14

157 5 1
                                    

Casa do Humor - São Paulo, maio de 2015, sábado, 07:53h

Sete minutos...

Sete minutos correspondem a 420 segundos.

Sete minutos era o tempo que levava da minha antiga casa até o colégio.

Sete minutos era o tempo que faltava para o início de mais uma experiência nova em minha vida.

Já fazia uns bons quinze minutos que estava ali. Daniel chegara algum tempo depois e, apesar do seu ar de seriedade, não parecia esconder sua felicidade por estar ali.

Novos alunos também chegaram logo; alguns mais timidamente, outros mais desinibidos, mas todos pareciam partilhar da mesma vontade de adentrar ao improviso.

Minhas mãos suavam de nervosismo e eu me questionava a cada minuto se realmente estava certa na decisão de estar ali naquele momento. Como se fosse capaz de ler meus pensamentos, Daniel se aproximou e perguntou se eu estava bem, minha voz falhou ao responder que sim.

— Não tem com o que se preocupar, ninguém aqui vai julgá-la. Todos vieram fazer o mesmo: aprender. — ele disse e se afastou.

Quando já eram 08:05h e todos já haviam chegado, houve um momento de descontração, todos foram apresentados e Daniel entregou papéis onde cada um escreveu uma frase aleatória.

"Serão usadas em um dos últimos exercícios, mais tarde." — ele justificou.

Frases escritas e guardadas, ele tomou a palavra e nos contou uma pequena história sobre o improviso no Brasil e no mundo e contou, bem sucinto, parte da história da Cia Barbixas, muito já se sabia através de entrevistas, mas era diferente ouvir dele, ouvir sobre os desafios do improviso e sobre quanto o ramo havia crescido com o passar dos anos.

Depois de tudo isso, quando todos pareciam mais à vontade, deu-se início aos primeiros exercícios. Daniel tinha um jeito único de se preocupar com todo mundo. Não era difícil imaginá-lo anos antes; mais jovem, decidido e preocupado com o futuro, com a sua carreira de improvisador. Vê-lo ali, guiando tanta gente apaixonada pela mesma arte, parecia tornar tudo simples, era natural rir com ele e parecia-lhe fácil fazer rir.

Na prática, todo mundo percebia o mesmo; improvisar não era fácil como parecia. O primeiro contato com o improviso pareceu confundir mais que clarear as ideias — se fosse possível ler os pensamentos dos que ali estavam, tenho certeza de que muitos se perguntariam o que fazer, por onde começar. Começamos com jogos simples, coisas que facilitavam a dinâmica da turma e ao mesmo tempo desafiavam a mente. Até hoje não sei dizer se consegui fazer o certo, Dani nos disse que não havia certo ou errado no que diz respeito ao improviso — parecia sincero, mas não pude deixar de rir pensando se era apenas um jeito delicado de não apontar nossas falhas.

Houve muitas pausas em que, compreensivo, Daniel ajudou muita gente que não conseguia elaborar uma piada na hora ou mesmo dar continuidade a alguma cena já começada; ele mesmo parecia bem confuso em momentos em que tentou encaixar uma frase sobre espiões em uma cena que retratava peixes no mar, ou para dar significado a alguma posição na tentativa antiquada do jogo do Transforma.

Bom, não é preciso ser um especialista para dizer que o primeiro dia não foi as mil maravilhas; Daniel disse, ao final, quando todos já se preparavam para sair, que ainda havia muitos pontos a evoluir nas semanas seguintes mas que via potencial na turma e esperava que todos continuassem a levar aquilo a sério.

— Não é só pelo dinheiro que já gastaram aqui. — brincou — É pela arte, por fazer rir. O improviso ainda tem muito o que crescer e tenho certeza de que, ao final desse processo, muitos de vocês vão entender quanto significado pode haver em trazer humor para o mundo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 11, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Não precisa ser o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora