"I'm Sorry"

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"Boa sorte, Luke". Palavras quase sussurradas proferidas de maneira tão gélida que... Na verdade, eu nem sei dizer o que aconteceu.

Me senti vazio, como nunca antes. Um vazio que, paradoxalmente, preencheu meu corpo. Geralmente, eu teria vontade de derrubar a mesa, gritar, ter um ataque de fúria, mas dessa vez eu só tinha vontade de chorar. Um amargo na garganta causava secura na minha boca.

Mentalmente, eu me autodepreciava com adjetivos do tipo "covarde!", ao mesmo tempo que eu tentava me encorajar, dizendo: "Levanta! Vai atrás dela!", mas por fora eu nem me mexi.

Percebi que uma lágrima caiu sobre a mesa. Uma no meio de tantas outras lágrimas silenciosas que, até o momento, eu nem sabia ter expelido.

Por Jade

Eu sabia que não deveria, mas eu parei em um bar ali perto e bebi algumas, muitas, doses pra esquecer o que tinha acontecido.

A indiferença de Luke com as palavras mais sinceras que eu já havia dito a ele. Saí de lá, porque senti que estava me humilhando.

As lágrimas voltaram assim que eu entrei no carro que eu havia alugado. Engraçado como a mente humana é irônica. O mesmo cérebro que dizia pra eu não dirigir naquele estado, foi o mesmo que me fez pisar no acelerador, logo depois de ligar o carro violenta e bruscamente.

Saí, rumo ao nada, com um frio na barriga sinistro pelas estradas desconhecidas da Austrália.

Minha visão estava turva e nublada. Nublada como o céu que anunciava uma tempestade. Resolvi procurar no GPS uma forma de voltar.

Eu só percebi que vagava por horas, porque onde eu estava antes tinha o céu limpo e azul e aquele local que eu estava naquele momento mostrava que ía cair um pé-d'água.

Eu estava bêbada, triste, tonta, perdida, chorando. Na fossa mesmo, mas eu fiquei com sono e, o sono misturado a todas essas coisas e o volante não dão certo. Minha visão escureceu e eu só lembro de ouvir uma buzina e ver um clarão.

Por Luke

Eu estava me odiando mais do que nunca por não conseguir tirar a imagem da Jade saindo daquela lanchonete e, automaticamente, da minha vida.

Eu deixei o amor da minha vida ir embora. Sim. AMOR. Eu amo a Jade. Muito jovem, muito burro pra perceber que meu amor se declarou pra mim e eu silenciosamente dei um fora na pessoa mais importante da minha existência todinha.
Idiota. Realmente, eu era um idiota.

Repentinamente, eu ouço batidas na porta. Não batida normais. Batidas desesperadas. Sequei as lágrimas rapidamente e fui atender. Era o Andy, meu amigo fotógrafo que me ajudou a encontrar a Jade, mas ele não parecia bem. Ele estava pálido como se tivesse visto um fantasma.

– Luke, aconteceu um acidente. – minha mente me levou diretamente à Jade.

– Cadê ela? – meu olho se encheu de lágrimas novamente.

– Entra no carro. – nem tranquei a casa, apenas saí em direção ao carro esperando ele explicar o que estava acontecendo.

– Onde ela está? – falei chorando dentro do carro.

– Em um hospital, é um pouco longe. Me disseram que o carro que ela estava bateu de lado com uma carreta.

– Uma carreta?

– Sim, mas foi do lado do passageiro. É menos grave. – eu sabia que aquele "menos grave" não mudava muita coisa.

– Andy, eu não sou mais criança, ela tá bem? – ele respirou fundo e eu também.

– Não. Ela estava fazendo uma cirurgia agora. Ela perdeu muito sangue. Ligaram pra produção avisando. Nem sei como tudo aconteceu, mas ela vai ficar bem?

– Como você sabe? – falei chorando que nem louco.

– Eu não sei. Você tem que ter fé.

– E se ela não resistir? – a essa altura eu já estava gritando com o rosto todo molhado e vermelho. – E eu? O que eu faço? Eu não vou conseguir... – abaixei minha cabeça apoiando-a com minhas mãos e murmurei: – Sem ela eu não consigo.

Senti a mão trêmula de Andy afagar minhas costas. Meu telefone tocou, era o Michael.

– Onde você está? – ele perguntou alterado.

– Tô indo pro hospital.

– Tem notícias dela?

– Ela tá fazendo uma cirurgia... Mike? – minha voz rouca me fazia parecer louco e eu realmente estava. – Me ajuda. Sem ela eu não sei o que...

– Luke, você não vai perdê-la. Eu vou chegar em alguns minutos. Você tem que ser forte. Ela vai precisar. – desliguei o telefone porque as fungadas desesperadas eram vergonhosas, mas eu não conseguia detê-las.

Se eu não tivesse sido covarde... Se eu tivesse dito... Por que não comigo? Jade não merecia ela tinha uma certa arrogância, mas no fundo era a menina mais meiga dessa Terra.

Descobri isso depois de cavar e encontrar a real Jade. A menina calma, que falava baixo, às vezes, de forma quase inaudível. A garota cuidadosa e carinhosa que se escondia atrás do corpo de um mulherão. A menina insegura, por vezes, até depressiva apaixonada por música Indie e R&B.

A maioria conhecia a Jade baladeira, histérica que não se importava com quem a tocava intimamente. Tudo fachada. Ela era fofa, apaixonante. Um ser humano incrível e eu não podia dizer isso porque ela não escutaria.

Se eu pudesse ouví-la me chamando de idiota por uma última vez...

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Eu não sei como ela foi capaz, mas ela se enfiou no fim do mundo. Depois de mais de 40 minutos, finalmente, chegamos no hospital.

A recepcionista informou que ela ainda estava na mesa cirúrgica e que não sabia o quanto demoraria. Nos mandou ir para a sala de espera e logo um médico iria nos dar mais informações.

Eu já estava morrendo de angústia. Mike, Cal, Ash já tinham chegado também e nada de informações. Já tinha anoitecido e eu sabia que, provavelmente, metade do planeta, inclusive os pais dela, já sabiam do acidente. Preferi desligar meu telefone.

Lembrei das duas noites que eu acordei do lado dela. Em uma, ela dormia como um anjo aconchegada em meu peito, as pernas trançadas nas minhas e pouca roupa. Foi difícil me desvencilhar dela sem acordá-la.

No outro dia, eu acordei com seu cafuné gostoso em minha nuca, que doía da ressaca. Eu adoraria ter aquela visão e ouvir aquela voz de quem acabou de acordar todos os dias da minha vida. Todos. Sem excessões.

– Como ela está? – me levantei rapidamente quando vi o doutor chegar perto e os outros me seguiram.

– Você é o quê da paciente? – boa pergunta que eu não fui capaz de responder.

– Somos todos amigos dela. – Ash respondeu afagando meu ombro.

– Bom, a Jade chegou aqui já sem vida. – não, não, não. Não pode ser! Voltei a chorar. – Mas nós conseguimos fazê-la retornar.

Suspirei aliviado e senti a mão de todos os meninos pelas minhas costas.

– A Jade teve duas paradas cardíacas durante a cirurgia que ainda está sendo feita. – senti a tensão percorrer cada célula do meu corpo de novo. – Eu vim pra avisar que nós não temos mais esperanças. – terminei de desabar. – Se vocês tiverem alguma crença, agarrem-se nela. Conseguimos fazê-la voltar, mas eu não sei se o coração dela suportaria qualquer outro tipo de parada. Eu sinto muito. – o médico voltou pro corredor de onde tinha surgido e eu fui abraçado pelos meninos.

A Junção De Todas As Cores || L.H.Onde histórias criam vida. Descubra agora