V - III

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"Estar sozinho é treinarmo-nos para a morte"
- Louis-Ferdinand Céline.


- Olha, me desculpa pela confusão... Eu não sabia que o seu namorado ia ficar chateado... Na real, eu só quis te ajudar a não cair feio no chão.

- Eu agradeço... – Finalmente consegui por um par de palavras para fora. – É só que... Essa aqui não é bem a minha área.

- Você é bem estilosa. – Seus olhos percorriam meu corpo dos pés a cabeça como dois faróis azuis na noite. – Eu também me sinto um pouco deslocado quando os rapazes me arrastam pra cá. – Ele calçava um par de tênis pretos de skate e usava um cordão de correntes por debaixo da camisa. Nada do garoto do museu parecia ter sobrado. – Vou chutar que mora na Zona Sul... Mais precisamente em Copa ou Botafogo. Você tem essa atmosfera alternativa de lá.

Travei.

Como assim eu tinha cara de Zona Sul? Essa seria difícil de livrar

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Como assim eu tinha cara de Zona Sul? Essa seria difícil de livrar... O pior é que, no fundo, aquilo me envaideceu de uma maneira tão profunda que a coragem para dizer "Não, eu moro em Madureira", não veio.

Apenas assenti meio tonta.

- Você não devia vir pra esses lugares à noite. Não faz ideia do tipo de gente que fica esperando pelos trens. – Eu estava dividida entre embaraço, raiva e admiração. Ele estava preocupado com a minha segurança? Mas, espera aí! Aquele comentário preconceituoso era sobre pessoas da Zona Norte... Gente feito eu! Aquele menino acabara de me dar um alerta de perigo contra eu mesma?

- Não precisa... – Desviei os olhos abruptamente, tentando não me sentir traída por minhas vontades. – Eu sei me cuidar.

- Deu pra ver que sabe... – Apesar do sorriso de alabastro crescendo naquele rosto lindo, dava pra sentir a sinceridade em suas palavras. - Lá atrás, sabe? No bar!

Então, eu o vi rir pela primeira vez e o mundo inteiro girou um pouco mais lento apenas para aquele momento ficasse gravado como a coisa mais linda que já tinha assistido.

Um espetáculo de dentes brancos perfeitamente alinhados, contornados por lábios rosados que terminavam em covinhas discretas e perfeitas

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Um espetáculo de dentes brancos perfeitamente alinhados, contornados por lábios rosados que terminavam em covinhas discretas e perfeitas.

- Quem é você? – Perguntei em tom embasbacado, como se falasse com um vulcão em plena erupção.

- Miguel... – Disse, estendendo a mão. – E você tem nome, menina do museu?

O choque percorreu meu corpo como se tivesse sido atingida por um raio. Ele se lembrava de mim...

- Mas, como? – A pergunta escapou e o sorriso do garoto aumentou ainda mais.

Ele, em segundos, adquiriu a capacidade de me compreender sem o uso de frases concretas. Coisa que nem Cláudio, em anos, havia conseguido alcançar.

- Eu te disse... – Cansado de esperar, Miguel segurou minha mão delicadamente, acariciando com o polegar as costas da mesma. – Esses olhos são difíceis de esquecer. 

 

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A Lua Dentro de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora