Final

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Capítulo Final — Iris

Assim que desligo o celular, visto o primeiro vestido que encontro. Quando desço, segurando o meu sapato na mão para não acordar meus pais, Davi está escorado no carro com as mãos no bolso.

— Dessa vez sem tapas. — Abre os braços. — Sorrio, caminho até ele e o abraço. — Antes de sair queria fazer um acordo. Topa?

— Depende — digo desconfiada.

— Sem brigas, sem ofensas, apenas verdades e, principalmente, sem mentiras.

— Respostas para todas as minhas perguntas?

— Sim, tudo o que você deseja. — Beija o topo da minha cabeça. — Perdi muito tempo para o medo, agora não quero perder mais tempo. Pelo menos essa noite, desejo que seja apenas eu e você, apenas Iris e Davi, sem medo, sem receios.

— Eu topo, eu e você. Sem ninguém entre nós.

Entramos no carro e coloca uma música suave para tocar.

— Confesso que passei o dia esperando a noite chegar e agora que estamos juntos não sei o que falar — Davi diz com receio. É evidente que está nervoso, cauteloso com as palavras, talvez com medo.

— Passei anos esperando você voltar, ensaiei tudo o que eu iria falar para você quando o dia chegasse. Agora que você voltou, que está ao meu lado, não sei o que falar.

— Pelo menos não sou o único a me sentir perdido nas palavras — confessa. Davi pega a minha mão e a leva até sua boca, depositando um beijo. — Eu sempre senti a sua falta, isso eu tenho certeza. Por mais longe que eu estivesse de você, em pensamento você sempre esteve comigo.

— Acho que aconteceu o mesmo comigo. Mesmo me recusando a pensar em você, estava ali, caminhando junto comigo, sentia a sua presença, o seu cheiro, tudo.

— Me perdoa por ter feito você sofrer. Nunca foi a minha intenção. Eu só queria...

— Queria que eu vivenciasse tudo o que minha idade permitia viver, que eu fosse livre.

— Era um dos meus principais motivos, não o único. — Estaciona o carro. — Vamos ver as estrelas?

— Vamos.

Davi me ajuda a descer do carro, abre o porta-malas e retira uma manta e uma pequena caixa térmica, além dos pacotes de pipoca doce.

Escolhemos um lugar sem árvores, Davi entende a manta no chão e me ajuda a sentar. Deitamos um ao lado do outro e ficamos olhando para as estrelas.

— Em Nova York sempre me pegava olhando as estrelas, ficava pensando o que você estava fazendo.

— Estava vivendo, existindo, fazendo aquilo que você me permitiu fazer.

— Eu nunca de disse o motivo real da minha partida, mas suas palavras me mostram que você sabe.

— Eu sei. — Viro a cabeça para olhá-lo.

— Sabe?

— Sei. — Volto a olhar as estrelas. — No início não sabia, fiquei perdida. A gente tinha se beijado. Foi o meu primeiro beijo, o melhor presente de aniversário que poderia ter ganhado, fiz vários planos na minha cabeça de adolescente e todos eles você estava junto. De repente eu estava sozinha, não pude me despedir, não entendia o por que tinha ido, por que não me atendia, fiquei perdida.

Ficamos em silêncio.

— Nunca esqueci aquele beijo. — Davi segura a minha mão. — A vi crescer, aos poucos desabrochar para a vida. Te amo desde sempre, não sei ao certo quando comecei a te amar, só sei que esse sentimento sempre esteve comigo. Beijar você foi como um sonho, quando você abriu a boca e me recebeu fui ao céu, mas quando cheguei em casa a gravidade me trouxe de volta a terra. Eu tinha dezoito, você quinze, eu estava entrando na faculdade, você no ensino médio. Você tinha muito o que viver, curtir, conhecer. Não te atendi e não me despedi porque se você me pedisse para ficar eu ficaria, se pedisse para voltar eu voltaria, não ia saber te dizer não.

— Se naquela época tivéssemos ficado juntos não tinha dado certo, eu era inconsequente, agia por impulso — conto. — Você sempre foi o meu ponto de equilíbrio, mas um relacionamento naquela época, não sei como iria funcionar.

— Eu seria um egoísta por cortar suas asas e não te deixar viver, fazer suas próprias escolhas. Prova disso é o curso que escolheu.

— Faria hotelaria apenas para estar junto com você. Era bem cega, não conseguia ver que era o seu sonho e não o meu. — Encaro-o.

— Eu te sufocava, sem saber, não a deixava viver. Por isso parti, só não tinha coragem de voltar e saber que você estava nos braços de outro. Foi isso o que aconteceu. O meu medo se realizou.

— Não adianta estar nos braços de outro sendo que o meu coração pertence a uma única pessoa.

— Iris...

— Eu te amo, Davi, sempre te amei, eu nunca fui boa em esconder esse sentimento, todos sabem. Tentei arrancar isso do meu peito, mas foi em vão. Mesmo longe, a cada dia que passava esse sentimento tomava conta de mim, ao invés de diminuir só crescia cada vez mais. Eu sei que eu teria que te ignorar, fazer você sofrer. Mas pelo contrário, estou aqui abrindo o meu coração.

Viro-me e fico a poucos centímetros do seu rosto, consigo sentir a sua respiração ofegante.

— O medo não permitiu que eu voltasse antes, fui um fraco, mas agora estou aqui, o meu coração está aqui e a única coisa que desejo nesse momento é que me aceite. Prometo te amar, te venerar, te fazer feliz enquanto vida estiver. Peço-te perdão pelas lágrimas que chorou, pela dor que eu causei. Se não me aceitar, vou continuar aqui, amando de longe, te vendo seguir o seu caminho e te apoiando quando necessário. Eu te amo e sempre te amei, sempre vou amar.

Estico a minha mão e acaricio o seu rosto.

— Davi — sussurro e cubro a sua boca com a minha. Fecho os meus olhos e me entrego ao amor da minha vida. — Te amo.

— Você é o meu mundo. — Sorri. — Te amo!

Davi cobre a minha boca com a sua e nos entregamos um ao outro. Dispostos a trilhar nossos caminhos juntos.

O caminho que percorremos para chegar até aqui não foi fácil, não foi cheio de flores, mas é apenas o início. Início de viver o mais puro amor, aquele que estávamos destinados a viver.

FIM!

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⏰ Última atualização: May 16, 2018 ⏰

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