Sexta-feira

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Os dedos do garoto batucavam repentinamente em cima da mesa, enquanto ouvia o professor de literatura explicar sobre o novo conteúdo em que começaram a estudar. Não faltava muito para que o sinal batesse e finalmente estaria "livre" daquele inferno, ou como todos chamam...escola. Não era como se ele não estivesse acostumado, mas ultimamente sua ansiedade estava atacando de uma maneira bem prejudicial, que só acontecera assim quando tinha por volta de seus dez anos de idade, que foi onde passou a frequentar um hospital psiquiátrico devido também a distúrbios e alucinações.

Mas, se esses problemas voltarem a ressurgirem, então ele tinha um grande prejuízo consigo, pois a primeira vez, o garoto tinha sua mãe para lhe ajudar. Ela era praticamente seu escudo, de onde retirava suas forças para continuar, juntamente com seu pai. Podia-se até arriscar dizer que eram uma família perfeita ou quase. Mesmo sendo uma criança inexperiente sobre a vida, ele tinha uma fortaleza que deixavam todos ao redor de queixo caído, devido a tanto sorrisos em meio a turbilhões de problemas. E fora assim durante toda a sua infância até boa parte de sua adolescência.

Quando seus pensamentos começaram a lhe martirizar, como sempre faziam quando estava distraído, o barulho do sinal ecoou por toda a escola, indicando que a aula havia terminado. Para muitos, aquilo era um grande alívio, mas para Kellin, era como se estivesse saindo de um inferno para ir para outro. Sua casa. Como sempre, ele esperou que todos saíssem da sala para depois levantar e guardar seus materiais, agradecendo mentalmente por não ter ficado ninguém ali, como acontecia algumas vezes, fazendo perguntas desnecessárias sobre seus hematomas ao redor dos olhos e, quando esquecia sua blusa de frio, os arranhões e machucados que também marcavam seus braços.

Ele já estava acostumado a escutar piadinhas e até mesmo ser surrado pra fora da escola quando as aulas acabavam, não era como se ele gostasse, mas não poderia fazer nada a respeito, já que em sua mente, eram consequências de uma morte que ele causou. Assim que seus materiais já estavam dentro da mochila, ele a pôs no ombro, sentindo um pequeno frio percorrer por sua barriga e em seguida encarou a porta, caminhando até lá em passos largos saindo da sala, enquanto seu olhar era fixo ao chão. Kellin notou algumas pessoas no corredor e tratou imediatamente de acelerar um pouco mais seus passos tentando sair o mais rápido possível das vistas delas, o que dificilmente acontecia quando ele era o alvo de piadas constrangedoras. Uma de suas mãos segurava a alça de sua mochila que estava no ombro, enquanto a outra, segurava a alça que estava pendurada.

- Olha só, o viadinho da escola.

- ai oh, o time feminino está precisando de mais uma garota...porque não chamam ela? - Ele escutou algumas pessoas debocharem de si e escutou também algumas risadinhas do mesmo tom com olhares em sua direção, que o fez morder o lábio inferior e engolir um seco, tendo uma mexa de seu cabelo tampando uma parte do rosto.

A pressa em seus movimentos era evidente, tanto que não percebeu que vinha alguém em sua direção, a qual esbarrou fazendo com que os livros que a pessoa segurava caíssem no chão, trazendo a tona vários gritos e vaias. Kellin conseguiu sentir suas bochechas queimarem, enquanto o desespero ia tomando conta de seu corpo.

- D-desculpe, p-por favor... - Sua voz saiu num sussurro quase inaudível.

Ele abaixou sentindo sua cabeça rodar devido aos gritos e o movimento repentino. Assim que esticou seu braço para pegar o livro que parecia maior, sentiu um peso por cima de sua mão e uma dor agonizante em seus dedos. O cara no qual havia esbarrado estava pisando nela.

- Isso é pra você aprender a olhar por onde anda, idiota! - ele berrou com uma enorme carranca em seu rosto.

Kellin reprimiu um gemido assim que o garoto forçou a bota que calçava contra a sua mão, retirando em seguida, o fazendo agradecer mentalmente e segurar as lágrimas que queriam descer.

𝑴𝒚 𝑰𝒏𝒏𝒆𝒓 𝑯𝒆𝒍𝒍 {;𝑲𝒆𝒍𝒍𝒊𝒄;}Onde histórias criam vida. Descubra agora