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capítulo dez

como termina



Diferente de como eu imaginava que aconteceria, ninguém brigou comigo por ter feito sexo com meu primo. Bem, ninguém exceto Hana, que até hoje sustenta firmemente a opinião de que eu me aproveitei da deficiência de Sehun.

Na noite em que Junmyeon me contou sobre Sehun, nós descemos do carro com ele chorando e eu em choque demais para conseguir me mover como uma pessoa normal, me sentindo esquisito.

Quando alcançamos a casa dos meus tios, Hana estava chorando também, no quarto do meu primo, e as páginas do nosso caderno estavam no chão ao redor dela. Naquele momento, eu pude contemplar todos os desenhos que Sehun fizera de mim, e pude lembrar das nossas conversas através do papel.

Ela havia rasgado tudo, e provavelmente havia lido tudo também.

Isso me perturbava mais ainda, e eu sentia meu coração doer de tão forte que batia, porque não parecia haver maneira de aquilo tudo ficar pior.

Mas ficou.

Hana dissera que eu estuprei Sehun, que me aproveitei da deficiência dele para abusá-lo. Em nenhum momento ela falou sobre o HIV ou sobre qualquer coisa que não tivesse relação com o que se passava em sua cabeça. Ela viera para cima de mim e Junmyeon realmente precisou segurá-la para que não me agredisse. E enquanto eu escorregava até o chão, chorando como nunca havia chorado antes, o corpo inteiro tremendo e os olhos fixos na expressão destruída da minha tia, Junmyeon ouvia ela recitar aos berros todas as coisas que eu havia escrito para seu filho.

Não eram palavras ruins, eram declarações, coisas sutis, elogios, mas a dor na voz dela tornava aquilo uma sina, e eu me sentia como se estivesse sendo condenado.

Junmyeon gritava para que ela parasse de tentar avançar sobre mim, eu continuava chorando no chão e Hana continuava gritando o meu amor como se ele fosse ruim.

Em algum momento, meu irmão precisou soltá-la, e quando eu fiquei de pé, pensando se havia uma forma de consertar aquilo e rezando para que ela estivesse mais calma, eu senti sua mão se chocar com uma força descomunal na minha cara. Senti seus dedos arranhando o meu pescoço quando ela tentou agarrá-lo.

Mais gritos se fizeram presentes, e de repente minha mãe estava lá, empurrando Hana para longe de mim, mandando que papai e Jun a segurassem e a levassem para longe enquanto ela me tirava dali.

Eu tremia demais, soluçava e não conseguia parar de chorar, e minha mãe precisou me arrastar de lá, agarrando meus braços e minhas roupas e me carregando para fora da casa, permitindo que eu desabasse no chão gelado e se abaixando perto de mim.

Seu rímel estava borrado e ela me olhava de forma triste. Minha visão estava manchada de lágrimas, mas isso não impedia que eu visse seu rosto com clareza e me sentisse com vontade de vomitar por todas as coisas que eu fizera.

Porque eu ainda seria capaz de fazer de novo.

Mamãe sentou no chão, molhando as roupas com a neve, e me puxou para seu colo, me deixando chorar e respirando fundo para conter suas próprias lágrimas, enquanto acariciava meus cabelos e tentava me acalmar.

Meu pai e Jun ainda estavam lá dentro com Hana quando mamãe começou a falar sobre Sehun.

Ela me explicou que ele tomava os remédios, mas que não sabia que era soropositivo, porque Hana queria esperar o melhor momento para contar a ele. Eram coisas difíceis de se explicar a um menino de quinze anos, então ela decidira que deixaria ele crescer um pouco, amadurecer, e depois daria um jeito de lhe explicar que não era assim tão ruim, que ele poderia viver com aquilo, porque o fez durante anos, assim como ela também havia feito.

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