Fuga

18 2 1
                                    

Olhei para Zaki e o mesmo percebeu minha expressão de preocupação. Desci até eles e nos entramos na casa, estava difícil de enxergar, algumas velas estavam apagadas. Subimos as escadarias e vimos as duas garotinhas filhas  do senhor nos braços da mãe, encolhidas no canto da sala. Estavam apavoradas.
Uma delas me olhou nos olhos fixamente. Mas logo nosso contato foi cortado por barulhos vindos de fora, era mais homens, capatazes ...eu subi e os escravos  desceram pra tentar deter os capatazes.
Um grito vindo do segundo andar me assustou, subi sozinho e rápido a longa escadaria e me deparei  com Freya com uma arma apontada para o dono do Casarão.
Ela estava com muito ódio, pude sentir isso ...ele estava imóvel de mãos para cima, implorando por sua vida. Eu não podia deixa-la fazer isso. 
- FREYA!!! NÃO! - gritei me aproximando .
Ela se virou pra mim abaixando a arma, o Senhor vendo uma oportunidade de fuga a puxou pelos cabelos, fazendo a mesma deixa a arma cair no chão.  Com uma faca no pescoço dela a deixava imóvel.
- Anjo idiota- riu o dono do casarão .
Naquele momento me senti realmente impotente ...Freya tinha razão ...aquele homem merecia morrer.
Puxei uma flexa e me preparei pra atirar.
- Vamos, atire ...eu morro mas eu rasgo o pescoço dessa imunda- falou ele apertando a faca no pescoço dela.
Eu perdi a reação ...ela me olhava pedindo ajuda e eu era fraco demais ...
Um tiro invadiu o silêncio, o senhor que segurava Freya caiu no chão com um tiro na testa. Olhei pra trás e vi Zaki. Freya correu até ele que a abraçou.
  - POR QUE VOCE NÃO FEZ NADA?- gritou Zaki me olhando fixamente .
- E...eu ...- fiquei sem palavras .
- Vamos sair daqui logo Zaki - falou um outro escravo.
Saímos de lá o mais rápido possível nos adentramos na floresta, o pé de Freya sangrava e mancava um pouco, mas era impressionante como ela conseguia suportar a dor .
Encontrando os outros no rio, e saímos de lá direto ao norte ...onde estaria a nossa barraca, seria uma viagem demorada mas, seria preciso.
Freya não disse uma palavra desde que saímos de lá. Andamos a noite toda até que as crianças não aguentaram mais, resolvendo parar um pouco pra descansar e comer.
O sol já havia nascido, o clima estava um pouco quente, não foi preciso caçar já que eles trouxeram suprimento quando fugiam. Eram espertos e pareciam estar felizes com tudo aquilo.
- Ei, você é um anjo?- uma garotinha perguntou tocando minhas asas .
- Sou ...eu acho- falei me virando pra ela.
- Existem anjos negros ? Nós temos alma... não é?
A frase dela veio seguido de uma lágrima que decia sobre seu rosto .
- Qual seu nome?
- Núbia.- falou a mesma tímida.
- Sim, existem anjos negros ...não deixe ninguém dizer que sua cor ...te faz inferior.
Ela me olhou confusa.
- Quero dizer ..que você tem alma, sua cor ou a minha ...isso não importa .
- Qual seu nome ? - perguntou ela se sentando .
- Meu nome é Sam- falei pegando uma flor e dando a ela.
Ela era tão pequena, devia ter cinco anos. Parecia ser cheia de esperança, diferente de muitos ali que pareciam não acreditar em nada, traziam dor ...sofrimentos nos olhos...na alma. Já haviam sofrido muito, agora estavam livres ...livres de tudo aquilo.
Fui em direção aos outros homens que estavam conversando em um canto.
- Nós precisamos ir agora, não podemos correr o risco de ficar parados aqui- disse um deles .
- você sabe pra onde estando indo ? -perguntou Taú.
- Sim, estando indo pra um lugar, onde não vão nos encontrar. Devemos levar alguns dias pra chegar- falei
- Entendo.
- Vamos, todos se levantem. Temos que ir agora.- Zaki anunciou .
Continuamos naquela caminhada eu estava ansioso, meu coração estava apertado, Freya me evitava até no olhar, e isso me deixava irritado.


Cupidos do reversoOnde histórias criam vida. Descubra agora