26. A Carta e o Fim

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Isla viajou para Melbourne na Flórida com Ana e Emma. As duas iriam oficialmente se mudar para Nova Iorque e precisariam acertar documentos, transferências, recomendações de emprego e se preparar para uma nova vida mais agitada e longe da pacata cidade natal.

— Paul está de acordo com a mudança? — Isla questionou dentro do táxi que seguia para a casa da irmã.

— Ele aprovou a ideia, ficou combinado que Ana passa as férias com ele e alguns feriados prolongados — Emma comentou olhando a paisagem que passava rapidamente pela janela do veículo.

Sentia saudades de casa, mas não o suficiente pra fazê-la mudar de ideia sobre as mudanças muito necessárias na vida.

— Ele sabe sobre... — Isla deixou no ar e a sobrinha fez uma careta.

— Ele sabe, mas ignora. É como se eu tivesse contado uma piada, sabe? Ele riu, deu dois tapinhas nas minhas costas e disse "esses jovens e suas brincadeiras" — a garota revelou dando de ombros. — Acho que ele só vai parar de negar quando me ver namorando uma garota.

— Cada um tem um tempo de processamento, vamos aguardar o do seu pai — Emma disse calma.

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Isla caminhou pelo bairro da irmã com tranquilidade. A cidade não era nada como Manhattan e a engenheira sentia uma brisa gostosa de verão bagunçar seus fios enquanto caminhava pela calçada.

As casas todas semelhantes com suas cercas de madeira e jardins bem cuidados deixavam claro que o bairro era familiar e acolhedor.

Isla caminhava a esmo sozinha já que Emma e Ana estavam ocupadas com questões burocráticas de mudança e seus pais estavam chegando à cidade com o trailer. Iriam todos viajar para Orlando em um maldito trailer, mesmo com os protestos bem nervosos de Isla.

Iam para a Disney, ficar uns dias em Orlando para aproveitar todos os parques possíveis e depois retornariam para Nova Iorque, ou para estrada — no caso dos pais.

A engenheira suspirou ao perceber que enquanto mentaliza as férias inegavelmente esquisitas, estava fazendo o caminho da sua antiga casa. Era quase inconsciente, quando percebia seus pés já estavam seguindo à risca o trajeto que o cérebro havia criado.

Ela parou de frente com uma pequena confeitaria e cruzou os braços analisando a arquitetura da loja. As pilastras de madeira que seguravam a varanda e o jardim modesto haviam sido mantidos, mas o restante do local não lembrava em nada a casa que um dia Isla chamou de lar.

Notou pelo grande vidro da entrada que o local estava movimentado com uma quantidade razoável de clientes. Ela sempre ficava ali, observando de longe a confeitaria, sem coragem para entrar.

Eram muitas lembranças, e por melhores que fossem, ela não queria entrar ali e perceber que o seu quarto havia virado o estoque do local. Não entrar significava manter uma esperança dentro do próprio peito, uma chama que brilhava com a imagem perfeita da casa como era antes, com seus cheiros e sons característicos.

A mulher sorriu ao observar uma criança que estava lambuzada com o glacê e corria com a irmã mais nova entre as mesas de madeira do estabelecimento.

No fim, Isla percebeu que ali ainda tinha alegria, ainda tinha família, pessoas rindo, trabalhando... Havia mudado a estrutura, mas o clima familiar e afetivo continuava no ar e isso ela conseguia perceber agora.

Quando olhou novamente para o jardim, o local em que Amélie faleceu, ela sentiu uma brisa mais forte atingir seu rosto e sorriu.

Deu as costas uma última vez para o local e retornou para o seu caminho. Sentia que algo havia sido finalizado ali e o peito estava mais leve.

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