Capítulo 8

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Capítulo 8 — Iris

Logo após sairmos do hospital, mãe e eu passamos na casa da vó Amália para pegar o meu irmão e, também, matar um pouco da saudade, venho pouco para a cidade, consequentemente a vejo pouco.

Depois de tomar café pegamos o rumo de casa. Durante o trajeto mãe foi contando as novidades e como surgiu a ideia da vó Marta de trazer eu e Davi de volta.

No início, até fiquei brava com a atitudes de todos, mas no fim dei risada, realmente eles são uma quadrilha, arquitetaram o plano em cima da hora. Claro que a chefe da quadrilha foi a vó, todos executaram muito bem suas funções e no fim o plano foi um sucesso.

— Não precisava me incluir no plano, mãe, eu estaria de volta em seis meses de qualquer forma, estou acabando a faculdade.

— Você estaria, mas o Davi não. Cecília sofre com ele morando longe e não via a hora da cria voltar para casa, só demos uma ajudinha.

— É, o Davi não voltaria para casa tão cedo — digo, olhando para o banco traseiro e vendo o meu irmão dormindo, não aguentou esperar chegar em casa. — Depois que ele foi nunca mais voltou para casa.

— E o seu coração? — sonda, para saber o que eu senti.

— Batendo — respondo. — Continua batendo igual ontem e amanhã estará batendo do mesmo jeito.

— Não sentiu nada ao vê-lo.

— Raiva, quis matar ele, mas depois fiquei feliz. Davi sempre foi um bom amigo e eu sofri muito quando ele se foi. Acho que isso não é segredo para ninguém.

— Não é segredo. Todos nós sabemos.

— Então sabem que não vai se repetir, que vou continuar a minha vida sem o Davi. Nada mudou.

Minha mãe me olha desconfiada, mas não questiona a minha fala.

— Está um belo homem, não acha? — Ela não desiste.

Reviro os meus olhos.

— Sempre foi bonito, com a idade só acentuou a sua beleza.

— Ele é um gato. Pode confessar — insiste.

— Ok! O Davi está lindo, mãe, um gato, daqueles que a gente fica babando, salivando, para falar a verdade. Que a gente quer passar a língua em cada parte do corpo para saciar a sede — confesso. — Contente agora?

— Agora sim. — Sorri. — Vocês formariam um belo casal.

— Mãe! — repreendo.

— Iris... — Olha-me — Dê uma chance para o seu coração, o deixe a falar mais alto.

— Acredite, mãe, estou dando essa chance.

— Se não tiver certeza do que sente, não dê esse passo.

— Não se preocupe, sei o que estou fazendo.

— Você pode voltar atrás.

— Se eu achar necessário, não pensarei duas vezes. Não se preocupe, mãe, sei o que estou fazendo. — Pelo menos eu acho.

***

Em casa, sentada no chão da sala brincando com o meu irmão, procuro ocupar a minha mente para não sobrar espaço para pensar na volta de Davi. Nada mudou, ele apenas voltou, vai morar com os pais até achar um apartamento e eu vou continuar a minha vida de onde parei.

— Uma das minhas alegrias é chegar em casa e ver a minha família reunida — pai diz, ele se aproxima, faz um carinho na cabeça do meu irmão e dá um beijo na minha testa.

O meu irmão está entretido jogando no tablet que nem nos dá moral.

— Chegou rápido, pensei que ia demorar.

— Era jogo rápido. Quero aproveitar a família reunida. Cadê sua mãe?

— Na cozinha preparando o jantar. — Faço uma careta pedindo socorro. — Está até animada, diz que vai fazer arroz de forno.

— Melhor ir lá salvar nosso jantar, então.

— Seria bom pai, com medo desse jantar.

— Sua mãe é linda, mas aquelas mãozinhas são um desastre na cozinha.

— Qualquer coisa a gente pede pizza — sugiro. — Melhor que a gororoba da mãe.

— Vou lá verificar a gravidade da situação. Pizza é o plano A. Dou um jeito de derrubar no chão o arroz de forno e pedimos pizza. — Pisca.

— Amém — brinco.

Pai fica me observando, se abaixa e me abraça. Sei que ele está preocupado comigo, mas segundo o manual, ele precisa dar espaço para que eu possa falar.

— Iris, que dia volta para São Paulo? — pergunta ainda abaixando e me olhando.

— Não sei ainda. Eu já fechei as notas, só preciso entregar dois trabalhos finais, aí estou livre.

— Vai assumir o seu lugar no escritório?

— Vou — afirmo. — É o meu lugar, o senhor sabe que eu amo aquele escritório.

— Eu sei, filha. — Respira. — Também sei que daqui seis meses você vai fazer algo que irá se arrepender.

— Pai... — Ele coloca a mão na minha boca, silenciando-me.

— Eu aceito a sua decisão e vou te apoiar. Esse é o meu dever de pai, não está em nenhum manual. Mesmo te apoiando e aceitando a sua decisão, o meu coração de pai sabe que você vai sofrer, mas não tem problema, papai vai estar aqui para te erguer. Só quero que saiba que ainda está em tempo, você pode desistir até último segundo. Eu te ajudo a fugir. — Sorri.

— Obrigado, pai — Abraço-o.

O nosso jantar foi pizza. O pai nem precisou "estragar" o jantar, mãe fez isso sozinha, derrubou a assadeira no chão quando ia tirar do forno. Todos fomos salvos.

***

Acordo cedo, passei quase a noite toda em claro, mesmo que eu não quisesse pensar, a minha mente vagava e lá estava eu pensando nele. Tomo café com a minha família e me arrumo para o almoço em família na casa da tia Cecília e do tio Eros. Vó Marta já ligou cedo, avisando de todas as delícias que está fazendo.

Os meus pais vão na frente. Raul, o meu noivo, ainda não chegou de São Paulo. Ele é um ótimo amigo, um bom companheiro; estudamos juntos e acabamos nos envolvendo. Tenho um carinho especial por ele, sei que não é amor. O meu coração ama apenas uma pessoa, já me conformei com isso. Impossível lutar contra. Raul me pediu em casamento e acabei aceitando, dizer que estou animada é mentira, apenas aceitei. Quem sabe com o tempo, morando juntos, posso começar a gostar dele.

Assim que Raul chega, partimos para o almoço. Eu não deveria, mas estou nervosa, Raul já foi almoçar outras vezes lá, conhece toda a minha família e se sente à vontade, mas hoje é diferente. Ele vai estar lá.

Quando chegamos vamos direto para o jardim, estão todos reunidos, conversando, gritando, cachorro correndo de um lado para o outro. Está aquela bagunça gostosa. Olho para todos os lados e não o vejo.

Sento-me com o Raul do meu lado e ele fala sobre as melhorias que pretende fazer no escritório do pai e da possibilidade de unir os dois escritórios da nossa família depois do casamento. Algo que já avisei que nunca vai acontecer.

O meu coração começa a acelerar, levanto a cabeça e o vejo vindo em nossa direção, com aquele sorriso que tanto amo ver. Davi cumprimenta todos e vem até mim, puxa a cadeira e senta ao meu lado.

— Bom dia, meu raio de sol — diz, com o sorriso que ilumina o meu dia, o meu estado de espirito, ilumina o meu mundo. — Estou de volta e dessa vez é para ficar. — Sorri.

Abro um sorriso, o meu coração infla, a alegria por tê-lo ao meu lado toma conta de mim.

Puro Amor - conto IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora