Depois de percas como a de Nina, a tendência é o homem se afastar dos filhos, colocar todas as suas expectativas no trabalho e descontar suas frustrações na bebida.
Mas isso não aconteceu comigo, não me afastei de meus filhos, pelo contrário, estávamos cada vez mais ligados. Luna já era uma jovem mulher, Luiza estava entrando na adolescência e Arthur pronto para ir fazer intercâmbio em um outro país.
Eu trabalhava durante a manhã, voltava pra casa do final da tarde e fazia questão de passar o resto do dia com eles.
Estava pronto para deixar o escritório quando meu telefone toca.
- Marcelo, você pode vir até a minha sala? Quero te apresentar uma pessoa.
- Claro, Henrique.Henrique era meu sócio. Até mais do que isso, ele era um amigão. Nesses três anos após o acidente, era ele quem segurava todas as pontas na empresa quando as crianças tinham febre ou quando eu precisava trocar uma reunião de negócios por uma reunião escolar.
Quando abri a porta, tive uma sensação que há muito não sentia. Tive a surpresa mais agradável da minha vida: Helena.
Ela era linda! Dona de uma graça incomum, tinha traços tão bem desenhados, tão delicados.
Até hoje eu me pergunto como não soltei um "Uau".
- Essa é a minha sobrinha Helena. Helena, esse é o meu sócio Marcelo.
Estendi a mão para cumprimentá-la: Como vai?
Recebi em troca dois beijinhos na bochecha.
- Eu não sei aqui, mas no Rio é assim que a gente se cumprimenta.
Fazia tanto tempo que eu não sentia um perfume feminino. Aliás, não era o perfume... É o cheiro que só as mulheres possuem, algo místico... Enfim, não sei como explicar.
- Ah então você não é de Brasília. Está explicado porque nunca te vi nas reuniões de seu tio.
- Helena nasceu no Rio, mas é filha de americano. Cresceu na Califórnia, estudou a vida toda lá.
- E não perdeu os costumes da cidade bonita?
- Tem coisas que ficam com a gente pra sempre - Ela respondeu sorrindo.
- Te chamei aqui não só pra te apresentar a minha sobrinha, mas pra te apresentar nossa nova diretora de vendas. Helena voltou para o Brasil para trabalhar conosco e substituir o Vladimir que se aposentará esse ano.
- Que bacana! E qual universidade você cursou, Hele...
Fui interrompido pelo toque insistente de meu celular.
- Desculpem, preciso mesmo atender. É a minha filha mais nova.
- Pai? Aconteceu uma tragédia.
- O que aconteceu, Luiza? - Meu coração já estava na garganta.
- Eu... Eu menstruei.
- Filha, menstruação é uma coisa normal. Peça a sua irmã para te ajudar.
- É aí que está a tragédia. Ela não está em casa e aqui em casa só tem absorvente interno.
- E você não pode usar o interno?
- NÃO!!!! Eu não sei como colocar... E se eu colocar no lugar errado?
- Ok, eu já estou indo pra casa.
- Vem logo antes que eu desmaia.
Desliguei o telefone meio constrangido, não havia percebido que conversava tranquilamente um assunto tão íntimo perto de Helena e Henrique.
- Me desculpem. Criar meninas sozinho não é tão fácil. Podemos continuar esse assunto amanhã?
- Claro, Marcelo. Vai socorrer a sua menina - Disse Henrique.
- Então até depois.
Saí da sala tão atordoado que não reparei que Helena estava logo atrás de mim.
- Eiiii, acho que posso te ajudar.
Olhei para ela surpreso.
- Quer que eu te apresente ao mundo dos absorventes?Esse convite foi muito além do que uma simples ida ao supermercado para comprar absorventes.
- Claro... Quer dizer, se não for te incomodar.
- Magina! No seu ou no meu carro?!Compramos os absorventes, ela me explicou que o com abas era melhor e que era bom eu levar um noturno. Seguimos para casa e por alguns instantes eu pensei que a presença dela causaria estranheza a minha filha. Afinal, em três anos eu nunca tinha levado uma outra mulher em casa. Eu nunca tinha ao menos pensado em uma outra mulher... Me peguei olhando as pernas de Helena. Ela usava uma saia não tão curta, uns cinco dedos a cima dos joelhos. Sua pele parecia macia e tão... convidativa?!
- Desculpe, não escutei o que você disse.
- Perguntei a sua idade.
- Ah claro - Balancei a cabeça tentando afastar esses pensamentos e continue: tenho 47 anos. E você?
- 32.
- Achei que você tinha uns 24.
- Que elogio, valeu a pena te ajudar.
- Chegamos.
Desci do carro, abri a porta pra ela e quase supliquei: não repare a bagunça. Entramos em casa e em flash Luiza apareceu.
- VOCÊ TROUXE??? CADÊ??? QUEM É ELA???
Foram tantas perguntas, mas o "quem é ela" me deixou sem nenhuma reação. Quem era mesmo aquela mulher pra mim?!
Helena com toda sua graciosidade, tirou a sacola das minhas mãos e foi até Luiza.
- Eu trabalho com o seu pai, me chamo Helena. Ele não sabia o que comprar e me pediu uma ajudinha, espero que você não fique brava.
Quando voltei a mim, elas já haviam sumido pela casa a dentro.
Foi aí que eu percebi, não era medo de causar estranheza em minha filha. O medo era meu. O que Nina estaria pensando de mim se soubesse como eu desejei poder tocar aquela mulher dentro do meu carro? Minha esposa não estava morta, ela estava em coma. Eu não era um viúvo procurando um novo amor.Não foi só a mim que Helena conquistou de primeira, ela passou algumas horas conversando com Luiza e se tornaram amigas.
- Querida, já está na hora da Helena ir para casa. Você já se aproveitou muito da boa vontade dela - Disse adentrando o quarto de minha filha.
- Que isso, Marcelo. Foi um prazer enorme conhecer a sua filha, mas já está tarde mesmo, é melhor eu ir.
- Ahhh mas já? Lena, você é demais! Adorei te conhecer, obrigada por tudo. Você pode voltar?
- Filha...
- Desculpa, eu tenho essa mania de falar sem parar. Meu pai vive brigando comigo, mas...
- Luiza, é melhor você dar tchau para a Helena.
Elas se abraçam e eu a acompanho até a porta.
- Obrigada por tudo.
- Se precisar, sua filha tem o meu número.
- Ok. Até amanhã então.
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História
RomanceOlá Como algumas pediram, decidi postar. Conforme for escrevendo, vou atualizando aqui. A história ainda não tem nome, aceito sugestões hahaha. SINOPSE Marcelo e Nina, formam um casal apaixonado, pais de três filhos: Luna, Arthur e Luiza. Vivem fe...