43- Mini-Conto: Despertando com você, naquela nossa Estação de trem.

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Despertando nas asas do silêncio ou do barulho, encontrei você.
Não me importa mais nada.
Você é o meu Anjo Amigo.
Não sei como foi.
Mas eu te vejo.
Te vejo todos os dias.
Sim. Eu enxergo você.
Sinto o seu pensar chegando a mim, mesmo em meio ao meu caos.
Isso.
Eu sei que sabe dos meus caos.

Sinto seu olhar pairando sobre mim.
Lento e profundamente, a dissecar minha alma, todos os dias.
Distantes assim.

Mas agora, hoje, juntos.
Naquela mesma Estação de trem, que eu vinha todos os dias e não entendia.

Olha!
Meu trem deu uma parada! Falei em pensamento.

Eu que pedi para parar.
Para eu descer e encontrá-lo, conforme havíamos combinado.

A sua mente sempre adivinhava meus pensamentos.

O trem já estava vazio. Eis que olhei para os lados e me dei conta que vinha em minha direção o maquinista.
Um senhor um pouco já idoso e cansado.

Ele veio em passos rápidos até mim, ofegante, sentou-se de frente  nos assentos, e disse-me respeitosamente:

— Senhora, estou muito cansado.
Ah! Um café e um cochilo nesse inverno aqui fora e aqui em meu coração. Já me aqueceria.
Vi seu amigo ali fora.
Vá andar um pouco com ele.

Você aceita esse acordo entre nós, agora firmado?, indagou-me sorrindo.

— Mas, ele já está lá fora? Não o vejo! Está nevando muito aqui nessa estação que estamos. Eu respondi.

— Não vês em minha face?
Vivo só, todos os dias a lembrar de minha amada esposa, que falecera ainda meio nova. Por isso ainda não me aposentei.
Preciso dos trens e trago sempre uma foto dela, para ficar olhando, durante o trajeto.

— Está bem, senhor-disse já pegando meu casaco e com um sorriso enorme e ruborizado na minha face-, eu vou.
Voltarei logo.

Ele tornou a me chamar e dizer:
— Por favor, não tenha pressa!
Vá ver o resto do Sol um pouco com seu amigo.
Ele me parece estar ansioso, lá fora a lhe esperar!

Vai aquecer um pouco esse seu coração.
Já estou muito cansado.
Nem se preocupe comigo.

Ele dizia e sorria muito para mim, e deitou-se no assento, segurando a foto da sua amada esposa.

Eis que meu coração começou a bater e bater cada vez mais forte, parecia que ia sair pela "boca".

Cheguei trêmula na escada.
Ele já estava ali.
E me puxou pela mão.
Éramos dois perfeitos sonhadores.

Eu sorri e brinquei com ele:
— Mas onde vamos, senhor?
Olha essa nevasca do horário!

— E acaso importa onde vamos?
Ele disse com seu velho sorriso maroto de sempre. Mas olhava fixamente em meus olhos.

—Não. Não importa! Eu respondi.

— Então trate de correr igual na época de criança, hein!
Venha me pegar!

E saiu quase voando dali.

— Eu sei correr, sabia Dom Juan?

— Então vem! Ele ria e olhava para trás, já há uns metros de distância.
E a neve cobrindo ele inteiro.

Eu fui. Com meu pesado casaco e gorro e corri deliciosamente, igual às crianças fazem-e ele fazendo igual-, observava-o e ria muito.

Nunca a neve naquela estação havia sido tão linda e fofa, caindo no meu rosto.
E eu nem a sentia, digo, nem sentia a temperatura gélida que ela estava àquele horário, já de final do dia. Naquela estação de trem daquele lugar que estávamos.

Gritei para ele ouvir:
-Não aguento mais! Estou exausta!E caí no chão com toda aquela neve, entrando até na minha boca, que hoje me era tão fofa e a mais linda que eu já havia presenciado.

— Já estou indo aí!
Não vai ter um infarto!
Ele me dizia lá de longe, gritando também e rindo alto e quase tropeçando, correndo ao meu encontro.

Eu estava de olhos fechados, deixando aquela neve gelada, já a me cobrir inteira.

Mas abri os olhos, ele vinha correndo e de repente,  já estando próximo a mim, tropeçou em algo.

E caiu em cima de mim, quase me amassando na neve.
Ele estava ofegante.

— o Nem acredito ainda, que você realmente veio me encontrar, nessa estação que todos querem fugir nessa época do ano, aqui nesse país gelado.
Acho que quem vai infartar sou eu.
De tamanha saudade e emoção.

Ele me dizia, olhando seriamente em meus olhos e com o mesmo sorriso bobo que o meu.

Sorrimos juntos.
Demos gargalhadas.
Então, nos entreolhamos fixamente.

Lembrei do senhor maquinista, no seu já cansado cochilo.

Então despertei.
Era um sonho.
Eu tinha esse sonho todas as noites.

Eu tinha esse sonho todas as noites

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