Capítulo 4 - Ela voltou

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Fiz amor com ela como nunca havia feito com mulher nenhuma, nem com Nina.
Naquele momento, eu deixei de me martirizar pelo acidente. Depois de cinco anos me lamentando e me culpando todos os segundos do dia. Naquelas duas horas ali, na cama com Helena, eu só conseguia pensar em como tudo aquilo era maravilhoso.
Ela adormeceu nos meus braços, tão frágil e tão linda. O maldito telefone começou a tocar, me despertando daquele momento de paz. Tentei me mover sem acorda-la, mas falhei.
- Alô?
- Papai, você precisa voltar. A mamãe acordou.
Desligo o celular sem conseguir responder. Nina acabara de acordar em um hospital e eu na cama com outra mulher.
- O que aconteceu?- Helena questiona, com a voz ainda sonolenta.
- Eu preciso voltar para Brasília agora. Me levanto em um pulo, recolhendo minhas roupas e me visto como um furacão.
- Aconteceu alguma coisa com as crianças?
- Não exatamente.
- Me conta o que aconteceu, já estou ficando aflita. - Ela me encara com aqueles olhos castanhos e enormes.
Pego minha mala e me preparo pra sair do quarto.
- A Nina acordou.

Helena narrando.

E ele saiu do quarto. Não teve o trabalho de perguntar se eu queria ir junto. Como se eu fosse uma qualquer... Talvez eu seja. Afinal, ele ainda era casado. Nina não havia morrido. É muito errado desejar que isso acontecesse?! Nós nos encaixamos tão bem. Ele era engraçado, gentil e no teste final, o sexo, era fantástico.
Ainda sentia o calor de seu corpo na cama, isso não pode ser normal. Repetia para mim mesma que só tinha sido uma transa, nada pra se preocupar. Eu não estava apaixonada, só foi bom demais. Mas acabou e eu ia voltar para o trabalho, e tudo ficaria como se tivesse sido um vislumbre... Um sonho quente e erótico.
Ri comigo mesma. Levantei sozinha, um silêncio absurdo. Tomei banho e peguei o último vôo para Brasília.
Será que devo mandar alguma mensagem? Peguei o celular e comecei a digitar
"Parabéns! Sua mulher acordou e finalmente você tem sua família de volta" - Apaguei.
"Espero que esteja tudo bem com ela." - Apaguei de novo.
É melhor não mandar nada.
Nas tentativas de pegar no sono,  pensei nos beijos, em todas as vezes que trocamos olhares carregados de: "eu desejo você, só não tenho coragem de dizer". Quando finalmente a coragem chegou, opa, vocês demoraram demais.
Os dias passaram lentamente, nós já não nos cruzavamos nos corredores. Minha secretária acabara de me confidencializar que ele tirou alguns dias de férias para ajudar a mulher a se habituar.
Meu telefone começa a tocar, interrompendo a fofoca. Vejo seu nome no visor.
- Obrigada por me manter informada, Mandy. Espero que a esposa dele fique bem. Agora, você pode imprimir o relatório de sexta de novo para mim? Não sei onde coloquei.
Falei tão rápido, quase expulsando a moça da sala.
Era ele, quando a porta se fechou, não penso duas vezes antes de atender.
- Oi
- Oi - Falo ofegante.
- Preciso te ver.
- É algo sobre a empresa? Me envia um e-mail com a sua dúvida que posso responder por lá.
- Você não está entendendo. Preciso te ver. Te encontro no seu apartamento as 19h?
- Ok.
Ele desliga.
Minhas mãos tremiam.
O que acabou de acontecer? Será que ele também pensa com frequência no que aconteceu naquele hotel?
Fui para casa tentando controlar as batidas do meu coração. E repetia para mim mesma: Calma, ainda pode ser algo sobre trabalho. Por mais que ele aparentemente me deseje, sempre ficou claro como amava a esposa.
Entrei no meu apartamento, sentei. Não vou me arrumar para ele, isso não é um encontro. Mas um banho não vai fazer mal né? Tomar banho não é me arrumar. Quando dei por mim, já estava com três camisolas em cima da cama tentando decidir qual era a mais sexy.
Eu devo estar ficando louca, só pode. Ele vai entrar por essa porta, dizendo coisas sobre porcentagens e juros e eu vou estar semi nua, esperando por algo que só existe na minha cabeça.
Olhei no celular, 18h40.
Olhei de novo 18h50, 18h55.
19h00 em ponto a campainha toca. Pulei da cama.
Tinha escolhido uma camisola preta e longa. Nada muito vulgar porque se ele estivesse ali só por negócios, a vergonha seria menor.
Abri a porta. Nenhuma palavra e um beijo que durou por alguns segundos.
- Eu não consigo parar de pensar em você.

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