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Teatro Tuca - São Paulo, abril de 2015...

Ainda faltava algum tempo para a sessão daquela noite...

Daniel estava atrasado, o que não era muito comum – sempre foi o mais organizado de nós três –, eu estava no camarim com Bella, Edu e Andy – que atendia um telefonema –, enquanto pensava naquela noite e no que nos aguardava naquele palco; já fazíamos o Improvável há vários anos, é verdade, mas cada sessão era uma coisa nova, era impossível não nos encher de expectativa e ansiedade. Daniel logo chegou e acompanhou Edu e Bella na conversa a qual, para ser sincero, mal havia prestado atenção.

— Desculpem pela demora. – falou, assim que nos viu – Tive um problema pessoal, mas já está resolvido.

Anderson e Daniel eram meus melhores amigos há tanto tempo que era praticamente impossível pensar no meu desenvolvimento como pessoa sem enxergar a enorme presença deles em cada um dos momentos. Havíamos construído juntos um império enorme que era o sucesso do Improvável, não só no Teatro, como também na internet, era irreal pensar que, se lá atrás não os tivesse conhecido, hoje não estaria tão feliz.

Toda quinta-feira era uma emoção nova, como se a euforia da semana anterior fosse sempre superada com outra ainda maior. Ali, prestes a subir ao palco, era impossível não sorrir ao imaginar tudo o que estava por vir. Quando Edu anunciou-me e olhei para aquela platéia, foi como sentir um abraço caloroso de cada uma daquelas pessoas que ali estavam, seus olhares para mim sugeriam que estavam genuinamente felizes em nos ver, tínhamos de retribuir todo aquele carinho.

A sessão ocorreu tranquilamente e ao final, depois de agradecermos e nos despedirmos da platéia, sabíamos que a noite aina não estava completa, faltava ainda um dos momentos mais marcantes; o contato direto com os fãs.

Para a sessão de fotos daquela noite, não ficaram tantas pessoas como na semana anterior, nem mesmo Bella, Edu e Tauszig puderam participar, mas, das pessoas que vieram, duas em particular – as duas últimas –me marcaram bastante; uma delas disse-nos que viera de bem longe apenas para nos ver, pois já nos acompanhava há seis anos e sentia que nos devia retribuir pelo menos um terço do que havíamos feito de bom por ela. A outra pessoa, que veio logo depois dela, me marcou de maneira mais pessoa; ela era a última pessoa restante e, logo que nos viu pareceu relutar em se aproximar, como já presenciara cenas como aquela mais de uma vez, me aproximei dela e segurei sua mão para que visse que estava tudo bem.

— Olha só, é a moça com quem esbarrei lá fora! – disse Daniel assim que a viu – Desculpe novamente por isso.

Ela respondeu-lhe que estava tudo bem. Seu rosto não me era estranho, "deve ter sido tema de algum dos jogos" – pensei, o que confirmei logo depois quando Andy disse:

— Esbarrou na moça do Quadrado? Maria...?

— Marina. – ela corrigiu.

Jeff tirou nossa foto – a última da noite – e em seguida abraçamos mais aquela fã que, logo depois, parecendo segurar o choro, nos disse:

— Obrigada por terem melhorado a minha vida em tão pouco tempo. Vocês foram um presente que a vida me deu no momento certo e, mesmo conhecendo vocês há pouco tempo, posso dizer que vocês se tornaram meu porto seguro. Obrigada por terem me dado um motivo para seguir em frente.

Sempre fico sem reação ao ouvir depoimentos como aqueles, Daniel – que sempre foi mais preparado – então falou por nós:

— Nós é que agradecemos por estar ajudando a construir a nossa trajetória, nos faz ver que o nosso trabalho não é em vão.

Ela sorriu e, como se tivesse acabado de lembrar de algo muito importante, disse:

— Antes que eu me esqueça. Sei que isso vai parecer estranho, mas algum de vocês perdeu isto?

Recebi o que ela acabara de tirar da bolsa, pensei ser um papel – uma carta talvez –, mas logo vi que se tratava de uma fotografia minha, aliás, nossa, que não havia há alguns bons anos.

— Caramba, faz muito tempo que não vejo isso! – falei – Onde você a encontrou?

— O que é? – Dani perguntou aproximando-se.

— Estava caída na saída do aeroporto, no dia em que cheguei a essa cidade. – ela me respondeu – Isso já faz quase cinco anos.

Cinco anos. Já fazia tanto tempo desde aquele dia, mas naquela hora, parecia ter ocorrido há poucos dias.

— Jeff – falei – Será que dá pra esperar mais um tempinho, por favor? É importante.

Ele confirmou com a cabeça, mesmo que não parecesse concordar.

— Vocês lembram de quando tiramos essa foto? – perguntei e, me referindo a Marina completei – Foi depois de uma sessão do Improvável, ainda eram nossos primeiros anos de espetáculo e, não estávamos num momento muito bom. Ainda não era tão fácil viver do humor, digamos assim, e nesse dia a plateia estava lotada e, de alguma forma, toda a energia positiva que aquelas pessoas nos deram, nos motivou a seguir em frente. – sorri, me lembrando daquele dia.

— Ao fazer o Improvável toda semana, é como se renovássemos mais essa energia a cada sessão e assim tenhamos certeza de que estamos fazendo o certo. – Andy disse.

— É louco pensar que já fazemos há tanto tempo e ainda assim, todas as semanas conseguimos nos emocionar, como se fosse ainda fosse o começo de tudo. – Dani disse, parecendo ler meus pensamentos.

— Bom, fico feliz de ter encontrado o verdadeiro dono. – Marina disse – Mesmo depois de tanto tempo.

— Quer saber? Fique com ela. – falei entregando-a de volta.

— O quê? – ela disse, parecendo confusa.

Ela guardou por cinco anos a foto de três pessoas que nem sequer conhecia. Poderia tê-la rasgado logo no primeiro dia, poderia até não tê-la pego, mas guardou, isso foi especial. De alguma forma, também foi uma energia positiva, mesmo que não soubéssemos disso. – falei isso a ela e ela pareceu feliz.

— Nós mudamos bastante desse tempo para cá... – falei.

— Seu cabelo que o diga. – Dani interrompeu, rindo.

— Mas, sabe o que não mudou? É que continuamos até hoje fazendo o possível para alegrar a vida das pessoas. É muito gratificante ver que a cada dia surgem mais pessoas como você, que nos dizem que ajudamos de alguma forma. Se alguém tem que agradecer por alguma coisa, somos nós.

Falei, com toda a sinceridade que consegui. Era verdade, a cada semana buscávamos demonstrar cada vez mais, com pequenas atitudes, nosso carinho e gratidão a todos os fãs, porque para nós cada fã é bem mais que um número; é um capítulo a mais no enorme livro da nossa trajetória, e é impossível contar uma bela história com capítulos incompletos...

Não precisa ser o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora