A Rainha da Tempestade

Obsessão

Sentiu-se triste com aquilo. Não pelo amor impossível de Lyanna, mas porque ela tinha outro. Não entendeu o porquê de ele estar se importando com isso, ele não gostava dela.

-Então temos um sortudo? - Deu um sorriso falso e a fez corar. - Quem é?

-Jayson. Ele é um pescador.

Não conseguiu segurar o riso. Ela preferia um pescador a Jaime Lannister?

-Pescador? Ele deve ser um bom homem...

-Ele é. Honesto e humilde. Ele me pediu em casamento... - Agora ela parecia triste.

-E você aceitou?

-Não pude responder. É-É que... - Tomou um gole de água e prosseguiu - tenho mais se-sete que me pediram. - Dizia tudo àquilo com uma grande timidez.

-Sete?! - Aquilo era cômico para ele. - Você deve ser muito sedutora... - Sua resposta foi irônica. - Nenhum te atraiu de alguma forma além do pescador? Não tem nenhum bonitão?

-Nenhum é tão bonito quanto o senhor. - Quando percebeu o que disse em voz alta, ficou da cor de um pimentão. - D-Desculpa, eu não quis dizer...

-Fico honrado com seu elogio - era uma coisinha graciosa e inofensiva. Sua timidez o encantava. - Você é a mulher mais bela que já vi.

-Mais bonita que a sua irmã? Não acho que seja possível senhor...

-Por que insiste em me chamar de senhor? Eu não sou senhor de nada. - Aquilo estava de fato o irritando. Mas sabia que era uma forma cômica de pressionar a garota e fazê-la corar. - E sim. Mais bonita que Cersei. Foi ótima na noite passada. - Aquilo era meia mentira. Não fez nada a não ser ficar dura feito uma pedra e choramingar cada vez que ele lhe tocava.

Agora a menina não sabia onde esconder o rosto. Corava como nunca e tentou desviar o foco.

-Acho melhor eu tomar banho... – Levantou-se rapidamente e foi para o banheiro. Jaime tirou os pratos da cama.

Quando se levantou, conseguia ver Lyanna tirando suas vestes com timidez. Sempre fazia isso de costas, não deixava que ele a visse nua. Assim que saiu, colocou trajes mais quentes e tentava pentear os cabelos com dificuldade.

-Posso...? – Jaime lhe roubou a escova e deslizava sobre o cabelo macio da esposa. Era longo e sedoso. Mesmo com uma dificuldade ainda maior que a de Lyanna e o fato de ter somente uma mão, ela o deixou pentear, era uma ótima sensação.

-Obrigada...

Os dias foram se passando e Jaime procurava pensar em algo que pudesse alegrar Lyanna. Ela ficava sozinha a maior parte do tempo, não tinha ninguém de sua idade para conversar, costumava costurar o tempo todo, mas nada para se divertir.

Até que certo dia viu uma das criadas com dois filhotes de coelhos em seu colo.

-O que está fazendo? – Eram inofensivos, não dava sequer para comer.

-Vou levá-los para cozinha, senhor. Eles serão o almoço. – A pele da mulher ficou mais pálida do que já era. Jaime lhe dava medo.

-Não serão. –Tomou os pequenos filhotinhos da mulher com cuidado. Lyanna podia gostar deles.

-Mas senhor...

-Procure outra coisa! – Não olhou mais para trás e voltou para seu quarto com um sorriso no rosto. – Lya... Olha o que eu encontrei... Pensei que...

Não teve tempo de terminar a frase.

-QUE FOFINHOOO! – A mulher pulou em sua direção e apertou os coelhinhos. –Posso ficar com eles? - Seus gritinhos não condiziam com aquela garota que conhecera semanas atrás. Sua personalidade agora refletia sua idade: adolescente.

-São seus – deu um risinho quando viu os olhos da mesma brilharem. A partir dali, andava pra lá e pra cá com os seus novos amigos.

Sua tentativa de animá-la deu certo, depois de ganhar os coelhinhos, passou a ser mais carinhosa com ele. Até mesmo almoçava fora do quarto. Podia assumir que a intimidade entre eles havia crescido. Mas uma pessoa não gostava daquilo. Duas.

-Como está sendo dormir com o aleijado? Vai engravidar dele como uma cadelinha? – A grosseria com que seu pai cuspia as palavras lhe dava nojo.

-Me deixa em paz! – Tentou sair da sala, mas foi agarrada à força. – Me solta!

-Como é? Está sendo gostoso? – As palavras de Euron eram nojentas e cada vez que abria a boca exalava um mau hálito de bebida. – Você está linda hoje... – Cheirou seu cabelo com perversidade e tentou lhe dar um beijo.

Lyanna tentou escapar com um grande tapa em seu rosto.

-Não encosta em mim! – O tapa não foi menos do que cócegas para Euron. Deu uma risadinha e tampou sua boca para que os gritos cessassem.

-Minha pequena vadiazinha... Você se esqueceu por que está aqui? Deixe-me refrescar sua memória – tirou a mão de seus lábios com calma e falava em tom sereno – está aqui para deitar com o Lannister. Aqui, eu sou seu pai.

-VOCÊ NÃO É MEU PAI! – Saiu correndo com dificuldades e aos prantos. Tinha medo daquele homem cruel e vil. Ele a assustava. A Rainha a assustava, todos naquele lugar eram pessoas más.

Naquela noite, recebeu uma boa e uma má notícia.

Euron ficaria dias fora da cidade. Quando voltasse, finalmente iriam se casar.

Jaime também ficaria fora. Recebeu alguma ordem qualquer de sua irmã. E ali que ficava com medo. Não gostada da Rainha e muito menos via algum sentimento bom de Cersei sobre ela.

-Posso ir com você? – Lyanna insistiu e já queria preparar até mesmo os coelhinhos para viajar.

-Não dá, Lya. É perigoso. Você tem que ficar aqui, está segura.

-Eu não quero ficar sozinha com sua irmã! Ela me odeia! – A menina estava realmente assustada.

-Não precisa se preocupar, ninguém vai te machucar – Respondeu com calma. Aquilo era verdade. Ninguém ousaria incomodar sua esposa. –Eu estarei de volta dentro de alguns dias. Vai ficar tudo bem. Você está segura com o Sammy e o Finny. – Olhou para os coelhos e deu uma risadinha. Eles ganharam até mesmo lacinhos e roupinhas.

A garota quase selvagem deu um sorriso triste e o abraçou com força.

-Vou sentir sua falta.

-Eu também vou sentir sua falta, princesa. – Arriscou um beijo curto na bochecha da esposa. Mas ela foi mais ousada. Beijou seus lábios com cuidado e corou.

-Volta pra mim.

-Claro que voltarei – retribuiu o beijo e se despediu. Era verdade, sentiria falta de Lyanna. Era tão divertido estar com ela que nos momentos de sua ausência sentia um enorme aperto no coração.

Quando Cersei percebeu que estaria sozinha com a bastarda vil durante todo esse tempo, enxergou ali uma possibilidade de investiga-la melhor. Tinha visto Jaime beijá-la em sua despedida e percebeu que ambos se apaixonaram. Era difícil de admitir o que seu irmão via naquele palito. Seu sentimento por Lyanna não era nada menos que uma obsessão doentia.

Durante uma manhã, resolveu abordá-la no quarto. A garota se assustou ao vê-la e a Rainha fechou a porta. Deu um sorriso doce para Lyanna. Via-se nela com seus quinze anos. Tão ingênua e bela.

-M-Majestade... – Curvou-se de um jeito desajeitado. Estava assustada com a visita repentina.

-Tire sua roupa.

-O quê?! – A expressão de choque de sua cunhada foi notável.

-Você me ouviu.