Capítulo 7

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Capítulo 7 — Davi

Iris não está mais sozinha, está acompanhada. O olhar dele para ela é de admiração, ele beija o seu rosto e os meus olhos vão até a sua mão direita, onde vejo uma aliança. Ontem não tinha percebido.

O meu mundo para, sabia que isso poderia acontecer e acabou acontecendo para o meu desespero. Ela não é minha, a perdi antes mesmo de tê-la em meus braços, não como amiga, mas sim como a mulher dona do meu coração, a mulher que amo desde sempre.

O seu sorriso não pertence a mim, não é a minha mão que a toca, não são as nossas mãos que estão entrelaçadas nesse momento. Não serei eu a acordar todas as manhãs ao seu lado, não serei eu o homem a venerar o seu corpo e lhe dar o mais puro prazer. Não vou sentir o seu gosto em minha boca e ouvi-la gemer. Não irei ver os seus olhos brilhantes e saciados depois de nos perder e nos encontrarmos em nossos corpos.

— Davi. — Julia segura o meu braço — Está bem?

— Estou — digo, segurando a minha irmã para tentar controlar as emoções.

A deixei, ela seguiu a vida, se apaixonar era algo inevitável, agora eu vou sofrer sem poder fazer nada, além de torcer para sua felicidade. Mesmo dentro de mim uma voz gritando que Iris só será feliz so meu lado. Eu a amo, sempre amei.

— Disfarça, mano. — Lucas dá um tapa nas minhas costas. — Ela está noiva agora.

— Noiva? — questiono, olhando para os meus irmãos. Mesmo tendo visto a aliança em sua mão, torci por breves segundos que os meus olhos tivessem visto errado, que esse cara é apenas algum amigo.

— Noiva — Julia afirma, apertando a minha mão. — Se casa daqui a seis meses.

— O quê? — Não posso acreditar, forço as minhas pernas a voltarem por onde eu vim.

— Davi — Lucas me chama.

Não paro de andar até estar dentro do meu quarto, não fecho a porta, eu sei que os dois estão logo atrás de mim.

Com as mãos na cabeça, ando de um lado para o outro do quarto, isso dói para caralho, dói muito.

Mãos pequenas me abraçam pela cintura.

— Tem que ser forte, Davi — Julinha pede, apertando-me.

— Eu a perdi. — Olho para Julia, depois para Lucas, que está do nosso lado. — Eu a perdi.

Sento-me na cama e me permito chorar, nunca chorei, não queria decepcionar a minha família, não queria prender Iris, e no fim acabei sem a pessoa que eu tanto amo. Eu causei a minha própria dor.

— Ainda está em tempo, Davi. — Julia passa a mão no meu rosto para limpar as minhas lágrimas.

— Por isso os velhos fizeram de tudo para você voltar — conta Lucas. — É a última esperança.

— Vocês falam como se eu fosse a solução. Eu não posso fazer nada, eu...

— Você é a única pessoa que pode fazer alguma coisa. Você a ama, Davi. — Lucas coloca a mão em meu obro e eu o olho. — Sempre amou, não tente negar.

— Como vocês sabem? — indago.

— Todo mundo sabe, Davi — Julia afirma. — Na verdade, todos desconfiavam, mas como disse o padrinho, o inimigo estava bem perto. Na festa de quinze anos da Iris, quando vocês dois dançavam a valsa, se confirmou o que os nossos pais já imaginavam.

— É até compreensível, você sempre cuidou da Iris, sempre estiveram juntos, logo se apaixonou por ela — Lucas conta sério, não parece o mesmo irresponsável de poucos minutos atrás.

— E eu achando que estava escondendo de todos — confesso. — No início achei que era errado, depois tive medo dos nossos pais não aceitarem e, por fim, fui embora. Iris era muito nova e eu não queria atrapalhar a sua vida, como também não sabia que ela nutria o mesmo sentimento que eu. — Apoio minha mão em minhas pernas. — Não ia suportar vê-la com outro. — Olho para os meus irmãos. — Agora, depois de anos, estou aqui e vejo o que tanto temia, ela nos braços de outro homem.

— Está parecendo um bebê chorão, Davi — Julia diz, levantando-se. — Vai ficar chorando ou agir?

— Ela está noiva — afirmo. — Com outro cara.

— Exato, está noiva. — Lucas também se levanta. — Não casou ainda. Os velhos fizeram uma operação de guerra para te trazer de volta e você vai ficar aí se lamentando? Seja homem, se a ama lute por ela, mostre que está arrependido, explique os seus motivos, não fique aí se lamentando. Nossos pais criaram homens e não moleques.

— Ela não me ama. — Balanço a cabeça. — Nem sabe o que eu sinto por ela.

— Pensei que você fosse mais esperto — Lucas me critica.

— Esse cara aí sentado com cara de derrotado não é o meu irmão — Julia afirma. — Meu irmão é um homão da porra, lindo, que igual ao nosso pai, não foi egoísta, mesmo amando uma pessoa deu o espaço necessário para trilhar o seu caminho, só que agora aquela menina cresceu, é uma linda mulher e está na hora de reivindicar o seu lugar.

— Julia, ela não me ama — explico. — Que lugar que vou reivindicar? O de melhor amigo? Será que vocês não entendem?

— Vamos, Julinha, — Lucas passa os braços pelo seu ombro. — Como se diz o velho ditado: o pior cego é aquele que se recusa a enxergar o que está bem na fuça.

— Vocês não sabem o que estão falando.

Levanto-me e aponto o dedo.

— Quem não sabe é você, Davi. — Lucas aponta o dedo para mim. — Todos aqui sabem o que a Iris passou com o seu afastamento, a gente sabe o quanto ela sofreu e demorou para achar um caminho que não levasse a você. Então, se tudo o que eu vi e ouvi da boca dela não for amor, eu juro que não sei mais o que é o amor. Besta é você que está aqui feito idiota, chorando parecendo uma criança birrenta ao invés de ir lá fora e provar para ela que está de volta.

— Você está de volta. Pode ficar se remoendo ou pode lutar pelo amor da sua vida, a família está do seu lado, só basta você querer. — Julinha se aproxima de mim, fica nas pontas dos pés e deposita um beijo no meu rosto. — Estamos esperando você para o almoço.

Enlaça o braço do Lucas, que abre a porta.

— Não demore, mano. — Olha-me e sorri. — Ela é a garota certa para você. — Pisca o olho. — Vamos. Julinha. estou varado de fome, a gostosa acabou comigo.

— Aí, Lucas, credo. — Dá um tapa nele. — Quero saber dos detalhes não — diz, saindo pela porta deixando-me sozinho.

Sento na minha cama, derrotado, um dos meus receios de me declarar para Iris era do que a nossa família iria dizer, afinal fomos criados como primos, amigos, algumas pessoas até pensaram sermos irmãos. Durante anos guardei esse sentimento em meu peito, achando que ninguém sabia, confessei apenas para o meu pai sobre o que eu sentia, ele me apoiou, deu conselhos.

Esse sentimento, esse amor, é tão forte que transpareceu muito mais do que eu estava disposto a mostrar. No fim, toda a nossa família sabe e o medo da rejeição não aconteceu.

— Eles apoiam — constato.

Vó Marta fez o que fez para eu voltar para o Brasil, a maior casamenteira de todos os tempos não apoia esse noivado. Se houvesse algum tipo de sentimento entre eles, ela era a primeira a apoiar.

Vou até o banheiro, jogo água no meu rosto e o seco, saio do meu quarto e caminho em direção ao jardim, onde estão reunidos. Cumprimento todos com beijos, abraços e apertos de mão, pego uma cadeira e coloco bem ao lado dela.

— Bom dia, meu raio de sol. — Beijo o seu rosto. — Estou de volta e dessa vez é para ficar. — Sorrio.

Puro Amor - conto IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora