Noite de Núpcias

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Cersei deu um sorriso torto para ambos, mas foi cortês e desejou felicidades. Encarava Jaime com ódio. A garota, mais ainda.

Num momento da celebração, Jaime permitiu-se protestar e foi para varanda.

Que merda! Como eu pude chegar nesse nível?

Primeiro, ficou aleijado, depois, perdeu toda sua família e seu posto de Comandante da Guarda Real. Agora estava se casando com uma garotinha que mais parecia sua filha. Tudo por culpa de sua infeliz irmã. E agora a mesma estava irritadíssima e cheia de ódio por conta de seu casamento. Casamento esse que nem ele queria!

-O-Oi... Tudo bem? - Uma voz delicada o acompanhou até a varanda. De repente mãos pequenas e frias tocaram seus ombros. Era sua esposa.

Achava muitas mulheres belas. Mas aquela era um beleza que não conhecia. Soturna, melancólica. Olhou para seu rosto curto e delicado. Os olhos eram de um violeta profundo. Não usava jóias nem enfeites. Ela não precisava. Não vinha das terras de canções animadas, tampouco parecia cercada de dotes. E agradeceu profundamente por isso.

O fato de Lyanna não ser bajuladora deixava Jaime feliz. Mas era uma garotinha assustada. E naquele momento, sentiu que tinham somente um ao outro.

-Você parece assustada - comentou de um jeito suave. Não seria um homem rude com ela, não merecia. Naquele momento, também se perguntou como Euron teria uma filha tão doce.

-Em breve, seremos forçados a... - Deu uma pausa e teve vontade de chorar.

-Você não precisa fazer nada que não queira. - Sentiu-se na obrigação de dizer aquilo. Não faria nada com a garota.

-Mas meu pai...

-Eu sou seu marido agora. Seu pai não vai se intrometer em sua vida.

Lyanna começara a chorar. Ela sabia que não seria assim tão fácil.

-Você não entende...

Quando chegara a hora dos presentes, receberam coisas fúteis que normalmente pessoas casadas recebem. Lyanna recebeu quase tudo que uma costureira utiliza para manter-se ocupada. Quando chegou a vez de Euron, a festa acabou tomando outro rumo e tornando-se um grande momento de tensão.

-Eu lhe dei uma filha. Sor Jaime - disse com um sorriso no rosto, estava acompanhado de seus homens - Acho que uma garota dessas em sua cama todos os dias já é o melhor presente - quando completou, todos os seus seguidores riram. - Queremos que esse casamento dure para sempre. Quero o seu poder e seu dinheiro e estou pouco me fodendo se você vai fazer sexo com minha filha ou com sua irmã. Mas esse casamento deve ser consumado.

Jaime deu um risinho. Mas Lyanna começou a soluçar. Era notável que tinha medo de Euron.

Dessa vez, ninguém percebia o que ambos conversavam. Lyanna saiu de perto claramente desconfortável.

-Você não está falando com um servo. Se eu quiser, eu posso te matar aqui mesmo que ninguém ousaria me atacar. – Sussurrou em seu ouvido. Não queria um espetáculo ali mesmo, mas sabia que o pai da menina era mal intencionado, louco e cruel.

-Se você descumprir nosso trato ou rejeitar minha filha, sua queria irmã morrerá. - Quando Cersei se aproximou, Euron mudou o tom da conversa – Espero que sejam muito felizes. É um homem de sorte por ter Lyanna.

Jaime nada respondeu. Engoliu em seco e procurava a esposa com os olhos. Estava chorando escondida. Parecia ser o pior dia de sua vida. Quando ficou a sós com Cersei, a mulher comentou o estado da noiva.

-Parece que a putinha-do-mar não está tão feliz com o casamento, irmão. – A mulher loira deu um sorriso como quem achava graça de sua situação.

-Ela tem quinze anos. Tem idade pra ser sua filha. Tenha um pouco de compaixão.

-Compaixão? – Deu uma gargalhada – que eu tenha compaixão quando ela morrer queimada.

Não achava graça daquilo. Sentiu vontade de fugir daquele lugar com a garota que mal conhecia. Seu estado era de dar pena. Parecia que estava casada com um monstro.

-Vai dormir com ela? – Cersei parou de rir quando a viu novamente, seu vestido havia se sujado de vinho por conta de um homem atrapalhado. –Não tem coragem?

-Isso não é problema seu.

Deixou a irmã falando sozinha e foi até a esposa tímida e chorona.

-Vamos embora? – Perguntou docemente enquanto colocava a mão em um de seus ombros e lhe dava um confortante abraço.

Lyanna assentiu com a cabeça. Mas suas pernas tremiam. Depois daquilo seria ainda pior, pensava.

Quando davam passos para fora do salão, seu sogro vil anunciou.

-Senhores, acho que o casamento não acabou. Na verdade, vai começar agora.

A música era muito agitada, mas cessou quando Euron começava a falar.

-Que seja feito a consumação! – Gargalhou quando três homens tentavam tirar a roupa de Lyanna e a guiavam para fora do lugar. A menina estava desesperada.

Jaime ficou sem reação. Que tipo de pai faria aquilo com a própria filha? Mas antes mesmo de arrumar uma enorme confusão, fora cercado por cinco mulheres e arrastado junto com sua esposa. Aquela tradição selvagem onde os noivos eram arrastados para seu quarto.

Quando chegaram no quarto, Lyanna estava com uma feição de pavor. Parecia o momento mais apavorante de sua vida. Expulsou os homens dali e a agarrou com força. Assim que fechou a porta, a menina gritava e chorava.

-Por favor, pare, não por favor... – Estava soluçando e tentava lutar para fugir. Mas era fraca para sair de seus braços. Pegou-a no colo e recebeu um soco forte em seu rosto – NÃO! NÃO! PARE!

Quando jogou-a na cama, tirou seu casaco e pegou a lâmina afiada que ficava em sua cômoda, num só corte, derramou o sangue de seu próprio braço sobre o vestido de Lyanna e nos lençóis brancos.

-Pronto... Shh... – Acalmou a garota quando fez aquilo. Mas ela não entendia o que estava acontecendo, ainda soluçava com todo o transtorno. Nunca havia se submetido a situação semelhante. – Não precisa ter medo, Lya. Eu não vou fazer nada. Será nosso segredo.

A garota foi se acalmando após alguns minutos.

-O-Obrigada, Senhor. Meu pai... E-Ele...

-Seu pai não vai encostar em você. Ninguém pode lhe importunar. É minha esposa.

-Senhor, seu braço... O S-Senhor se machucou... –Colocou a mão com cuidado na região do corte. Olhariam para aquele lençol e achariam que o casamento fora mesmo consumado.

Ajudou seu marido a cuidar do ferimento. Então viu com mais cuidado o seu coto.

-Muito bonita. – Sorriu para a prótese da mão.

-O sinal da fraqueza de um homem. – Jaime disse amargamente. Então a garota tirou a mão de ouro com cuidado.

-O Senhor é forte. E um bom homem.

Ela era amável. Uma garota nunca lhe disse aquilo com tanta sinceridade.

-Vou dormir no chão. Pode ficar com a cama – disse quando colocaram roupas de dormir. O vestido também ficara com uma mancha de sangue.

-O chão está frio. Isso não é justo. Tem espaço para nós dois. – Lyanna insistia em dividir a cama com Jaime. Ele também não estava com vontade de ficar em um chão gelado.

Quando se deitaram, um sorriso tomou conta da mulher de cabelos negros. Era como se tudo aquilo fosse bom.

-Eu nunca tive tudo isso.

-O quê? – Perguntou curioso. – Um quarto.

-Uma cama. 

A Rainha da TempestadeWhere stories live. Discover now