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Parque do Ibirapuera - São Paulo, junho de 2010, domingo, 14:57h

Em uma hora e meia de conversa, soube mais da vida de Camila do que vinha sabendo nos últimos anos; descobri que cursava Direito há pouco mais de um ano, que por decisão própria saíra da casa dos pais sete meses antes, e que já trabalhava desde o mesmo período. Quando quis saber o que eu vinha fazendo nos últimos tempos, percebi que minha vida tornara-se completamente desinteressante; havia acabado o Ensino Médio no final do ano anterior, perdido meu pai poucos meses antes, e agora estava em São Paulo (e nem mesmo por livre e espontânea vontade), quando disse isso, ela me lançou um olhar de reprovação e disse:

— Para! Alguma coisa que te orgulhe você deve ter feito nesses últimos tempos.

— Nada de interessante. –parei e pensei– Fora o fato de ter criado coragem para vir até aqui. Na verdade, nem isso posso dizer que fiz sozinha.

— Já é alguma coisa. Nunca quis que se sentisse obrigada a viver comigo, e deixei isso claro para a sua mãe quando falei com ela.

— Digamos que ela não ligou muito para isso, ela disse que "não dava a mínima se eu estou ou não feliz com o que está acontecendo". – falei, fazendo aspas com os dedos.

— Mas afinal, você não gostou nem um pouco da ideia de vir até aqui?

— Eu não disse isso. Inclusive, vinha pensando bastante em você nos últimos tempos, e na ideia de recorrer a você quando precisasse de ajuda, o que eu não esperava era ter que vir tão de repente e praticamente à força.

— Não quis que parecesse uma obrigação, nem mesmo algo tão urgente.

— Não é sua culpa, Cami. A sua intenção foi a melhor possível, o problema foi como eu a recebi sem nem mesmo poder opinar ou pensar a respeito com calma.

— Espero que veja o quão bem esse novo mundo vai te fazer e, espero também te ajudar sempre no que precisar. É pra isso que somos amigas!

— Obrigada, de verdade.

Passamos alguns segundos quietas, enquanto eu olhava ao meu redor para a beleza daquele Parque que tanto havia visto apenas em imagens desde a infância, é bem diferente a sensação de ver e sentir a beleza de um lugar assim,percebi então que era verdade o que meu pai uma vez me falou; ainda não inventaram uma câmera capaz de registrar toda a beleza de algo ou alguém, ela tem de ser vista e sentida.

— Qual seu plano de vida, Mari? – ouvi, o que me tirou da minha distração.

— Eu... eu não sei direito. – falei baixando o olhar – Gosto de ajudar as pessoas, tornar o dia de alguém feliz de alguma forma torna o meu também, mas não vejo como isso possa ser uma carreira duradoura.

— Não tem problema não saber o que fazer ainda, cada um tem seu tempo. Tem muita gente que planeja e crê fielmente que vai fazer alguma coisa, e lá na frente vê que não era nada disso que queria. Eu descobri a minha vocação por acaso, mas não significa que você necessariamente tenha que saber agora, tire um tempo pra você. Tem algum sonho, ou objetivo, o mínimo que seja, que pretenda realizar aqui?

— O sonho de batalhar para ser alguém na vida, conta?

— Você já é alguém, Mari, só por ser você. Não caia nessa ilusão de que você só é alguém quando consegue um alto cargo, todo mundo, por menor que seja, tem valor nesse mundo, só precisa descobrí-lo.

A partir daí, comecei a me questionar: "Quem sou eu?" "O que vou fazer?" "Qual meu lugar no mundo?" Por algumas semanas, eu não consegui pensar, tudo era muito novo pra mim, foi então que percebi que, para descobrir qualquer coisa, é preciso correr riscos, aprendizado nenhum vem do comodismo. Foi então que a minha zona de conforto ficou para trás e resolvi me arriscar, se havia a necessidade de me entregar a novas oportunidades, o momento e o lugar perfeito estavam ali, logo ao meu alcance.

Não precisa ser o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora