Capítulo 1

194 11 0
                                    


4 anos depois

Sarah nunca se esquecera daquele dia, da visão dos olhos marcantes, da boca rígida, do tom austero; ficaram impregnados em sua mente. Não se encontrou com Thomas muitas vezes depois daquele Natal em Lilleshall. Foram seis ou sete as vezes que o vira desde que fora prometida.

Apesar da distância entre eles, dedicara-se a aprender tudo sobre o que ele gostava. Não que Thomas houvesse lhe falado de suas preferências, não era dado a muita conversa. Na realidade, Sarah tivera David como um grande aliado para extrair informações sobre o noivo. Muitas vezes, quase sempre, era uma tarefa exaustiva.

A ideia do duque de Sutherland e do marquês de Bristol de fazer com que seus filhos se aproximassem não acontecera como esperavam. Sarah, nos últimos anos, trocara apenas cumprimentos e meia dúzia de palavras com o futuro marido.

Thomas pouco frequentava a casa do duque e, durante as raras visitas, dedicava seu tempo a Ann. Contrariando as expectativas da família, fora David a se aproximar de Sarah. Ele era muito amigo de John, o irmão dela.

Sarah desconfiava que Thomas permanecia afastado a pedido do avô. Este, depois que a filha falecera, . Com exceção de Ann. . Ele lhe escrevia cartas e a visitava pelo menos três vezes ao ano. Os encontros aconteciam no jardim, o conde de Snowdon nunca rompia a porta das residências dos Anson.

Em contrapartida, a família de tia Joana, os Hervey, tinha toda a atenção de Willian Granville; pelo menos era o que parecia. Recentemente o lorde, um dos maiores banqueiros da Inglaterra, havia definido o destino de sua fortuna. Não tivera herdeiros homens e, antes que um parente distante assumisse o título com sua morte, repartira quase tudo o que possuía entre os herdeiros, Thomas, David e Ann, mas negligenciara deliberadamente John e Sarah.

Não que ficara decepcionada por ser esquecida, mas se ressentia pelo irmão, que tinha o mesmo direito que os outros primos. Seu pai a proibira de proferir qualquer comentário sobre o assunto. O duque de Sutherland fora categórico ao afirmar que os filhos não precisariam daqueles recursos.

Já não mais se iludia com as esperanças de se tornar a primeira parlamentar mulher do Reino Unido. Conhecia de política o suficiente para saber que demoraria muitas décadas, talvez séculos, para que uma mulher ocupasse uma cadeira na Câmara, mas isso não a desanimara de estudar a Constituição e de entender a política.

Ela se casaria com um futuro parlamentar e teria a oportunidade de ajudar o marido em sua carreira. Achou pertinente aprender alemão, afinal era uma língua muito usada no Palácio de Buckingham, embora muitos ingleses torcessem o nariz para o idioma. Sarah dedicava seu tempo a cuidar da irmã e a estudar tudo que julgava necessário para que fosse a esposa perfeita para Thomas.

Havia chegado em Londres naquela semana, para sua primeira temporada, que deveria ter ocorrido no ano anterior. A pedido de Thomas, o debute fora adiado. Mas Sarah desconfiava que aquilo era ideia do avô, aquele velho intrometido.

A diligência havia chegado sem a irmã mais velha, o novo médico de Ann, o jovem e renomado Dr. Anthony, aconselhara a jovem a desfrutar um pouco mais os ares do campo, considerando imprudente uma viagem naquele momento. Mas em breve ela estaria junto à família, pois em vinte dias Sarah debutaria e ficaria noiva logo em seguida.

Livre por um tempo dos cuidados com a irmã, ela se dedicou aos estudos e em encontrar artigos e manuscritos raros. Naquele momento traduzia os documentos de um jovem revolucionário na biblioteca do duque. Fazia anotações enquanto ponderava entre a lucidez e o radicalismo de Karl Marx. Estava concentrada quando o pai, o irmão e o primo David entraram no cômodo.

A Marquesa (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora