4. Onde está a namorada?

1.9K 242 61
                                    

Christopher entrou no grande apartamento no Upper East Side e logo afrouxou a gravata que parecia sufocá-lo aos poucos conforme o dia ia passando. Aproveitou o infortúnio na nova obra para averiguar seus outros empreendimentos.

O Grupo Kyle era um dos maiores de Nova Iorque e o homem tinha planos de expansão para outros estados americanos e posteriormente para o velho continente europeu. Os empreendimentos eram, basicamente, grandes edifícios com salas comerciais para serem alugadas por médicos, jornalistas, advogados, designers de moda e qualquer outra pessoa que precise de um escritório, estúdio ou algo do tipo. Geralmente as grandes empresas alugavam andares inteiros só para eles.

A família Kyle não tinha ficado milionária investindo pouco ou cobrando aluguéis baratos.

Christopher herdou a empresa da família e estava extremamente satisfeito com o próprio progresso. Era workaholic e se orgulhava bastante disso. Seu tempo era dividido entre investir na bolsa de valores americana e comandar o Grupo Kyle.

No seu raro tempo livre, gostava de jogar tênis em um clube muito seleto de Nova Iorque.

E admitia, sem vergonha alguma que, ao final das partidas e após alguns copos de whisky, ele acabava fechando negócios com alguns figurões americanos. Sendo assim, acabava trabalhando até no seu tempo livre.

Christopher abriu uma garrafa de whisky – das tantas que havia em seu minibar na grande sala de estar.

O apartamento era gigantesco para alguém que morava sozinho e às vezes parecia solitário, mas ele não ficava muito tempo ali para se deixar levar por sentimentos tão profundos.

Assim que bebeu o primeiro gole da bebida que poderia ser amarga para algumas pessoas, ele se deixou sorrir levemente. Caminhou até uma das janelas e observou a vista privilegiada que tinha do Central Park e de boa parte da cidade.

Ao olhar para os prédios que pareciam tão distantes atrás do manto verde, ele lembrou-se da engenheira maluca que havia conhecido pessoalmente.

Annette Isla Britch era como uma peça rara em um grande museu. Excêntrica, bela e por mais que você observasse atentamente por minutos, não conseguiria saber de todos os detalhes por trás de tamanho sucesso.

Quando foi atrás de referências da equipe número um da Construtora Bergman, ele ouviu, por mais de uma vez, que a engenheira era uma "figura". Todos elogiavam a simpatia e disponibilidade da mulher, diziam que ela era muito flexível nas relações profissionais.

Chris soltou um riso baixo com essa constatação. Pensou que realmente tem que ser muito flexível para manter uma mentira tão grande por dois anos. Uma mentira que já durava vinte e quatro meses. Setecentos e trinta dias.

Ele não era a favor de mentiras, mas não era nenhum santo. Já havia mentido uma vez ou outra na vida. Quem nunca?

Mas era diferente de manter algo por tanto tempo, era cruel enganar alguém assim.

Balançou a cabeça negativamente e bebeu mais um gole da bebida alcoólica. A mentira da senhorita Britch não era um problema dele, não deveria nem estar pensando nisso.

Olhou para o Rolex prateado que estava em seu pulso.

— Sete horas da noite... — murmurou sozinho e fez as contas mentalmente para o fuso horário japonês.

Após terminar o seu tradicional copo de whisky da sexta-feira, decidiu que precisava averiguar um certo investimento que dava muito trabalho.

Sentou-se no grande estofado acinzentado que tomava boa parte da sala e pegou o celular que estava no bolso da calça. Somente ao sentar ele sentiu o real cansaço do dia.

As Mentiras de Isla Britch | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora