a monotonia de londres

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o frio que, por meio de uma janela aberta, fazia um jiyong adormecido no sofá estremecer fez com que mais um calafrio percorresse seu corpo encolhido. e, gradativamente, ele começou a distinguir os sons sutis que percorriam a sala: o tic tac do relógio, o assovio do vento, os miados manhosos de seu gato. a percepção repentina do mundo real — que o kwon trocou por um mundo de sonhos ao adormecer naquela tarde — o atingiu em cheio, fazendo com que seu coração pulasse em um salto e ele abrisse os olhos num igual salto. que horas são? o que aconteceu? como eu peguei no sono?

a primeira visão que o sul-coreano teve foi a da parede para onde o sofá estava voltado. apertou os olhos, sentindo que as coisas lentamente voltavam a fazer sentido.

ele tinha adormecido após cinco minutos olhando a maldita parede branca.

não é que jiyong não gostasse daquela parede. ele gostava, mas a achava tediosa demais. vazia. chata. desprovida de interesse. ela era inteiramente branca, sem um único detalhe que chamasse atenção. não combinava em nada com o gosto do rapaz pelo que era vibrante e chamativo.

mas a parede não parecia se importar com o desgosto de jiyong.

o som alto de uma trovoada fez com que ele desviasse a atenção para a janela, que, escancarada, dava-lhe a visão da chuva que assolava a cidade naquela tarde de terça-feira. jiyong já tinha perdido a conta de todas as vezes em que havia chovido desde que ele havia se mudado para londres: praticamente todos os dias contavam com um céu nublado e o rapaz se viu sentindo falta do sol, da iluminação e da vibração. ele comparava o cinza de londres com a iluminação de seul a cada vez que olhava pela janela, desacostumado com a falta de movimentação que marcava a capital. era algo que o dito cujo poderia ter feito durante a tarde inteira se seu telefone não tivesse tocado.

a voz de lee seunghyun era tranquila enquanto jiyong conversava com ele do outro lado da linha. ao menos, seu dongsaeng falava diretamente do outro lado de londres, e não do outro lado do mundo. seunghyun tinha vindo para o reino unido junto com o kwon, a fim de ajudá-lo com o inglês e com a peaceminusone, marca de roupas de sua propriedade cujo alcance chegou até uma grande e conhecida metrópole europeia. essa era a nominação que ecoava com orgulho em sua cabeça e, vez ou outra, arrancava-lhe um pequeno sorriso. a peaceminusone era um dos maiores orgulhos de toda a vida de jiyong e o principal motivo para a sua estadia na cidade marcada pela monotonia.

dado um momento de silêncio entre a conversa dos dois, jiyong simplesmente soltou:

— você não acha que a parede daqui ficaria melhor se eu a pintasse de vermelho?

de novo essa coisa da parede? — o pobre seunghyun já estava cansado de jiyong reclamar da parede branca. seu hyung não era do tipo que reclamava de tudo, e era exatamente por esse motivo que era esquisito que uma simples parede branca tivesse a capacidade de tirá-lo do sério. — hyung, você cismou com essa parede.

— gosto de coisas que tenham a ver comigo. e essa parede não tem nada a ver comigo. — retrucou o mais velho, um argumento irrefutável.

— pintar vai dar trabalho. sei lá, se você quer decorar, coloque um quadro. arte é arte.

jiyong, um cara preguiçoso, concordou com seu dongsaeng.

ele tinha essa mania disfarçada de desejo de virar as coisas com as quais tinha contato ao avesso. gostava de pintar com tons vibrantes coisas que até então não tinham cor. seria assim com a parede branca e o quadro que a tamparia, seria assim com londres e a peaceminusone.

porque jiyong transbordava uma arte apaixonante demais para se agarrar à monotonia das cores pastéis.

colors; kwon jiyongOnde histórias criam vida. Descubra agora